A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu criar um Comitê Técnico da Emergência para Varíola dos Macacos para que as áreas técnicas de pesquisa clínica, de registro, de boas práticas de fabricação, de farmacovigilância e de terapias avançadas atuem em processo colaborativo, inclusive com os profissionais de saúde e a comunidade científica.
A expectativa é que esse comitê reúna as melhores experiências disponíveis nas autoridades reguladoras, permitindo acelerar o desenvolvimento e as ações que envolvam pesquisas clínicas e autorização de medicamentos e vacinas.
“A equipe técnica atuará com orientações sobre protocolos de ensaios clínicos e discutindo com os desenvolvedores orientações sobre ensaios clínicos de medicamentos destinados a tratar, prevenir ou diagnosticar a doença causadora da emergência de saúde pública. O objetivo dessas orientações para desenvolvedores, incluindo acadêmicos, é permitir a rápida aprovação e condução de testes bem projetados, para que possam fornecer dados robustos necessários para a tomada de decisões e evitar a duplicação de investigações”, informou a Anvisa.
Entenda a doença
A varíola do macaco é uma infecção viral rara considerada mais leve que a varíola humana registrada no passado. Ela foi registrada pela primeira vez na República Democrática do Congo na década de 1970, e o número de casos tem aumentado na última década na África Ocidental.
De acordo com Álvaro Furtado, infectologista do Hospital das Clínicas da USP, existem registros na literatura de pessoas que viajaram para a África, tiveram contato com primatas e desenvolveram a doença. O que intriga os estudiosos no momento é que começaram a aparecer casos na Europa de pacientes que não viajaram e nem tiveram contato com pessoas que viajaram.
Segundo o infectologista, os principais sintomas da varíola do macaco são febre, dor no corpo e aparecimento de lesões na pele, semelhantes a bolhas de água, simétricas, assim como ínguas na região genital. O principal meio de transmissão é através do contato direto com as lesões na pele, mas ela também é transmitida por gotículas e pelo contato com roupas de cama, por exemplo.
O problema é que ela tem uma incubação muito longa, de até 21 dias, o que torna difícil isolar o paciente. E pode durar esse mesmo tempo para a cicatrização completa das feridas, quando a pessoa deixa de ser contagiosa.
“Essas lesões podem ulcerar. Uma complicação pode ser uma bactéria entrar e causar uma infecção de pele mais grave. Quem viajou ou teve contato com alguém que viajou [aos países que registraram a doença] tem que notificar o serviço de saúde, a vigilância epidemiológica."
Existe vacina?
Os cientistas avaliam que a vacina da varíola humana pode apresentar uma imunidade cruzada com esse vírus da varíola dos macacos. “São vírus primos, parecidos do ponto de vista genético. Mas como a maioria das pessoas não tomou essa vacina, já que o vírus foi erradicado há muito tempo, não temos essa proteção”, diz Furtado.
Para a infectologista Paula Tuma, gerente de controle de infecções do Hospital Israelita Albert Einstein, “o surgimento de uma doença infecciosa sempre preocupa e é preciso pensar em como contê-la”. Neste caso, a melhor forma seria a vacina, já que o imunizante contra a varíola humana parece funcionar contra a dos macacos também. Mas ela não está disponível em grande escala.