As autoridades policiais suspeitam que Deise Moura dos Anjos, de 39 anos, investigada por envenenar um bolo com arsênio em Torres (RS), tenha cometido assassinatos em série.
O que aconteceu?
A acusada teria envenenado, com arsênio, a farinha usada pela sogra, Zeli, em um bolo de Natal, servido aos familiares da mulher no dia 23 de dezembro. Grandes concentrações da substância foram encontradas no doce e no sangue das vítimas e dos familiares hospitalizados após o consumo, segundo as investigações.
Três familiares morreram após ingerirem a sobremesa contaminada. Além disso, foi constatada a presença da substância tóxica no corpo do sogro dela, morto em setembro do ano passado, segundo informações da perícia.
Paulo morreu de infecção intestinal em setembro de 2024, após consumir bananas e leite em pó levados à casa dele pela nora. A polícia confirmou nesta sexta (10) que a causa da morte do homem também foi envenenamento.
"Posso dizer com certeza: ela pesquisou, comprou, recebeu e usou veneno para matar as vítimas", afirma o delegado Cléber dos Santos Lima, chefe do Departamento de Polícia do Interior (DPI) da Polícia Civil.
Quem são as vitimas?
As vítimas foram identificadas como: Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, 59 anos, irmãs de Zeli, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza e sobrinha de Zeli.
O marido de Maida e uma criança de 10 anos também comeram a sobremesa, foram hospitalizados, mas já tiveram alta. Já Zeli, responsável pela preparação da sobremesa, permaneceu internada.
As pessoas que consumiram o bolo notaram um gosto estranho ao ingerir o doce, segundo o delegado. "Tão logo o menino de 10 anos comeu e também reclamou do sabor, ela [Zeli] meio que colocou a mão assim em cima do bolo, [e falou] 'e agora ninguém mais come'. E as pessoas começaram a passar mal naquele momento", diz o delegado.
Briga familiar teria acontecido há 20 anos por causa de R$ 600
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul acredita que a briga na família envenenada após o consumo de um bolo, que matou três pessoas, começou há 20 anos e teria sido motivada por dinheiro: mais especificamente, o valor de R$ 600.
Em conversa com a reportagem da Band, o delegado Marcos Veloso, responsável pela investigação, disse que o valor teria sido sacado de maneira indevida. A polícia acredita que esse foi o primeiro passo da briga, que já dura duas décadas.
Segundo os policiais, o pedido de prisão foi baseado não apenas na desavença da nora com a família, mas em outras evidências.
O que diz o marido da suspeita de envenenar a família?
O marido dela ainda não prestou depoimento. A investigação apura se ele também tem envolvimento no envenenamento da família. Segundo o delegado, ele deve ser um dos últimos a ser ouvido pela polícia.
O que é arsênio (ou arsênico)?
Segundo a polícia, a suspeita pesquisou na internet o nome do veneno antes da sogra preparar a sobremesa.
Arsênio é um elemento que ocorre naturalmente no ambiente. Rocha, solo, água, ar, plantas e animais contém níveis de arsênio. O composto pode se combinar com substâncias orgânicas e inorgânicas (que são mais prejudiciais à saúde humana).
O envenenamento pode ocorrer quando se ingere altos níveis de arsênio. Segundo informações da perícia, foram encontradas "concentrações altíssimas" de arsênio na sobremesa, superiores a 350 vezes ao mínimo para o envenenamento.
Como o veneno foi comprado?
A polícia informou que Deise comprou arsênio quatro vezes no período de quatro meses, sendo que uma dessas compras aconteceu antes da morte do sogro, e as outras três antes da morte das três pessoas em dezembro. O produto teria sido comprado pela internet e recebido pelos Correios.
A suspeita foi presa?
Deise foi detida no último domingo (5) e teve a prisão temporária decretada pelos próximos 30 dias. Ela foi encaminhada para o Presídio Estadual Feminino de Torres. Com o esclarecimento das circunstâncias da morte do sogro, ela poderá ser acusada por quatro homicídios dolosos qualificados, além de outras três tentativas de homicídio.
O que diz a defesa?
Deise nega qualquer responsabilidade sobre as mortes. Em nota, a defesa alegou que as prisões temporárias "possuem caráter investigativo". Veja a nota na íntegra:
“O escritório Cassyus Pontes Advocacia representa a defesa de Deise Moura dos Anjos no inquérito em andamento sobre o fato do Bolo, na Comarca de Torres, tendo sido decretada no domingo a prisão temporária da investigada.
Todavia, até o momento, mesmo com o pedido da Defesa deferido pelo judiciário, ainda não houve o acesso ao inquérito judicial.
A família, desde o início, colabora da investigação, inclusive o com depoimento de Deise em delegacia, anterior ao decreto prisional.
Cumpre salientar, que as prisões temporárias possuem caráter investigativo, de coleta de provas, logo ainda restam diversos questionamentos e respostas em aberto neste caso, os quais não foram definidos ou esclarecidos no inquérito.”