Brasil tem 60 mil cirurgias cardiovasculares atrasadas por falta de materiais

Estado de Minas Gerais é o mais afetado pela crise no abastecimento, segundo levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular

Da Redação, com Rádio Bandeirantes e BandNews TV

O Brasil tem cerca de 60 mil cirurgias cardiovasculares atrasadas por falta de materiais, de acordo com o levantamento realizando pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. As informações são da repórter Bruna Barboza, da Rádio Bandeirantes, no BandNews TV

A ajudante de cabeleireiro Rosilda Magalhães, de 55 anos, sente tontura e mal-estar várias vezes ao dia. Com falta de ar, ela não consegue usar máscara, o que, na pandemia, a impede de fazer o básico, como ir sozinha ao mercado.

Rosilda tem um problema no coração que precisa ser tratado com uma cirurgia de troca de válvulas. Todos os exames já estão prontos desde o ano passado. Já são sete meses aguardando o retorno do hospital. 

“Eu não estou trabalhando porque se eu faço algum esforço físico eu passo muito mal. O posto de saúde fica a três quarteirões da minha casa e eu não consigo ir andando.  O médico diz que não tem remédio e eu tenho que parar tudo e deitar. Eu fico pálido e não fico mais sozinha, minha filha sempre está comigo”, contou. 

Rosilda mora em Minas Gerais, o estado mais afetado pela crise no abastecimento de materiais usados em cirurgias cardíacas.

O levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular em 9 estados indicou que somente na capital mineira há 400 novos pacientes todos os dias na fila aguardando uma data para o procedimento.

Faltam válvulas, oxigenadores, próteses e materiais usados em cirurgias de ponte de safena e aneurismas. São dois os principais motivos da falta de insumos: a alta do dólar e a defasagem na tabela do SUS.

Dessa forma, os fornecedores não conseguem repassar sem prejuízo e os hospitais nem sempre conseguem arcar com a diferença, especialmente por causa da pandemia.

Segundo o presidente da SBCC, Eduardo Rocha, cerca de 60 mil procedimentos eletivos estão atrasados. Isso não só agrava o problema, mas coloca a vida do paciente em risco.

“O que acontece quando adia a cirurgia? O coração do paciente vai sofrendo no período e quando ele for tratado e resolvido ele vai ser operado em piores condições. Existem doenças cardíacas que podem cursar com o aumento da mortalidade pelo risco de morte súbita, por exemplo, as doenças coronarianas e a estenose aórtica. Adiar o procedimento é colocar o paciente em risco”, explicou Rocha. 

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular afirma que alertou o Ministério da Saúde em outubro de 2020, mas não obteve retorno. Das 60 mil cirurgias atrasadas, 40 mil deveriam ter sido feitas no ano passado.

O represamento dos procedimentos pode, também, sobrecarregar ainda mais o sistema de saúde pós-pandemia.

“Primeiro nós vamos ter o número enorme de gente represada, que não fez a cirurgia na hora certa e vai ser operada em piores condições. Nós vamos ter também pessoas que tiveram mortes nesse período, outros por terem comorbidade vão sofrer o Covid-19 com consequências maiores. Com certeza, essa cirurgia vai ser de mais risco. Possivelmente a mortalidade global da cirurgia cardíaca brasileira no ano que vem vai ser maior que nos anos anteriores da pandemia, porque vamos operar pacientes em piores condições”, disse Rocha.

Ministério da Saúde

Procurado, o Ministério da Saúde afirmou à Rádio Bandeirantes que a compra de insumos é de responsabilidade das unidades de saúde e gestores locais.

Em nota, a pasta diz que a tabela SUS apresenta valores de referência e que estados e municípios podem repassar valores maiores do que os contidos na tabela para os hospitais. O Ministério diz, ainda, que solicitou a realização de um estudo para avaliar um reajuste.

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