A Band obteve imagens que mostram catadores sendo pagos com doses de cachaça em um ferro-velho localizado no centro de São Paulo. O vídeo faz parte da operação Saúde e Dignidade do Gaeco, o grupo do Ministério Público estadual que combate o crime organizado e está investigando os casos de exploração na região.
Nas imagens, um catador entra no galpão da Minas Reciclagem e entrega fios de cobre e peças de alumínio, que, segundo o MP, haviam sido furtados. O atendente pesa e recolhe os materiais e oferece o “pagamento”: duas doses de pinga, que o homem bebe de uma vez.
O relatório da operação traz ainda notas fiscais de compra de bebidas alcoólicas pela empresa. Foram quase 1.500 garrafas em apenas uma aquisição.
De acordo com os promotores, a Minas Reciclagem vende o material recolhido ou furtado pelos catadores – em sua maioria dependentes químicos – para a Novelis, a maior recicladora de alumínio do mundo. Foram identificadas 53 transações que totalizam quase meio milhão de reais em repasses da multinacional para uma pessoa física, o dono do ferro velho.
“Embora a empresa Novelis promova imagem de preocupação com a sustentabilidade, os elementos trazidos revelam que adquire, em tese, materiais de recicladoras e ferros-velhos irregulares que operam na região central de São Paulo”, diz o relatório do MP.
Outro vídeo mostra um homem que havia acabado de furtar uma peça de um equipamento eletrônico roendo os fios com os dentes para poder desencapá-los e conseguir trocar por cachaça. Mais um revela dependentes circulando entre os materiais recicláveis sem nenhuma proteção, inclusive com a presença de crianças. Segundo o MP, os trabalhadores estão “em condições de escravos modernos”.
Em postagem no X, o antigo Twitter, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, falou sobre a revelação do Ministério Público e disse que, diante da gravidade do fato, determinou que a “ouvidoria da pasta acione as autoridades competentes, bem como a empresa Novelis, a fim de que preste esclarecimentos".
Mais do que nunca, um fato como esse reforça a necessidade de um política de direitos humanos e empresas no Brasil.
Em nota, a Novelis afirmou que "repudia veementemente a conduta atribuída ao fornecedor em questão, com quem rompeu com toda e qualquer relação comercial". A multinacional reforça que não é investigada pela operação e que está colaborando com as autoridades.