O presidente Jair Bolsonaro disse em discurso durante evento do Ministério do Turismo que quer desobrigar o uso de máscaras para quem já foi infectado com a Covid-19 e pessoas que foram vacinadas.
"Acabei de conversar com um tal de Queiroga, não sei se vocês sabem quem é, nosso ministro da Saúde. E ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados", afirmou ele. O presidente não explica, entretanto, como seria feita a fiscalização de quem está apto a andar sem máscara.
Bolsonaro voltou a criticar as medidas restritivas impostas por governadores e prefeitos e disse que "a quarentena é para quem está infectado".
Pouco tempo após as falas, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga comentou a possibilidade de abandonar o uso de máscaras no Brasil.
"Queremos que seja o mais rápido possível, mas precisamos vacinar a população brasileira e avançar", justificou. Depois, ele postou um vídeo dizendo que recebeu pedido do presidente um estudo para flexibilizar o uso de máscaras.
Cientistas questionam medida que pretende desobrigar uso de máscaras
Especialistas discordam da posição do presidente Jair Bolsonaro, que disse ter pedido ao ministro da Saúde para que divulgasse um parecer desobrigando o uso de máscaras para quem já foi contaminado pela Covid-19 ou vacinado contra a doença.
Para o infectologista Jamal Suleiman, do Hospital Emílio Ribas, não é viável desobrigar o uso de máscaras agora.
“Se estivéssemos vacinados, poderia. Afinal de contas, o uso da vacina é para que a gente fique livre do uso de máscara. Ocorre que só temos 11% da população imunizada. Falar isso neste momento é para tirar o foco de atenção”, disse o infectologista à BandNews FM.
Assessoria de “gabinete paralelo”
O presidente confirmou no discurso a existência de assessoramento com pessoas de fora do governo, o que ficou conhecido como gabinete paralelo: "E o que a CPI levantou numa live que eu, uns 30 médicos, entre eles a Nise Yamaguchi (...) Pessoas que estavam buscando salvar vidas e não se acomodando debaixo da cama em casa, como muitas autoridades pelo Brasil. Isso para a CPI agora é gabinete paralelo, que estão aconselhando o presidente. Muitas pessoas me aconselharam".
Um dos membros desse gabinete, que dava conselhos médicos a Bolsonaro para combater a pandemia, era Arthur Weintraub, ex-assessor do presidente que é advogado. O presidente não poupou elogios a Weintraub: "Não errei uma sequer. E não foi da minha cabeça, foi conversando com pessoas como um anônimo entre nós até o momento, o Arthur Weintraub (...) Uma mente privilegiada. Trazia documentos para mim, pesquisas, fazia contatos, e a gente foi aprendendo o que era aquilo".
Mesmo sendo o segundo país com mais mortos pela Covid-19, com 482 mil óbitos, Bolsonaro voltou a defender o tratamento precoce e remédios com ineficácia comprovada, como a hidroxicloroquina e ivermectina.
"Se nós seremos, poderemos ser, não estou afirmando, um dos países com os menores números de mortes por Covid. Por que isso aconteceu? Tratamento precoce", desinformou o presidente.
Bolsonaro voltou a falar sobre o falso relatório que contesta o número de mortes pela doença. O Tribunal de Contas da União afastou e investiga o servidor responsável pela criação do documento.
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