O Brasil segue na liderança do ranking de países que mais matam pessoas trans no mundo pelo 14° ano consecutivo, de acordo com o relatório de assassinatos e violências contra travestis e transexuais em 2022 divulgado nesta sexta-feira (27) pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
No ano passado, ao menos 151 pessoas trans foram mortas. O número é composto, em maioria, por assassinatos (131), e suicídios (20). De 2017 a 2022, período em que a pesquisa foi realizada, 912 assassinatos de pessoas trans e não binárias foram registrados. Os casos são divididos de acordo com as datas de registro, levando em consideração que 2017 foi o ano com o maior número de casos na história.
- 179 casos em 2017;
- 163 casos em 2018;
- 124 casos em 2019;
- 175 casos em 2020;
- 140 casos em 2021;
- 131 casos em 2022
Das 131 pessoas trans assassinadas em 2022, 130 eram travestis e mulheres transexuais e um homem trans. Em relação a 2008, ano em que a ONG Transgender Europe (TGEU) começou o monitoramento global, o ano indicou o número mais baixo de casos relatados, saindo de 58 para 131 em 2022, ano que revelou o aumento de 126% nos assassinatos. Isso significa que, a cada ano, os números registrados sempre se mantêm acima da média - desde o primeiro dado analisado nas pesquisas.
Estados que mais matam
Ainda de acordo com o relatório, São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro são as cidades que aparecem entre as primeiras posições no ranking de assassinatos de pessoas trans no Brasil. Entre 2017 e 2022, por exemplo, São Paulo foi o primeiro da lista com 116 casos.
- 1. São Paulo - 116 casos;
- 2. Ceará - 84 casos;
- 3. Bahia - 79 casos;
- 4. Minas gerais - 69 casos;
- 5. Rio de Janeiro - 67 casos;
- 6. Pernambuco - 59 casos;
- 7. Paraná - 42 casos;
- 8. Pará - 37 casos;
- 9. Goiás - 33 casos;
- 10. Amazonas, Mato Grosso e Paraíba - 31 casos
Perfil das vítimas
Entre os 131 casos registrados em 2022, 37 não registravam a idade das pessoas trans. Entre as vítimas, cinco tinham entre 13 e 17 anos. Outras 49 tinham entre 18 e 29 anos. Confira a lista:
- 49 vítimas tinham entre 18 e 29 anos;
- 30 vítimas tinham entre 30 e 39 anos;
- 7 vítimas tinham entre 40 e 49 anos;
- 2 vítimas tinham entre 50 e 59 anos;
- 1 vítima com 60 anos
Durante a pesquisa, raça e etnia foi um dos principais pontos analisados em relação ao perfil das vítimas. Em 2022, das pessoas que tiveram a identidade racial definida, 76% das vítimas eram travestis/mulheres trans negras. O número é ainda maior quando analisado de 2017 a 2022, quando a média de pessoas trans negras assassinadas chegou a 79,8%. Em relação a pessoas brancas, o número cai para 20%. Apenas uma pessoa travesti indígena foi assassinada nos últimos dois anos.
Dos 131 casos registrados, 130 eram travestis/mulheres trans. Ainda de acordo com o levantamento, a motivação dos crimes tem relação direta com a feminilidade das vítimas - que representam 99% dos casos. Em 2017, 169 casos foram contra travestis e mulheres trans. Em 2018, 158 casos; 129 em 2019; 175 em 2020 e 135 em 2021.
Dessa forma, foi possível identificar que apenas 23 casos de assassinatos aconteceram contra homens trans e pessoas trans masculinas nos últimos seis anos. O número representa 2,5% da totalidade dos casos. Por outro lado, travestis e mulheres trans estão entre os 889 casos, 97,5% do total. Desta forma, uma pessoa trans feminina chega a ter 38 vezes mais chances de ser assassinada no Brasil.
De acordo com o projeto de pesquisa Trans Murder Monitoring (TMM), iniciado em 2008, o Brasil é classificado como o país que mais mata pessoas trans no mundo. O dado aponta que 68 dos casos aconteceram na América Latina e Caribe. Dos 4.639 assassinatos registrados pela ONG Transgender Europe (TGEU), entre 2008 e 2022, 1.741 foram no Brasil. Isso significa que, sozinho, o Brasil acumula 37,5% das mortes. México e Estados Unidos ocupam a segunda e terceira posição, respectivamente.