Vídeo mostra catadores sendo pagos com pinga na região da cracolândia, em SP

Empresa flagrada nas imagens vende materiais para a maior recicladora de alumínio do mundo

Por Lucas Martins

A Band obteve imagens que mostram catadores sendo pagos com doses de cachaça em um ferro-velho localizado no centro de São Paulo. O vídeo faz parte da operação Saúde e Dignidade do Gaeco, o grupo do Ministério Público estadual que combate o crime organizado e está investigando os casos de exploração na região. 

Nas imagens, um catador entra no galpão da Minas Reciclagem e entrega fios de cobre e peças de alumínio, que, segundo o MP, haviam sido furtados. O atendente pesa e recolhe os materiais e oferece o “pagamento”: duas doses de pinga, que o homem bebe de uma vez.

O relatório da operação traz ainda notas fiscais de compra de bebidas alcoólicas pela empresa. Foram quase 1.500 garrafas em apenas uma aquisição. 

De acordo com os promotores, a Minas Reciclagem vende o material recolhido ou furtado pelos catadores – em sua maioria dependentes químicos – para a Novelis, a maior recicladora de alumínio do mundo. Foram identificadas 53 transações que totalizam quase meio milhão de reais em repasses da multinacional para uma pessoa física, o dono do ferro velho.

“Embora a empresa Novelis promova imagem de preocupação com a sustentabilidade, os elementos trazidos revelam que adquire, em tese, materiais de recicladoras e ferros-velhos irregulares que operam na região central de São Paulo”, diz o relatório do MP.  

Outro vídeo mostra um homem que havia acabado de furtar uma peça de um equipamento eletrônico roendo os fios com os dentes para poder desencapá-los e conseguir trocar por cachaça. Mais um revela dependentes circulando entre os materiais recicláveis sem nenhuma proteção, inclusive com a presença de crianças. Segundo o MP, os trabalhadores estão “em condições de escravos modernos”. 

Em postagem no X, o antigo Twitter, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, falou sobre a revelação do Ministério Público e disse que, diante da gravidade do fato, determinou que a “ouvidoria da pasta acione as autoridades competentes, bem como a empresa Novelis, a fim de que preste esclarecimentos".

Mais do que nunca, um fato como esse reforça a necessidade de um política de direitos humanos e empresas no Brasil. 

Em nota, a Novelis afirmou que "repudia veementemente a conduta atribuída ao fornecedor em questão, com quem rompeu com toda e qualquer relação comercial". A multinacional reforça que não é investigada pela operação e que está colaborando com as autoridades.

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