Centenas de famílias libanesas congestionam rodovias em direção ao norte do Líbano nesta segunda-feira (23/09), fugindo do bombardeio israelense contra grupo extremista libanês Hezbollah que deixou 356 mortos no país, incluindo crianças.
Carros, vans e caminhonetes estavam carregados de pertences e pessoas, às vezes com várias gerações da mesma família em um único veículo. A fuga em massa já é tomada como o maior êxodo no país desde os conflitos de 2006.
"Quando as explosões começaram a acontecer pela manhã, peguei todos os documentos importantes e saímos. Foram explosões por toda parte ao nosso redor. Foi aterrorizante", disse Abed Afou à agência de notícias Reuters, cujo vilarejo de Yater foi fortemente atingido pelo bombardeio nesta madrugada.
Israel e o grupo extremista libanês Hezbollah têm trocado ataques desde que a guerra em Gaza começou no ano passado, mas a campanha militar israelense intensificou nas últimas semanas.
Netanyahu pede para libaneses "saírem do caminho do perigo"
Na segunda-feira, enquanto o bombardeio já atingia o sul do país, moradores receberam chamadas telefônicas pré-gravadas em nome das Forças Armadas de Israel, dizendo para deixarem suas casas. O primeiro-ministro israelense,Benjamin Netanyahu, também gravou um vídeo pedindo para os libaneses tomarem o aviso com seriedade e "saírem do caminho do perigo". De acordo com seu gabinete, Netanyahu também afirmou que a guerra de Israel não é contra a população do Líbano, mas contra o Hezbollah.
Abed Afou, que havia permanecido em Yater, localizada a apenas 5 quilômetros da fronteira israelense, decidiu fugir quando as explosões começaram a atingir a área residencial do vilarejo.
"Eu estava com uma mão nas costas do meu filho, dizendo para ele não ter medo", disse ele. A família de Afou, com três filhos entre 6 e 13 anos, e vários outros parentes, ficaram horas presos na rodovia enquanto o tráfego se arrastava para o norte. Eles não sabiam onde ficariam, disse ele, mas apenas queriam chegar a Beirute.
Libaneses prometem voltar
Na região do município de Sidon, longas filas se formaram na rodovia que leva a Beirute. O movimento foi acompanhado de perto pelas forças de segurança libanesas.
Um homem se inclinou sobre uma mulher no banco do passageiro de um carro para gritar pela janela: "Nós voltaremos. Se Deus quiser, nós voltaremos. Diga ao [primeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu que nós voltaremos".
Mas outro homem, que deu apenas seu primeiro nome, Ahmed, disse que só Deus sabia se sua família poderia voltar para casa. Ele havia parado na beira da estrada, com sua van lotada com mais de 10 pessoas, muitas delas crianças.
"Ataques. Aviões de guerra. Destruição. Não sobrou ninguém lá. Todos fugiram. Pegamos nossos pertences e fomos embora", disse ele.
"A força e a intensidade dos bombardeios são algo que nunca testemunhamos antes em todas as guerras anteriores", disse Abu Hassan Kahoul, a caminho de Beirute com sua família depois que dois prédios foram destruídos perto do bloco de apartamentos onde ele mora.
Até mesmo em Beirute houve um alarme, e os pais correram para tirar seus filhos das escolas. Segundo a Agência Nacional de Notícias do Líbano, controlada pelo governo, o bairro de Beir al-Abed no sul da capital, foi atingido por três mísseis. A TV Al-Manar, do Hezbollah, disse que seis pessoas ficaram feridas. O governo ordenou o fechamento de escolas e universidades na maior parte do país e começou a preparar abrigos para as pessoas deslocadas do sul.
Repercussão internacional
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta segunda-feira que os Estados Unidos tentam acalmar a situação no Líbano após Israel atacar redutos doHezbollah no país.
"Fui informado sobre os últimos acontecimentos em Israel e no Líbano. Minha equipe está em contato constante com as autoridades e estamos trabalhando para diminuir a escalada de uma forma que permita que as pessoas voltem para casa em segurança", disse Biden ao conversar na Casa Branca com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohamed bin Zayed Al Nahyan.
Segundo o porta-voz do Pentágono, general Patrick Ryder, os EUA estão enviando tropas adicionais ao Oriente Médio em resposta à escalada do conflito. "Por uma questão de cautela, estamos enviando um pequeno número adicional de militares americanos para aumentar nossas forças que já estão na região", disse.
Além dos Estados Unidos, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, também expressou preocupação com os bombardeios.
"A dramática escalada da violência na fronteira entre Israel e Líbano é chocante, especialmente os relatos de civis mortos, incluindo crianças", escreveu na rede social X. "É necessária uma solução em conformidade com a resolução 1701 da ONU para a Linha Azul. A lógica de golpe e contragolpe tem consequências catastróficas para a região. A redução da escalada em ambos os lados é a tarefa do momento", enfatizou.
Já o secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, se disse alarmado com a escalada da situação no Líbano e muito preocupado com o grande número de vítimas civis relatadas pelas autoridades libanesas, segundo seu porta-voz, Stephane Dujarric.
Irã acusa Israel de querer ampliar guerra
O presidente do Irã, aliado do Hezbollah, Masoud Pezeshkian, acusou Israel de querer ampliar a guerra travada no Oriente Médio. "Eles estão nos arrastando para um ponto para onde não queremos ir", disse o governante iraniano sobre Israel."Não há vencedor em uma guerra. Estamos apenas nos enganando", concluiu.
O ministério de Relações Exteriores da Síria chamou os ataques israelenses de "criminosos" e pediu que Israel seja condenado por todos os Estados membros das Nações Unidas. A pasta afirmou, em nota, que, desde a madrugada de segunda-feira, Israel "lançou uma agressão contínua" contra o Líbano e acusa o Exército de Israel de ter como alvo centros médicos, ambulâncias e veículos civis, entre outros.
gq/md (Reuters, EFE, AP)