Biden rechaça críticas de Trump à Justiça dos EUA

Presidente diz que veredito comprova que "ninguém está acima da lei". Pesquisa indica leve queda no apoio ao republicano, mas com potencial para influenciar resultado das eleições no caso de disputa acirrada.

Por Deutsche Welle

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou nesta sexta-feira (31/05) seu antecessor, Donald Trump, de agir de maneira "imprudente, perigosa e irresponsável" ao criticar o sistema de Justiça do país "somente por não gostar do veredito".

Após se tornar nesta quinta-feira o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a ser condenado em julgamento penal – com o grande júri o considerando culpado em todas as 34 acusações de falsificação grave de registros comerciais –, Trump convocou uma coletiva de imprensa no edifício que leva seu nome em Manhattan para tentar lançar dúvidas sobre o sistema de Justiça criminal de Nova York.

O pré-candidato à indicação do Partido Republicano para concorrer às eleições presidenciais de novembro teceu fortes criticas ao juiz, às testemunhas e ao veredito, segundo o qual, ele é culpado de tentar exercer influência ilegal nas eleições de 2016 – nas quais se elegeu presidente – ao falsificar documentos na tentativa de ocultar uma quantia paga a uma atriz pornô, com quem ele teria mantido relações sexuais, em troca de seu silêncio.

Na coletiva, Trump tentou se colocar como vítima de perseguição política, de modo a agradar seus eleitores, dizendo que o julgamento foi "muito injusto" e que, se fizeram isso com ele, "eles podem fazer isso com qualquer um".

Ele afirmou que o veredito é ilegítimo e politicamente motivado e tentou minimizar os fatos apresentados contra ele. "Não era dinheiro pelo silêncio. Era um acordo de confidencialidade, totalmente legal, totalmente comum", disse o republicano.

Apesar da ordem judicial que o proíbe de criticar publicamente as testemunhas do julgamento, Trump lançou fortes ataques a seu ex-advogado Michael Cohen, cujo testemunho foi fundamental para a acusação. Ele também repetiu os mesmos ataques que vem fazendo em seus eventos de campanha, dizendo que o país, sob a Presidência de Biden, se tornou "corrupto" e "fascista".

Ele acusou Biden de ser o "presidente mais burro que já tivemos" e também disparou insultos contra o juiz da corte de Nova York. "Estou disposto a fazer de tudo para salvar nosso país e nossa Constituição. Não me importo", afirmou, prometendo "continuar a luta".

"Ninguém está acima da lei"

Biden disse nesta sexta-feira que o caso de Trump comprova o "princípio americano de que ninguém está acima da lei" e observou que o republicano teve "todas as oportunidades de se defender" no julgamento em Nova York.

"Era um caso estadual, não federal, e ele foi ouvido por 12 cidadãos, 12 americanos, 12 pessoas como vocês", disse o presidente a repórteres. Ele lembrou que Trump pode recorrer do caso, "da mesma forma que todas as pessoas têm essa oportunidade".

O democrata afirmou que é "imprudente, perigoso e irresponsável qualquer pessoa afirmar que [o processo criminal] foi fraudado somente porque não gostou do veredito".

"Nosso sistema de Justiça perdura há quase 250 anos, sendo, literalmente, a pedra fundamental da América", apontou. "O sistema de Justiça deve ser respeitado. Não devemos jamais deixar que alguém o destrua."

Leve perda de apoio após julgamento

Uma pesquisa realizada pela agência Reuters/Ipsos nesta quinta e sexta-feira concluiu que 10% dos republicanos estão menos propensos a votarem em Trump após o veredito na corte de Nova York, sendo que 53% disseram que a decisão dos jurados não terá efeito sobre seus votos. Outros 35% se disseram ainda mais convictos de seu apoio ao ex-presidente.

A potencial perda de 10% dos eleitores de seu próprio partido é mais significativa para Trump do que o apoio de mais de um terço dos republicanos, uma vez que muitos deles votariam nele independentemente da condenação.

Entre os eleitores independentes, 25% disseram que o veredito os deixa menos propensos a votarem em Trump, enquanto 18% se disseram mais propensos. Para 56%, a decisão da Corte não terá efeito sobre seus votos.

Os números mostram que o veredito tem potencial para abalar a corrida eleitoral, uma vez que as eleições geralmente são decididas por uma margem pequena de votos em alguns dos chamados swing states – os estados que não são nem tradicionalmente republicanos nem democratas e que acabam decidindo eleições. Isso significa que mesmo uma perda relativamente pequena de eleitores poderá ter impacto relevante sobre o resultado final.

Biden e Trump virtualmente empatados

Os dois pré-candidatos mantém uma corrida eleitoral apertada. O democrata possui 41% das intenções de voto contra 39% de Trump, segundo a pesquisa, que entrevistou 2.556 adultos americanos em todo o país, com margem de erro de 2%. No início do mês, o mesma levantamento colocava os dois candidatos empatados com 40%. ´

Nas duas pesquisas, aproximadamente um em cada cinco eleitores se disseram indecisos ou inclinados a votarem em candidatos independentes ou a não comparecerem às urnas.

Trump deverá receber sua sentença no dia 11 de julho. Segundo a pesquisa, 53% dos eleitores registrados não querem que ele vá para a prisão, sendo que 46% defendem o encarceramento do ex-presidente.

rc (AP, Reuters, DPA)

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