Família de Marielle se emociona após condenações: 'Prometemos que honraríamos o seu sangue'

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram condenados a 78 e 59 anos pelos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes

Por Clara Nery

Familiares e amigos de Marielle Franco participaram de um ato pelas ruas do Rio de Janeiro, na noite desta quinta-feira (31), após a condenação de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz pelos assassinatos da vereadora e do motorista Anderson Gomes.

Estiveram na manifestação Anielle Franco, irmã de Marielle; Luyara Franco, filha da vereadora; Mônica Benício, viúva da parlamentar; e Marinete e Antônio, os pais.

Após 6 anos e meio de investigação e mobilização pública, os ex-policiais militares foram condenados a 78 anos e 9 meses e 59 anos e 8 meses de prisão, respectivamente.

Ato com apoiadores de Marielle (Foto: REUTERS/Tita Barros)

Anielle, que atua como ministra da Igualdade Racial, compartilhou imagens do julgamento nas redes sociais e disse que “o Brasil fez história”. 

“O Brasil deu um recado de que não permite que nenhuma mulher, pessoa negra, LGBTQIAPN+, periférica e favelada seja tombada por ocupar a política”, escreveu. 

Nós prometemos que honraríamos o seu sangue.

Como foi o julgamento

O 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro ouviu ao todo nove testemunhas, entre elas: a assessora de Marielle, que também foi vítima do atentado, familiares da vereadora e de Anderson, especialistas em perícia e ex-colegas dos réus.  

Os depoimentos foram cruciais para construir uma narrativa detalhada sobre o planejamento e a execução do crime, expor as motivações por trás dos assassinatos, além de mostrar os sofrimentos causados às famílias da parlamentar e do motorista.

Segundo a acusação, Marielle foi morta devido à sua atuação política em defesa dos direitos humanos e pelo enfrentamento que fazia às milícias cariocas, das quais Lessa e Queiroz faziam parte.

A justiça, por vezes, é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta, mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que, como os acusados, acham que jamais vão ser atingidos pela justiça. Com toda a dificuldade de ser interpretada e vivida pelas vítimas, a justiça chega aos culpados e tira deles o bem mais importante depois da vida, que é a liberdade. A justiça chegou para os senhora Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz”, começou a juíza Lucia Glioche, que preside o 4º Tribunal do Juri.

"Os senhores foram condenados pelos jurados do 4º Tribunal do Júri da Capital a 78 anos de prisão e 9 meses de reclusão e 30 dias multa para Ronnie e 59 anos prisão e 8 meses de reclusão e 10 dias de multa para Élcio. Os dois também saem condenados a pagar até os 24 anos do filho de Anderson Gomes, Arthur, uma pensão. Ficam os dois condenados a pagar juntos 706 mil reais de indenização por dano moral para cada uma das vítimas, Arthur, Ágatha, Luyara, Mônica e Marinete. Mantenho a prisão preventiva deles e nego o direito deles recorrerem da decisão em liberdade", completou a magistrada.

Próximos passos

Apesar da condenação de Lessa e Queiroz, várias questões ainda permanecem sem resposta, como a confirmação da identidade dos mandantes do crime e o contexto exato que motivou o assassinato. Em declarações recentes, autoridades do Ministério Público do Rio de Janeiro asseguraram que as investigações continuam ativas para desmantelar a rede de milícias que operam no estado e que possivelmente estariam ligadas ao caso.

Os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão estão presos apontados como mandantes dos assassinatos, além do ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa. O processo tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

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