O julgamento do incêndio na Boate Kiss, em Porto Alegre, entra em seu terceiro dia. Quatro depoimentos estão marcados para esta sexta-feira (3), entre eles o do gerente da loja de fogos onde os artefatos acessos na boate foram comprados. Também serão ouvidas uma testemunha do cantor da banda e uma vítima da tragédia (siga o julgamento no vídeo abaixo).
Nesta quinta (2), a espuma que revestia o teto da boate e pegou fogo no incêndio foi o centro das atenções no julgamento. O engenheiro que depôs durante quase cinco horas, fez o projeto acústico da Boate Kiss foi chamado como testemunha.
Ao juiz, Miguel Angelo Pedroso disse que foi contra o uso de espuma para abafar o som da casa noturna. Ele indicou outros materiais, como tijolo e fibra de vidro.
Em seguida, o sobrevivente Lucas Cauduro, que trabalhava como DJ no local, também foi questionado sobre a espuma inflamável e de como ele conseguiu deixar a boate. Ele se emocionou, disse que desmaiou, foi pisoteado e não se lembra de como saiu da Boate Kiss.
Mais de 100 familiares das vítimas estão no tribunal acompanhando o julgamento. No banco dos réus estão o produtor musical Luciano Bonilha, o músico da banda gurizada Fandangueira Marcelo de Jesus dos Santos; e os sócios da boate, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann.
Eles respondem por homicídio simples com dolo eventual, quando se assume o risco de matar.
A tragédia
No palco da Boate Kiss, em 27 de janeiro de 2013, se apresentava a Banda Gurizada Fandangueira, quando um dos integrantes disparou um artefato pirotécnico, atingindo parte do teto do prédio, que pegou fogo. São réus Elissandro Callegaro Spohr, sócio da boate; Mauro Londero Hoffmann, também sócio; Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da Banda Gurizada Fandangueira, e Luciano Bonilha Leão, produtor musical.
A tragédia, que matou principalmente jovens, marcou a cidade de Santa Maria, conhecido polo universitário gaúcho, e abalou todo o país, pelo grande número de mortos e pelas imagens fortes. A boate tinha apenas uma porta de saída desobstruída. Bombeiros e populares tentavam, de todo jeito, abrir passagens quebrando os muros da casa, mas a demora no socorro acabou sendo trágica para os frequentadores.
A maior parte acabou morrendo pela inalação de fumaça tóxica, do isolamento acústico do teto, formado por uma espuma inflamável, incompatível com as normas de segurança modernas, que obrigam a instalação de estruturas produzidas com materiais antichamas.
Desde o incêndio, as famílias dos jovens mortos formaram uma associação e, todos os anos, no dia 27 de janeiro, relembram a tragédia, a maior do estado do Rio Grande do Sul e uma das maiores do Brasil.