A rua parece ter sido esquecida pela moderanização vista nos últimos anos no centro de Berlim: alguns prédios de apartamentos simples de vários andares, outro com uma creche, uma oficina mecânica. Há também lixo de obras de renovação jogado cladestinamente. Apesar da aparência, a Ackerstrasse fica numa região central da capital alemã – a apenas dois quilômetros da Chancelaria Federal.
Não muito longe de onde passava o Muro de Berlim está localizado o edifício que levou quase sete anos para ficar pronto: o moderno templo e mosteiro budista é um dos monumentos religiosos mais notáveis da cidade.
A taiwanesa Miao Shiang Shih é a mestre do templo da ordem budista chinesa Fo Guang Shan. Há décadas que ela vive em Berlim, e por mais de 30 anos, ela e outras duas ou três monjas budistas meditaram num barracão de madeira na Ackerstrasse, onde ficava antigamente uma fábrica de peças de automóveis. As monjas moravam num apartamento do lado desse local.
Agora, as estátuas de Buda se mudaram para um lugar melhor. A simpática monja de cabeça raspada mostra contente e com orgulho os novos cômodos: a sala principal do templo – espaço aberto ao público para a meditação na manhã e noite –, a cozinha, a sala de jantar, o quarto de hóspedes, a sala para exposições e concertos e um pequeno memorial para os mortos.
Sobre a estrutura de metal em frente ao prédio, a mestre explica que é um suporte para incenso. Devido a normas de segurança contra incêndios, a peça não pode ficar dentro do templo.
O prédio foi construído sem receber subsídios dos governos estadual e federal, apenas com doações de mosteiros budistas e de adeptos da Fo Guang Shan de todo mundo. Sobre o valor da obra, Miao Shiang Shih silencia simpaticamente, afirmando apenas que ela custou quatro vezes mais do que o valor previsto inicialmente.
Rede mundial
O templo faz parte da comunidade de mesmo nome que foi fundada em Taiwan em 1967. Fo Guang Shan significa Montanha de Luz de Buda. Há vários mosteiros e templos desta comunidade espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil. Na Alemanha, além de Berlim, há um templo em Frankfurt, que foi aberto em 2004.
"Nosso centro está apoiado no budismo humanista", afirma Shih. A mestre explica que essa filosofia budista moderna combina a prática meditativa do zen com a proximidade consciente das pessoas. Os ensinamentos encorajariam os praticantes a se preocuparem com os outros.
Aos domingos, o templo de Berlim oferece almoço aos necessitados, além de assistência cotidiana.
O novo templo budista combina bem com Berlim. Com mais de 3,5 milhões de habitantes, a capital alemã se caracteriza pela diversidade religiosa. De acordo com a Secretaria de Cultura de Berlim, mais de 250 comunidades religiosas ou de cosmovisão são ativas na cidade. O templo de Ackerstrasse não é o único do tipo na cidade. A Casa Budista, no norte de Berlim, tem mais de cem anos.
Neste ano deverá ser inaugurado na cidade ainda um templo hindu, que está sendo construído há 20 anos no parque Hasenheide. Em novembro, a Igreja Católica também espera reabrir na Bebelplatz as portas da Catedral de Santa Edwiges, fechada há quatro anos para reformas. Já o projeto de um espaço de orações comum para judeus, muçulmanos e cristãos, o House of One, ainda está no início das obras.
Essa diversidade combina com a descrição que Shih faz dos visitantes do templo budista. Indivíduos a passeio que entram para dar uma olhada, grupos escolares que querem conhecer o espaço. Moradores de longos anos da capital alemã integram a comunidade. Mas os convidados estão cada vez mais internacionais.
Durante muito tempo, as monjas se esforçaram para traduzir os textos litúrgicos e espirituais do chinês para o alemão. Agora aumentou a demanda por textos em inglês. A mestre conta que muitos frequentadores vêm da África do Sul e da Indonésia. Segundo ela, os textos foram traduzidos para o inglês por um cientista indiano que passou a frequentar o templo semanalmente. "Ele se tornou uma espécie de membro da família para nós."
Presença internacional na inauguração
A inauguração do templo, neste domingo (23/06), contou com grande presença internacional. As três monjas que vivem no local, duas taiwanesas e uma de Cingapura, receberam mestres budistas de toda a Europa, além do principal abade da ordem com acompanhantes de Taiwan – totalizando cerca de 300 representantes.
Ao todo, Shih estimou em 600 o número de convidados na cerimônia de abertura, que se dividiram entre a principal sala de meditação do local e o jardim, onde foi montado um telão para exibir a cerimônia de inauguração.
Autor: Christoph Strack