Moises Rabinovici

Benjamin Netanyahu fala de paz em discurso, mas não com Líbano ou Gaza

Na ONU esvaziada ele pregou para o deserto. E sua paz pareceu uma miragem

Por Moises Rabinovici

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Benjamin Netanyahu, premiê de Israel
BRENDAN MCDERMID / REUTERS

A uma Assembleia Geral esvaziada de representantes mundiais, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não falou do plano de cessar-fogo para o Líbano e Gaza, apoiado por vários países, mas de uma paz ideal, futura, com a Arábia Saudita, que ele próprio tem impedido ao rejeitar a solução de dois estados para Israel e Palestina, proposta pelo presidente Joe Biden.

Sobre a situação atual, Netanyahu disse: “A guerra pode acabar agora", acrescentando: "se o Hamas se render, liberar os reféns e depuser as armas. Caso contrário, Israel continuará até a 'vitória total'.”

No discurso de 40 minutos, a paz ambicionada seria firmada com a Arábia Saudita, mas os sauditas estavam ausentes, tendo se retirado em protesto, com muitas outras delegações. Mesmo assim ele disse para a Arábia Saudita, a transmissão de TV ao vivo mostrando cadeiras vazias:

“Que bênção tal paz com a Arábia Saudita traria (...) Seria um verdadeiro pivô da história (...) A reconciliação entre Meca e Jerusalém”. Houve aplausos. Eles vieram, principalmente, de um grupo de apoiadores, reforçado por parentes de alguns reféns ainda cativos em Gaza, sentados na galeria sobre a Assembleia Geral.

Como sempre, Netanyahu trouxe algo para mostrar à audiência. Desta vez foram mapas. Num deles, os aliados árabes de Israel no Oriente Médio. Em outro, o Irã com seus aliados. O grupo com os israelenses é uma influência estabilizadora. Já o iraniano é a desestabilização. O detalhe dos mapas: não há Cisjordânia, mostrada como parte de Israel.  

“Agora uma pergunta” — e Netanyahu olhou para os poucos sentados no auditório de cadeiras vazias. “Que escolha você vai fazer? Israel e a democracia, ou o Irã e a escuridão?”  

Ao subir ao púlpito da ONU, ele contou que não pretendia viajar a Nova York, mas resolveu vir para esclarecer as ações de Israel. Netanyahu repetiu que Israel, ao se defender, “está defendendo você contra um inimigo comum”. Ele refutou as acusações de genocídio: “Não queremos ver uma única pessoa inocente morrer, isto é sempre uma tragédia”. Lembrou que o exército israelense telefona a civis avisando de um bombardeio iminente, lança panfletos em árabe e manda milhões de mensagens de texto. A acrescentou: “Que exército faz isso?”

Fora da ONU havia protestos contra Netanyahu e Israel, e ele aproveitou para acusar o Irã de financiar as manifestações, como as pró-palestinas que ocorreram em várias universidades americanas, canadenses, britânicas e francesas.

Para Netanyahu, a ONU “é hipócrita”, lembrando que desde o seu primeiro discurso, há 40 anos, como embaixador, há mais resoluções contra Israel, ou pedindo que ele seja expulso, do que a soma de todas as resoluções aprovadas para o mundo todo. Aproveitou para lembrar o último pedido de expulsão, feito pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, esta semana, e o acusou por não condenar o massacre do Hamas em Israel até agora, quando vai completar o primeiro aniversário.

“Eu tenho uma mensagem para os tiranos de Teerã: se você nos atingir, nós o atingiremos” — continuou Netanyahu. “Israel busca a paz. Israel anseia pela paz. Israel fez a paz e fará a paz novamente”, talvez se referindo à paz com o Egito e a Jordânia, além dos países árabes que não são do confronto direto e que assinaram os acordos de Abraão iniciados pelo ex-presidente Donald Trump.

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