Manifestantes extremistas, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inconformados com o resultado das eleições presidenciais de 2022 que consagraram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) presidente da República, invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) neste domingo (8), após entraram em choque com a polícia. Bombas de gás e tiros de balas de borracha foram usados para tentar conter a multidão.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou no fim da tarde a intervenção federal no Distrito Federal, até 31 de janeiro, após invasão e destruição do patrimônio na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
"Todas essas pessoas serão encontradas e punidas", disse o presidente da República, em coletiva de imprensa em Araraquara (SP). Lula foi ao interior de São Paulo para participar de ações de reparação de danos causados pela chuva no início do ano na região.
Lula disse que Bolsonaro é diretamente responsável pelos atos violentos. “Esse genocida não só provocou isso, estimulou isso como, quem sabe, ainda está estimulando isso das redes sociais. Tem vários discursos do ex-presidente estimulando isso, estimulou a invasão nos três poderes sempre que ele pode”, disse o presidente.
O texto do decreto assinado pelo presidente diz que a intervenção se limita à área de segurança pública para “comprometimento da ordem pública no Estado no Distrito Federal, marcada por atos de violência e invasão de prédios públicos”.
O documento diz que o interventor terá atribuições “necessárias às ações de segurança pública” e que “fica subordinado ao Presidente da República e não está sujeito às normas distritais que conflitarem com as medidas necessárias à execução da intervenção”.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, sugeriu que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), facilitou a ação dos vândalos. “Governador e seu secretário de segurança, bolsonarista, são responsáveis pelo que acontecer”, escreveu Gleisi.
Ibaneis exonerou o secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Quando o vandalismo começou, por volta das 14h, uma viatura da Polícia Legislativa caiu dentro do lago do Congresso. Agentes da Força Nacional não conseguiram impedir que os extremistas invadissem as dependências internas do parlamento. Janelas e portas foram quebradas e os vândalos ocuparam o salão verde da Câmara dos Deputados.
Na sexta-feira (7), o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou o reforço na segurança do Distrito Federal justamente por causa da previsão de atos contra a democracia.
Por volta das 15h deste domingo, as forças de segurança passaram a recuar e permitir a invasão. Agentes da Força Nacional passaram a negociar com os manifestantes, por volta das 15h10.
Nesse momento, parte dos manifestantes seguiu em direção ao Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal alvo dos protestos, está em Araraquara (SP), para visita relacionada aos danos causados pela chuva da semana passada. Às 15h20, a assessoria de Lula cancelou a entrevista coletiva com o presidente marcada para esse horário em Araraquara.
Mais cedo, o repórter Túlio Amâncio, da TV Band, teve o celular jogado no chão por manifestantes e foi impedido de fazer seu trabalho de registro das informações no local do protesto.
Às 15h30, começaram a ser publicadas as primeiras imagens de extremistas dentro do Salão Verde da Câmara Federal, após vidros terem sido quebrados para dar acessos dos manifestantes ao interior do Congresso Nacional.
O presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a invasão é inaceitável e que repudia atos antidemocráticos. "Repudio veementemente esses atos antidemocráticos, que devem sofrer o rigor da lei com urgência", escreveu.
Às 15h40, o ministro da Justiça, Flavio Dino, disse que estava dentro da sede Ministério da Justiça, ao lado do Congresso.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o governo do Distrito Federal foi irresponsável e acusou o governador Ibaneis Rocha de facilitar a invasão.
STF
Às 15h50, surgiram na internet as primeiras imagens de extremistas dentro do Plenário do Supremo Tribunal Federal.
Por volta das 16h, o senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), líder do governo no Congresso Nacional disse que protocolou no STF pedido de prorrogação do inquérito dos atos antidemocráticos, para incluir responsáveis pelo vandalismo deste domingo em Brasília.
“Prorrogação do inquérito dos atos antidemocráticos a partir dos acontecimentos de hoje. 2 - Impedimento de posse e, em caso de posse, afastamento do Sr Anderson Torres, da Secretaria de Justiça do DF”, escreveu.
Em seguida, Randolfe disse que pedirá intervenção federal no DF.
Criticado por integrantes do governo e parlamentares governistas, o então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça no governo de Bolsonaro, disse que pediu providências imediatas para restabelecer a ordem no Centro de Brasília.
Após a manifestação de Randolfe, Anderson Torres publicou no Twitter que “criminosos não sairão impunes”.
Torres foi exonerado do cargo.
Internacional
O presidente do Chile, Gabriel Boric, foi o primeiro líder internacional a se manifestar sobre o ataque aos Poderes em Brasília. “Ataque inapresentável aos três poderes do Estado brasileiro pelos bolsonaristas. O governo brasileiro tem todo o nosso apoio diante desse covarde e vil ataque à democracia”, disse, em tradução livre.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também se manifestou, dizendo que os atos são um golpe fascista. “O fascismo decidiu dar um golpe”, escreveu.
O embaixador da União Europeia no Brasil Ignacio Ybáñez disse que acompanha com “grande preocupação os atos antidemocráticos”.
Entre outros líderes internacionais, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que “a vontade do povo brasileiro e das instituições democráticas deve ser respeitada”.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, também condenou os ataques em Brasília.
