Arthur do Val (União) informou nesta quarta-feira (20) que vai renunciar ao mandato de deputado estadual de São Paulo. Ciente de que deve perder seu mandato, ele tenta preservar os direitos políticos, mas o processo para a cassação de seu cargo na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) continua.
“Sem o mandato, os deputados agora serão obrigados a discutir apenas os meus direitos políticos e vai ficar claro que eles querem na verdade é me tirar das próximas eleições", disse em comunicado.
Ele ainda afirmou ser vítima de “processo injusto e arbitrário dentro da Alesp”, classificado por ele como perseguição política.
“Vou renunciar ao meu mandato em respeito aos 500 mil paulistas que votaram em mim, para que não vejam seus votos sendo subjugados pela Assembleia. Mas não pensem que desisti, continuarei lutando pelos meus direitos”, finalizou em suas justificativas.
O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) já havia aprovado no dia 12 deste mês, por unanimidade, o relatório que pedia a cassação do mandato do então deputado estadual, conhecido como Mamãe Falei, por quebra de decoro parlamentar.
Os nove membros do conselho acataram o parecer do relator Delegado Olim (PP). O processo contra o deputado foi aberto após áudios sobre refugiadas ucranianas terem vazado no início de março, durante viagem para suposta ajuda humanitária ao país do Leste Europeu, invadido pela Rússia no fim de fevereiro.
Do Val disse nos áudios que mulheres ucranianas são “fáceis, porque são pobres”. entre outras declarações machistas.
O pedido de cassação seguirá agora para votação em Plenário, em forma de projeto de lei. A perda de mandato só ocorrerá se a maioria dos 94 deputados estaduais votarem a favor do projeto. Com isso, caso aprovado, o deputado deve perder os direitos políticos por oito anos, podendo voltar a disputar as eleições somente a partir de 2032.
Em discurso, o deputado protestou contra o processo de cassação. "Esse processo de cassação aqui não é um processo de cassação pelos meus defeitos. É um processo de cassação pelas minhas virtudes — afirmou o parlamentar, citando episódios em que teria barrado privilégios aos deputados da Alesp.
Com grande base como influenciador digital da direita, Arthur foi apoiado por manifestantes do Movimento Brasil Livre (MBL), do qual faz parte, que fizeram uma manifestação em frente à Assembleia.
Pelo antigo Democratas, do Val foi o segundo mais votado nas eleições de 2018, quando recebeu 478.280 votos, ficando atrás apenas de Janaina Paschoal, que recebeu mais de 2 milhões de votos. Depois, acabou expulso da legenda no fim de 2019 e migrou para o Podemos, do qual se desfiliou após a repercussões dos áudios.
O caso
Arthur do Val foi à Ucrânia em meio à guerra no país e chegou a postar uma foto nas redes sociais onde estaria ajudando a produzir coquetéis molotov para combater os russos.
Ao deixar o país, na fronteira com a Eslováquia, o deputado enviou um áudio a amigos, elogiando a beleza das refugiadas ucranianas. Em seguida, afirmou que pretende voltar ao Leste Europeu e disse que as mulheres lá são “fáceis” por serem pobres.
“Assim que essa guerra passar eu vou voltar pra cá. E detalhe, elas olham. E são fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheio de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, a gente não tinha tempo, mas colei em dois grupos de minas e é inacreditável a facilidade”, disse ele no áudio.
Na chegada ao Brasil, o deputado deu entrevistas confirmando ser o autor do áudio e retirou sua pré-candidatura ao governo do estado de São Paulo. Ele afirmou ter cometido “um erro em um momento de empolgação”.
“Não é isso que eu penso. O que eu falei foi um erro em um momento de empolgação. A impressão que está passando aqui é que eu cheguei lá, tinha um monte de gente, e eu falei 'quem quer vir comigo que eu vou comprar alguma coisa'. Não é isso. Eu fui pra fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz e a impressão que passou é que fui fazer outra coisa”.