O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem deve prestar depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira (17) e vai ter que esclarecer o áudio em que o ex-presidente Jair Bolsonaro tenta blindar o filho, o senador Flávio Bolsonaro, no inquérito das rachadinhas.
O áudio é de uma reunião que aconteceu no Palácio do Planalto, encontrado no celular de Ramagem durante as investigações que apuram a existência de uma Abin paralela e de espionagem ilegal no governo Bolsonaro.
Na gravação, Ramagem, Bolsonaro e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno conversam com duas advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O diálogo ocorreu em agosto de 2020, quando elas buscavam medidas para tentar anular a investigação contra o parlamentar, que foi investigado por "rachadinha" no seu gabinete quando ele ocupou o cargo de deputado estadual. Em 2021, a investigação foi anulada pela Justiça.
Bolsonaro chega a afirmar na reunião que nunca sabia se estava sendo gravado.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, Alexandre Ramagem afirmou que Bolsonaro tinha conhecimento de que a conversa seria gravada com objetivo de registrar um crime contra o ex-presidente.
"Essa gravação não foi clandestina. Havia o aval e o conhecimento do presidente. A gravação aconteceu porque veio uma informação de uma pessoa que viria na reunião, que teria contato com o governador do Rio à época [Wilson Witzel], que poderia vir com uma proposta nada republicana. A gravação seria para registrar um crime contra o presidente da República, só que isso não aconteceu. A gravação foi descartada!", justificou.
Ramagem também afirmou que as advogadas de Flávio apresentaram "possíveis irregularidades" que estariam ocorrendo na parte da investigação que envolvia a Receita Federal e sugeriram a atuação do GSI. O ex-diretor declarou que foi contra a sugestão.
O que diz a defesa de Flávio Bolsonaro
Segundo a defesa do senador Flávio Bolsonaro, o “áudio mostra apenas minhas advogadas comunicando as suspeitas de que um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal e com objetivo de prejudicar a mim e a minha família”.
“A partir dessas suspeitas, tomamos as medidas legais cabíveis. O próprio presidente Bolsonaro fala na gravação que não “tem jeitinho” e diz que tudo deve ser apurado dentro da lei. E assim foi feito. É importante destacar que até hoje não obtive resposta da justiça quanto ao grupo que acessou meus dados sigilosos ilegalmente”, acrescentou em nota.