O Brasil vive uma situação preocupante no cenário internacional frente à pandemia do novo coronavírus. A avaliação foi feita nesta quinta-feira (22) por especialistas durante o Conexão BandNews com The New York Times, que debateu o tema “O que esperar do mundo pós-pandemia?”.
O painel “Ciência & Saúde” contou com as presenças de Dimas Covas (diretor do Instituto Butantan), Miguel Nicolelis (neurocientista), Rubens Belfort Mattos Jr. (presidente da Academia Nacional de Medicina), Paulo Chapchap (diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês) e Jamil Chade (correspondente BandNews).
Segundo Nicolelis, o mundo quer entender o tamanho da responsabilidade do Brasil na pandemia. Ex-coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, o neurocientista destacou erros não apenas do País, como também da Índia.
“A maior pergunta que eu ouço ao longo dos últimos meses é se o Brasil é uma ameaça para o mundo. E tanto o Brasil como a Índia estão sendo colocados na pauta da imprensa mundial com a possibilidade de variantes que sejam criadas pela pandemia fora de controle no Brasil e na Índia possam gerar uma ameaça global”, destacou.
“A imprensa mundial já se deu conta de todos os grandes erros cometidos no Brasil e se preocupa com a possibilidade de a pandemia no mundo não poder ser controlada se ela não for controlada no Brasil – e mais recentemente, nessa segunda onda, na Índia.”
Para Paulo Chapchap, o Brasil é, ao lado da Índia, um “covidário”. A resposta dos dois países à Covid-19, segundo ele, pode dificultar o fim da pandemia no mundo, especialmente por causa do surgimento de variantes do vírus.
“Além das máscaras, o distanciamento físico é fundamental na contenção da pandemia. Se não fizermos isso, dependemos totalmente de uma imunidade de toda a população, que não atingiremos. É provável que nós precisemos de outras doses de vacina para aumentar o efeito, então demoraríamos muito tempo. Nós demoraremos muito tempo para termos uma resposta imunológica consistente o suficiente para abrirmos mão da utilização de máscaras e do distanciamento físico”, destacou.
“Se não fizermos um distanciamento físico e a utilização de máscaras, nós nos tornaremos um verdadeiro experimento, um caldo de cultura para o desenvolvimento de variantes. E essas que estão aí não são as piores que poderão vir. As variantes de agora são de maior infectividade, de maior contagiosidade, mas não parecem ser de maior letalidade.”
Vacinação
O Brasil começou a vacinar contra a Covid-19 em janeiro, aplicando dois imunizantes na população: a CoronaVac (fabricada pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac) e a Oxford/AstraZeneca (fornecida no Brasil pela Fiocruz). Para Dimas Covas, é importante que, mesmo com a vacinação, a população continue tomando cuidados.
“A questão da vacina começa a assumir um protagonismo de discussão e coloca, em segundo plano, a questão do enfrentamento da pandemia como se todos os problemas fossem resolvidos com a vacina. A vacina, não há dúvida nenhuma, é uma arma importante. Mas, nesse momento, as outras armas são mais relevantes”, analisou.
“Temos que enxergar o universo de vacinação nessa perspectiva. Antes de esperarmos o efeito da vacina, que já está acontecendo, mas é um efeito mais lento. É um afeto que vai produzir os seus resultados no segundo semestre certamente. Mas até lá temos um período crítico de enfrentamento do vírus, e esse enfrentamento tem que ser feito com base em outras medidas”, completou.
Covas destacou ainda a pressão “enorme” sobre o Instituto Butantan, justamente diante da grande demanda por vacinas no Brasil.
“Fomos um dos primeiros a oferecer vacinas ao nosso Ministério da Saúde, em julho do ano passado, e só fomos contratados de fato pelo Ministério em janeiro desse ano. E veja só: de 7 de janeiro até esta semana, entregamos em torno de 42 milhões de doses. Quer dizer, o Programa Nacional de Imunização começou com a vacina do Butantã e, nesse momento, é a principal vacina”, registrou o diretor do instituto, lembrando que a demanda por imunizantes é internacional. Para Covas, os brasileiros ainda enfrentarão uma escassez de vacinas no primeiro semestre.
“Cobrar do Butantan que entregue as suas vacinas o mais rapidamente possível é legítimo. Mas obviamente precisamos de outras vacinas em um momento em que o mundo tem poucas vacinas para entregar ao Brasil. Apesar de nós termos um discurso oficial que foram contratadas 400, 500 milhões de doses, precisamos que esses contratos se traduzam em vacina no braço do brasileiro. E, na minha perspectiva, nós vamos ainda gastar um pouco de tempo para que isso aconteça de forma efetiva.”