O gelo marinho ao redor da Antártida atingiu o nível mais baixo já registrado no inverno, desde que começaram as medições há 44 anos, divulgou nesta segunda-feira (25) o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos Estados Unidos (NSIDC, na sigla em inglês). O recorde ocorreu no momento em que a superfície estava em seu tamanho máximo, gerando preocupações de que o impacto das mudanças climáticas esteja aumentando nessa região.
O gelo marinho ao redor da Antártida derrete durante o verão, alcançando seu nível mais baixo em fevereiro e março, e volta a se formar no inverno, com o pico de sua extensão sendo registrado por volta de setembro. Em 10 de setembro, essa cobertura atingiu o tamanho máximo registrado neste ano de 16,96 milhões de metros quadrados, segundo o NSIDC. "Essa é de longe a menor máxima já registrada entre 1979 e 2023", disse o observatório americano.
Isso representa 1,03 milhão de metros quadrados a menos do que o recorde negativo anterior, ocorrido em 1986, o equivalente ao dobro da área da França. O NSIDC disse ainda que os números são preliminares e uma análise completa será divulgada no próximo mês.
"Não é apenas um ano de quebra de recorde, é um ano de quebra de recordes extremos", destacou Walt Meier, pesquisador do NSIDC.
Em fevereiro deste ano, o gelo marinho da Antártida também bateu o recorde mínimo registrado, atingindo seu ponto mais baixo, com uma extensão de 1,79 milhão de metros quadrados, segundo o observatório americano.
Crise climática
Por décadas, a camada de gelo marinho na Antártida se manteve estável e chegou inclusive a aumentar ligeiramente. Mas desde agosto de 2016, segundo o NSIDC, o cenário mudou e essa camada começou a encolher gradualmente.
A causa da mudança tem sido um ponto de debate entre os cientistas. Alguns hesitam em estabelecer uma ligação formal com o aquecimento global, pois no passado modelos climáticos tiveram dificuldades em prever alterações no gelo marinho da Antártida.
Agora, o observatório acredita que essa mudança possa estar relacionada ao aquecimento dos oceanos, provocado principalmente por emissões de gases do efeito estufa gerados pela ação humana.
Impactos do derretimento da região
Pesquisadores alertam que essa mudança pode ter grave repercussão para os animais que habitam a Antártida, como os pinguins, que se reproduzem e criam seus filhotes no gelo, além de acelerar o aquecimento global, ao reduzir a quantidade de luz solar refletida de volta para o espaço pelo gelo branco.
Esse derretimento de gelo não tem um impacto imediato no nível do mar, porque essa camada se forma com o congelamento de água salgada que já está no oceano. No entanto, essa perda expõe ainda mais a costa da Antártida às ondas, o que poderia desestabilizar a concha polar, que é composta de água doce e cujo derretimento causaria um aumento catastrófico do nível do mar.
cn/ek (DW, AFP)