A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro pediu ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acesso aos depoimentos dos ex-comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior.
O pedido de Bolsonaro é para ter acesso ao material que compõe a investigação da Operação Tempus Veritatis, onde Bolsonaro e auxiliares diretos, incluindo militares do alto escalão do governo, planejaram um golpe de Estado que seria deflagrado após a derrota do ex-presidente na eleição de 2022.
Os advogados já têm acesso ao inquérito, porém querem ter acesso à “atualização dos autos” com“ termos de declarações relativos às últimas oitivas realizadas”, ou seja, incluindo os depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica.
“Diante do significativo progresso nas investigações, notadamente com a obtenção de depoimentos cruciais ocorridos nas últimas duas semanas, requer-se a atualização dos autos com a juntada dos termos de declarações relativos às últimas oitivas realizadas, incluindo aqueles referentes às oitivas dos ex-comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, para que se possa obter cópias atualizadas do presente Inquérito”, diz trecho da solicitação da defesa do ex-presidente enviada ao ministro Alexandre de Moraes.
Na sexta-feira (1º), o general Freire Gomes prestou depoimento como testemunha à Polícia Federal e durou mais de sete horas. Um dos mais longos do inquérito. Fontes ligadas ao ex-comandante disseram que ele afirmou à PF que os acampamentos nas portas dos quartéis pedindo intervenção militar não foram desmobilizados a mando do então presidente Jair Bolsonaro.
Freire Gomes confirmou o que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, já havia declarado em delação: houve uma reunião, com a presença de Bolsonaro, onde uma minuta considerada golpista pela PF foi apresentada aos chefes das forças. Apenas o comandante da Marinha, Almirante Garnier, teria topado a aventura.
Investigação da Polícia Federal
As apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.
O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.
O segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, por meio de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.
“O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal”, informou a PF. Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.