O ataque que deixou ao menos 45 civis mortos e diversos feridos em um acampamento de refugiados em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, pode criar maiores tensões no Oriente Médio e diminuir ainda mais o apoio internacional ao premiê Benjamin Netanyahu. O bombardeiro ocorreu no último domingo (26) e, segundo Israel, seria um ataque aéreo em um complexo do Hamas.
Para Igor Lucena, especialista em Relações Internacionais, uma das principais consequências é a pressão ao governo de Benjamin Netanyahu. “Veremos a diminuição do apoio internacional a Israel, tendo em vista que o ataque teve vítimas inocentes e mostra que não conseguiu focar diretamente nos líderes do Hamas que obviamente eram os alvos”, afirma.
Além da pressão externa, há também a da população israelense, que está insatisfeita com o comando de Netanyahu. “Ele já vem perdendo apoio popular, não há visão clara de mais libertações de reféns, que é um dos principais objetivos do povo israelense”, avalia.
Nesta segunda-feira (27), o primeiro-ministro de Israel citou que o ataque “foi um erro trágico”. O Exército israelense citou que o bombardeiro era legítimo sob as leis internacionais, justificando o ataque apesar da ordem da Corte Internacional de Justiça em Haia, pedindo para o governo interromper as operações militares em Rafah.
Igor Lucena pontuou que a Corte Internacional poderá influenciar para que os ataques não ocorram mais, mas há uma descrença no poder de Haia. “Para alguns aliados de Israel, as decisões não afetam de fato os posicionamentos de Israel e por isso, descredibilizam a Corte Internacional. Acho que provavelmente ela pode aumentar o seu peso e acusações”, indica.
Após a ordem de Haia, Israel disse que as alegações da Corte eram “falsas, ultrajantes e nojentas” e chegou a afirmar antes do ataque de domingo (26) que a campanha militar israelense não levou e não vai levar à destruição da população palestina civil em Rafah.
Tensão no Oriente Médio pode aumentar ainda mais
Com o novo ataque a Rafah, a expectativa é de que a tensão entre os países no Oriente Médio fique ainda maior. Para Igor Lucena, uma possível condenação do mundo árabe sobre o ataque pode diminuir ainda mais a popularidade de Netanyahu.
“Isso não favorece o objetivo da população de Israel, que, além da libertação dos reféns, é a normalização das relações com a Arábia Saudita, os sauditas vão condenar isso e vai tensionar mais ainda”, pontua.
As tensões no Irã, causadas pela morte de Ebrahim Raisi, também podem afetar a questão entre Israel e Palestina. “A desestabilização no Irã pode piorar se descobrirmos que não foi um acidente. Então temos um foco de tensão no Irã e agora um maior em Israel. Israel, por ser uma potência atômica, produtor de armamentos, dificilmente vai parar com o seu objetivo militar mesmo sem apoio”, analisa.