Nos domicílios onde há crianças abaixo de 10 anos, o índice de insegurança alimentar é de 37,8%. Na prática, três em cada 10 família nessa situação têm menos comida do que o mínimo necessário. Os dados são da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), divulgados nesta quarta-feira (14).
Os estados do Norte e Nordeste são onde estão as famílias com maior insegurança alimentar, quatro em cada 10, onde a fome tem formas mais severas (moderada e grave). O Maranhão registra o pior percentual, 63,3%, seguido do Amapá, 60,1%, e Alagoas, 59,9%.
A fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos, passando de 9,4%, em 2020, para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a fome atinge 25,7% dos lares. Já nos domicílios apenas com moradores adultos, a segurança alimentar chegou a 47,4%, número maior do que a média nacional.
A segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II VIGISAN), da Rede Penssan, com dados coletados de novembro de 2021 a abril de 2022, mostra que 33,1 milhões de brasileiros passam fome.
O número de domicílios com moradores em situação de fome saltou de 9% (19,1 milhões de pessoas) para 15,5% (33,1 milhões de pessoas) em pouco mais de um ano.
Os domicílios investigados são categorizados da seguinte forma:
- Segurança alimentar: acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem comprometer outras necessidades essenciais;
- Insegurança alimentar (IA) leve: preocupação ou incerteza em relação ao acesso aos alimentos no futuro, bem como a qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade deles;
- IA moderada: redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante de falta de alimentos;
- IA grave: fome – sentir fome e não comer por falta de dinheiro para comprar alimentos e fazer apenas uma refeição ao dia ou ficar o dia inteiro sem comer.
Fome x auxílios sociais
A insegurança alimentar moderada e grave cresceu, inclusive nos domicílios que recebiam auxílio financeiro dos programas Bolsa Família e Auxílio Brasil. Na faixa de renda de menos de meio salário mínimo por pessoa, a fome é uma realidade para 32,7% das famílias que relataram o recebimento dos benefícios e para 29,4% das que não o receberam.