"Usar violência para atacar as instituições democráticas é sempre inaceitável. Juntamo-nos a Lula ao pedir o fim imediato dessas ações", escreveu o chefe da diplomacia americana no Twitter. .
“Nós nos juntamos a @lulaoficial para pedir o fim imediato dessas ações”, concluiu.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também condenou o “atentado à democracia e à transferência pacífica do poder no Brasil”.
Conivência
Cerca de dez policiais militares do DF aparecem na via ao lado do Congresso Nacional, sem atuar na repressão aos atos de vandalismo praticados por manifestantes bolsonaristas.
Um deles tira fotos e outro conversa calmamente com manifestantes.
Jornalistas agredidos
Depois de o repórter da Band ter tido o celular jogado no chão, no início do protesto, outros profissionais de imprensa foram agredidos. Uma fotógrafa do portal Metrópoles foi agredida e teve a câmera quebrada, pouco antes das 17 horas. Outros jornalistas se afastaram para evitar a violência.
Anderson Torres exonerado
Ex-ministro da Justiça do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Anderson Torres foi exonerado do cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. A informação foi confirmada pelo governador Ibaneis Rocha ao repórter Túlio Amâncio, da TV Band, por volta das 16 horas
Torres foi acusado por governistas de empregar efetivo insuficiente para reprimir atentados contra a democracia no DF durante protestos de extremistas previstas para este domingo e que terminaram na invasão do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal.
PGR
O procurador-geral da República, Augusto Aras, diz que monitora e acompanha com preocupação os atos de vandalismo a edifícios públicos que ocorrem em Brasília neste domingo (8).
“Aras mantém contato permanente com as autoridades e tem adotado as iniciativas que competem à instituição para impedir a sequência de atos de violência”, diz a PGR em nota.
Entre as providências tomadas, o procurador-geral requisitou à Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF) a imediata abertura de procedimento investigatório criminal visando a responsabilização dos envolvidos.
Arthur Lira
O presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AP), disse que o Congresso Nacional nunca dará espaço para “baderna".
Governador do DF
Às 17h10, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, disse que está monitorando e tomando providências para conter “a baderna antidemocrática”.
Governadores
Às 17h30, o Fórum Nacional de Governadores publicou nota de repúdio aos atos antidemocráticos.
Retomada da Praça dos Três Poderes
As dependêncais dos prédios públicos da Praça dos Três Poderes começaram a ser retomadas por forças policiais somente depois das 17 horas, com reforço policial aparente.
Dezenas de pessoas foram presas. Um vídeo mostra um ônibus da polícia lotado de suspeitos.
Nota da Polícia Civil do Distrito Federal
Às 17h30, a Polícia Civil do Distrito Federal divulgou nota dizendo que registrou dez boletins de ocorrência relacionados aos atos de vandalismo.
“A Ascom/PCDF informa que, em relação às manifestações ocorridas nesta tarde de domingo (8), na área central de Brasília—Esplanada dos Ministérios, Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal— STF e Palácio do Planalto—, marcadas por atos de vandalismo e depredação do patrimônio público federal— a PCDF, por meio do trabalho da equipe da 5a DP— unidade responsável pela investigação de ocorrências criminais ocorridas nessa respectiva área de Brasília—contabilizou, até o momento, o registro de dez boletins de ocorrências, sendo nove deles efetuados na sede da delegacia e um por meio on-line na Delegacia Eletrônica”.
A Polícia Civil do DF reforçou efetivo em delegacias após ataque de extremistas na Praça dos Três Poderes.
Rosa Weber
O ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal, em nota, destacou neste domingo (8) que o vandalismo de extremistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) destruiu “severemente” o patrimônio histório na Praça dos Três Poderes. Ela disse que o STF "atuará para que os terroristas que participaram desses atos sejam devidamente julgados e exemplarmente punidos"
Alexandre de Moraes
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, um dos principais alvos de extremistas em ataque à Praça dos Três Poderes neste dominigo (8), chamou de “desprezíveis ataques terroristas” as ações dos vândalos.
“Os desprezíveis ataques terroristas à Democracia e às Instituições Republicanas serão responsabilizados, assim como os financiadores, instigadores, anteriores e atuais agentes públicos que continuam na ilícita conduta dos atos antidemocráticos. O Judiciário não faltará ao Brasil!”, pontuou.
Luis Roberto Barroso
O ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, chamou de criminosos os atos de vandalismo em ataque de extremistas na Praça dos Três Poderes, em Brasília, neste domingo (8).
“O terrorismo é a vitória do mal e do crime disfarçados de ideologia. Dia de luto para as pessoas de bem de qualquer credo político. A Justiça virá. E os Deuses da democracia protegerão as instituições e cobrirão de vergonha os criminosos que procuram destruí-la”, disse.
Armas letais
Armas letais e documentos sigilosos foram roubados do GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República), no Palácio do Planalto, em Brasília, durante invasão e atos de vantalismo na Praça dos Três Poderes neste domingo (8).
A informação foi confirmada na noite deste domingo (8) pela reportagem da Band. Imagens mostram maletas onde as armas eram guardadas vazias. Pelo menos duas pistolas e munições foram levadas.
O governo ainda não divulgou informações oficiais com um balanço de tudo que foi levado.