Milícia em SP: prefeitura sugere prisão de GCM em notícia-crime enviada ao MP

Reportagem exclusiva da Band mostra gravações de promessas feita por guarda civil a comerciantes do Centro de São Paulo em troca de pagamentos

Por Lucas Jozino

Tropa de elite da GCM em ação na Cracolândia
Reprodução/TV Band

A prefeitura de São Paulo enviou uma notícia-crime ao Ministério Público (MP-SP) em que sugere a prisão preventiva do guarda civil metropolitano (GCM) Elisson de Assis, suspeito de liderar um esquema criminosos que se assemelha à milícia. O Jornal da Band revelou, com exclusividade, como os investigados agiam.

A notícia-crime é um requerimento feito às autoridades competentes, a exemplo da polícia e MP, quando alguém toma conhecimento de um ilícito. Para a prefeitura, Elisson é suspeito da prática de peculato, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de milícia.

Na prática, o guarda civil prometia apoio de viaturas da corporação para quem comprasse o serviço. Após a denúncia, exibida em reportagem da Band na última segunda-feira (5), a prefeitura afastou sete agentes.

Nossa equipe apurou que o MP investigará o esquema. A atuação dos GCMs acontecia na região da Cracolândia, no Centro de São Paulo, dominada pelo tráfico, dependentes químicos, assaltos e arrastões. Isso faz com que os comerciantes da área sofram com a violência, o que afasta a clientela.

Dono de empresa de segurança

Elisson também é dono de uma empresa de segurança privada, a Law and Force Monitoramento, aberta em setembro de 2022. Ele cobrava pelo fornecimento de segurança para moradores e comerciantes do Centro da capital.

Com o apoio da força de segurança da GCM, ele remanejava o chamado "fluxo" da Cracolândia de uma rua para outra e coagia os moradores e comerciantes da região liberada a pagarem uma taxa para manter a área livre de usuários de drogas. Quem não pagava, era vítima de vandalismo e intimidação.

Um comerciante ouvido pelo Jornal da Band comentou:

Ou paga ou arca com as consequências, ou tem gente na sua porta, entendeu?

Em mensagem de áudio, Assis afirmava como a equipe dele agia para retirar os dependentes químicos das ruas de comércio.

Na (rua) Duque de Caxias, lá com a gente, ali é o miolo, né? Você viu, né? Todos aqueles comércios são nossos contratantes. Tinha em torno de 300 usuários na rua, mano. Tiramos, tudo na base do segurança. Tinha 300 ali, irmão. O que eu tenho para te apresentar é isso: são os próprios comerciantes, irmão. Conversa com qualquer um e pergunta "Como era um ano atrás, sem a ‘empresa’?". A melhor pessoa pra te apresentar é o próprio contratante.

Na conversa, os termos usados por Elisson, como "empresa" e "contratante", não são à toa, dada a empresa de segurança que abriu.

Eu tenho nota fiscal, eu tenho uma empresa. Então a cada 15 dias, se você preferir, eu acho que fica até melhor, não fica pesado. Faz o PIX, se quiser recibo eu dou, se quiser nota fiscal eu dou, se quiser que faça contrato, eu faço também, entendeu? A única coisa que eu não faço, colega, é coisa errada.

Só que a lei municipal 13.530, de 2003, do Código de Conduta da GCM de São Paulo, proíbe guardas civis de participarem da gerência ou administração de empresa privada de segurança.

Os pagamentos feitos por comerciantes e moradores vão para outra empresa, a Stive Monitoramento, em nome de Mayara Ximenes Nascimento, que seria uma laranja de Elisson. Ambos os negócios têm dois meses de diferença na data de abertura e ficam no mesmo endereço: o prédio residencial onde Elisson mora, na zona Norte de São Paulo.

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