O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta quarta-feira (23), por videoconferência, na sessão plenária da cúpula dos Brics, que acontece em Kazan, na Rússia.
Lula iria participar de forma presencial no encontro do bloco na Rússia, porém precisou cancelar a viagem por recomendação médica após sofrer um acidente doméstico no Palácio da Alvorada, em Brasília, no último sábado (19).
No discurso, Lula falou sobre as guerras no Oriente Médio, citou a taxação dos super-ricos, voltou a cobrar países ricos pela crise climática e moeda alternativa ao dólar para transações entre países do bloco.
Guerras no Oriente Médio
Lula fez críticas a escalada dos conflitos no Oriente Médio e afirmou que a Faixa de Gaza se tornou “o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo”. Ele também citou o conflito entre Rússia e Ucrânia.
“Como disse o presidente Erdogan (da Turquia) na Assembleia Geral da ONU, Gaza se tornou ‘o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo’. Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano. Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia”, pontuou Lula.
“No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”
Crise climática
Durante o discurso, Lula voltou a cobrar os países ricos por crise climática e defendeu que o Brics “é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima”.
“Não há dúvida de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje. É preciso ir além dos 100 bilhões anuais prometidos e não cumpridos, e fortalecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos. Os dados da ciência exprimem um sentido de urgência sem precedentes. O planeta é um só e seu futuro depende da ação coletiva”, disse Lula.
Para o brasileiro, também cabe aos países emergentes fazer sua parte para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC.
Taxação dos super-ricos
Em discurso, o petista voltou a abordar iniciativas que considera cruciais para a redução das desigualdades, como a taxação dos super-ricos e agradeceu o respaldo dos países.
“Nossos países implementaram nas últimas décadas políticas sociais exitosas que podem servir de exemplo para o resto do mundo”, afirmou o presidente, que também convidou aos países para se juntarem à aliança global contra a fome.
Acesso à vacina
Lula disse que não “podemos aceitar a imposição de ‘apartheids’ no acesso a vacinas” e medicamentos, como ocorreu na pandemia, e nem no desenvolvimento da Inteligência Artificial, “que caminha para tornar-se privilégio de poucos”.
“Precisamos fortalecer nossas capacidades tecnológicas e favorecer a adoção de marcos multilaterais não excludentes, em que a voz dos governos prepondere sobre interesses privados”, declarou Lula.
Economia
Para Lula, o Brics foi responsável por parcela significativa do crescimento econômico mundial nas últimas décadas. “Representamos 36% do PIB global por paridade de poder de compra. Contamos com 72% das terras raras do planeta, 75% do manganês e 50% do grafite”, disse.
Ele citou que as importações brasileiras para os países do bloco cresceram 12 vezes entre 2003 e 2023, que representa, atualmente, quase um terço das importações do Brasil.
Além disso, Lula pontuou que Aliança Empresarial de Mulheres está criando redes para fomentar o empoderamento econômico feminino e combater as desigualdades de gênero.
“Por meio do Mecanismo de Cooperação Interbancária, nossos bancos nacionais de desenvolvimento vão estabelecer linhas de crédito em moedas locais, que reduzirão os custos de transação de pequenas e médias empresas”, declarou o petista.
Moeda alternativa para transações
Para o presidente brasileiro, chegou a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre os países do bloco. “Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, afirmou.
“Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada”, continuou.