O presidente Jair Bolsonaro justificou a negativa do governo federal à ajuda humanitária oferecida pelo governo da Argentina para auxílio das vítimas das fortes chuvas que atingem a Bahia neste fim de ano. Em postagens nas suas redes sociais nesta quinta-feira (30), o mandatário se pronunciou dizendo que o “fraterno oferecimento argentino” foi recusado neste momento já que as Forças Armadas e a Defesa Civil estavam prestando a assistência que foi oferecida pelo país vizinho.
“A avaliação foi de que a ajuda argentina não seria necessária naquele momento, mas poderá ser acionada oportunamente, em caso de agravamento das condições. A resposta do Ministério das Relações Exteriores à Embaixada Argentina é clara a esse respeito”, disse no texto dizendo que o oferecimento argentino era para trabalho de almoxarife e seleção de doações, montagem de barracas e assistência psicossocial.
O presidente disse que o governo brasileiro está aberto para doações internacionais, citando o envio de barracas de acampamento, colchões, cobertores, lonas e purificadores de água oferecidos pela Agência de Cooperação do Japão (JICA).
A recusa aumenta o histórico de divergências entre Bolsonaro e Alberto Fernández, presidente argentino. Ligado à esquerda, o líder do país vizinho se encontrou recentemente com o ex-presidente Lula.
A oferta previa o envio de uma delegação de 10 técnicos especializados em desastres naturais para auxiliar os baianos, com profissionais com expertise em logística, água, saneamento básico e ajuda psicossocial. A recusa da autorização para a missão humanitária foi informada pelo consulado argentino na Bahia ao governo estadual na última quarta-feira (29). Os custos para a vinda e manutenção dos “Capacetes Brancos” seriam bancadas pelo governo brasileiro.
A recusa ao auxílio argentino foi bastante criticada por opositores e se soma ao fato de o presidente não estar acompanhando a ajuda à Bahia nos locais das cheias. Após o agravamento da situação, ele mandou cinco ministros (Desenvolvimento Regional, Saúde, Turismo, Mulher, Família e Direitos Humanos e Cidadania) para seguir os trabalhos nos locais castigados pela chuva e tem acompanhado os últimos dias da crise de Santa Catarina, onde passa parte de sua viagem de fim de ano.
Os ministros e o próprio presidente já anunciaram ações de auxílio, como o repasse de parte da verba de R$ 200 milhões para a reconstrução de estradas na Bahia e a liberação do saque do FGTS às famílias que perderam tudo por conta das cheias. Governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse que o valor destinado ao estado não é suficiente.
Bolsonaro não está oficialmente de férias, já que não passou o cargo ao vice-presidente e está, em tese, despachando no período que está hospedado em um Forte da Marinha em São Francisco do Sul.
O volume de chuvas no sul da Bahia é o maior dos últimos 32 anos, segundo a Defesa Civil. Até esta quarta-feira (29) foram confirmadas as mortes de 24 pessoas, sendo que mais de 400 ficaram feridas. Ao todo, 141 cidades relataram estragos pelas chuvas e 136 municípios declaram emergência. O total de baianos atingidos passa de 600 mil.
Randolfe quer convocar chanceler para explicar recusa de ajuda argentina à Bahia
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou requerimento onde pede a convocação de Carlos França, ministro das Relações Exteriores, ao Congresso Nacional para explicar os motivos da recusa do governo federal em aceitar ajuda humanitária oferecida pela Argentina por causa das enchentes que castigam o estado neste fim de ano.
“Mesmo diante de uma tragédia humanitária provocada pelas fortes chuvas e enchentes na Bahia, o Governo de Jair Bolsonaro é incapaz de respeitar a Carta Magna e de receber a solidariedade e ajuda do governo argentino”, criticou o senador no pedido protocolado ao Senado.
Randolfe já havia afirmado que entraria com uma representação no Tribunal de Contas da União para que o presidente Jair Bolsonaro devolva à União o dinheiro gasto em sua viagem para Santa Catarina, sendo revertido às vítimas das chuvas na Bahia.
O Grupo Bandeirantes, em parceria com a CUFA (Central Única das Favelas) e a FNA (Frente Nacional Antirracista), vai apoiar a população baiana que está sofrendo por causa das enchentes. A campanha Band, Cufa e FNA abraçam a Bahia está arrecadando recursos que serão revertidos em alimentos, itens de higiene e todo tipo de produto que possa ajudar as pessoas afetadas.