Bolsonaro fala em 'acusações infundadas' e diz que trabalhou pela transição de governo em 2022

Ex-presidente fez pronunciamento à imprensa em Brasília logo após o STF torná-lo réu por tentativa de golpe de Estado

Da redação, com Estadão Conteúdo

Réu por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse na tarde desta quarta-feira (26), logo após o julgamento na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que as denúncias contra ele são “graves e infundadas”. Em pronunciamento à imprensa, negou todas as acusações, alegando que trabalhou pela transição de governo após perder as eleições de 2022. 

“Vivemos um momento de intranquilidade, por causa especial da criatividade de alguns (...). Espero hoje botar um ponto final nisso aí. Parece que tem algo pessoal contra mim. As acusações são graves e infundadas”, disse Bolsonaro.

O ex-presidente declarou que se encontrou após as eleições com José Múcio, indicado na ocasião pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir futuramente o Ministério da Defesa, e atuou ao lado dele pela transição de governo. 

“Ele pediu apoio para ter acesso aos ministérios, foi atendido em tudo no dia seguinte. Pediu que eu nomeasse os comandantes militares indicados por Lula, foi o que fiz. Atendi ao presidente Lula. Se tivesse qualquer ideia, não deixaria os comandantes do Lula assumirem”, completou. 

O resumo é o seguinte: golpe tem povo, mas também tem tropa, tem armas e liderança. Em dois anos de investigação não descobriram quem porventura seria esse líder.  

Bolsonaro afirmou também que não poderia estar envolvido com os atos de 8 de janeiro, já que estava em viagem nos Estados Unidos, e sugeriu que a entrada dos manifestantes aos prédios públicos depredados “foi facilitada” para incriminá-lo. 

Uma das acusações sobre mim é de destruição de patrimônio. Só se for por telepatia! Fizeram busca e apreensão na minha casa e não acharam nada a meu respeito.

Bolsonaro ainda criticou a imprensa brasileira, que teria exibido apenas a imagem de um invasor com uma camisa estampada com o rosto dele derrubando o relógio do Palácio. Ele também reclamou sobre alguns veículos de mídia terem afirmado que a manifestação que ocorreu no dia 16 de janeiro teria "flopado" - gíria para "fracassar". Segundo o ex-presidente, 3,5 milhões de pessoas acompanharam os atos à distância pelas redes sociais.

Críticas a Moraes e às urnas eletrônicas

Ele reiterou a sua inocência em diversos momentos durante a sua fala e que estaria sofrendo uma perseguição "pessoal" pelo ministro Alexandre de Moraes. Nesse sentido, Bolsonaro afirmou que convidou o ministro Edson Fachin para participar de reunião com embaixadores - responsável por sua condenação de inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral em 2023 - mas, o magistrado optou por não comparecer.

"Pessoal já deve ter percebido a forma tão incisiva como ministro Alexandre de Moraes conduz ou se conduz, tem algo esquisito por aí. O que ele quer esconder?", afirmou.

O ex-presidente criticou novamente, mas sem provas, as urnas eletrônicas e disse que "não estava sozinho" ao defender o voto impresso, mencionando o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), que teria feito essa defesa em inserções na TV, supostamente. O ex-presidente também disse que não é obrigado a "confiar em um programador" e que depois que falou publicamente sobre o inquérito sobre urnas eletrônicas após a sua vitória nas eleições de 2018, ele foi tornado secreto. Segundo ele, Moraes estaria tentando "esconder algo".

"O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) influenciou, jogou pesado, contra eu (sic) e a favor do candidato Lula. Eu não pude mostrar imagens do Lula defendendo aborto", continuou Bolsonaro. "Mais grave ainda, o TSE fez campanha massiva para jovens de 16 e 17 anos retirassem o título. Esses jovens votam na esquerda."

Ele argumentou que o TSE "foi para cima" do pessoal da direita por meio de processos de inelegibilidades, de modo a criar semelhanças com o processo eleitoral na Venezuela que reelegeu o presidente Nicolás Maduro.

STF decidiu por acolher denúncia da PGR

O placar da votação na Corte foi de 5 a 0 pelo recebimento da denúncia da Procuradoria-Geral da República. Além de Bolsonaro, outros sete aliados também viraram réus: Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e Casa Civil), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Alexandre Ramagem (deputado e ex-diretor-geral da Abin) e Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro). Agora, todos responderão a uma ação penal. 

Tópicos relacionados

Mais notícias