O chanceler da Áustria, Karl Nehammer, afirmou nesta sexta-feira (13/12) que o país vai oferecer um "bônus de retorno" de 1.000 euros (R$ 6,3 mil) para que refugiados sírios voltem ao seu país de origem após a queda do ditador Bashar al-Assad.
Ele também manteve a suspensão de análise sobre pedidos de refúgio de cidadãos sírios, congelada desde a última segunda-feira. Caminho similar foi tomado pela Alemanha e outros países europeus.
"A Áustria apoiará os sírios que desejam retornar ao seu país de origem com um bônus de retorno de 1.000 euros. O país [Síria] agora precisa de seus cidadãos para ser reconstruído. Os procedimentos de asilo em andamento para cidadãos sírios na Áustria continuarão suspensos", escreveu o político conservador em sua conta pessoal no X.
Os sírios são o maior grupo de solicitantes de refúgio na Áustria. Segundo as Nações Unidas, entre 2015 e 2024, quase 87 mil receberam status de refugiado no país europeu, enquanto outros 17,5 mil têm proteção temporária.
Deportação forçada
Conhecido por sua posição linha-dura no tema da imigração, Nehammer foi um dos primeiros líderes mundiais a reagir à queda de Assad no último domingo, quando indicou, no mesmo dia, que a Áustria avaliaria a situação de segurança na Síria e a possibilidade de deportação forçada de refugiados.
Para o Comissário de Assuntos Internos e Migração da União Europeia, Magnus Brunner, porém, forçar o retorno de sírios no momento é impossível e seria prematuro.
As forças rebeldes sírias lideradas pelo grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) nomearam um primeiro-ministro interino para liderar o país até março e prometeram instituir um "Estado de direito". Mas as raízes jihadistas do HTS criaram incerteza sobre o futuro do país. "Por enquanto, eu diria que o retorno forçado não é possível", disse Brunner em uma coletiva de imprensa na quarta-feira.
"Como a situação ainda é volátil, temos que nos concentrar nesses retornos voluntários", completou. Segundo a ONU, mais de um milhão de pessoas se deslocaram no território sirio desde a queda do regime de Assad, parte delas vindas de países vizinhos, como a Turquia.
Quantos cidadãos aceitarão a oferta austríaca, porém, ainda é uma incógnita, já que o bônus oferecido pelo governo pode nem mesmo cobrir o custo da passagem de retorno.
A empresa nacional de aviação, Austrian Airlines, suspendeu seus voos para a região devido à insegurança, mas um bilhete de classe econômica de ida para Beirute, ponto de partida comum para aqueles que seguem por terra até Damasco, atualmente custa pelo menos 1.066 euros (R$ 6.752).
Pauta anti-imigração cresce na Europa
Como muitos líderes conservadores na Europa, Nehammer sofre pressão da ultradireita por políticas mais incisivas contra a migração. Na Áustria, este grupo é representado pelo Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), que venceu as eleições parlamentares em setembro, com 29% dos votos. Apesar de não compor a coalizão federal, a forte presença da sigla no parlamento tem dado espaço para a pauta anti-imigração.
Na Alemanha, políticos de diversos partidos, desde a ultradireitista Alternativa para a Alemanha, até a conservadora União Democrata Cristã (CDU). O principal argumento usado é o de que estes refugiados não precisam mais fugir de um regime que deixou de existir.
gq (DW, reuters, AFP)