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Aliados de Lula criticam silêncio do governo sobre aniversário do golpe de 64

Grupo avalia que Lula (PT) deveria ter se posicionado ainda mais após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se tornar réu por tentativa de golpe

Por Estadão Conteúdo

Aliados de Lula criticam silêncio do governo sobre aniversário do golpe de 64
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Ricardo Stuckert / PR

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e as Forças Armadas vão ignorar o aniversário do golpe militar de 1964, no próximo dia 31 de março. A orientação, segundo apurou o Estadão, é tratar a data como um outro dia qualquer. A decisão tem sido alvo de críticas de aliados de Lula, que consideram o silêncio "constrangedor", especialmente após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se tornar réu por tentativa de golpe.

A Ordem do dia alusiva ao 31 de março, feita pelas Forças Armadas, deixou de existir desde os primeiros anos da década de 2010. O ministério da Defesa só retomou a leitura do documento seguindo ordens do então presidente Jair Bolsonaro, em 2019. Como mostrou o Estadão, em 2023, primeiro ano do governo Lula, a decisão de Bolsonaro foi extinta. Essa prática já havia sido interrompida durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Desde o início do atual governo, que foi marcado pelos atos golpistas de 8 de janeiro, Lula optou por evitar qualquer menção à data, dado o momento de ânimos acirrados entre o Planalto e os militares. A decisão é defendida sobretudo pelo ministro da Defesa, José Múcio, que, em meio às acusações sobre o envolvimento das Forças Armadas na tentativa de golpe, se tornou a principal voz em defesa da instituição dentro do governo. Múcio é considerado um dos responsáveis pela distensão entre os comandantes e Lula.

Em entrevista ao Roda Viva no início do ano, Múcio afirmou que o País deve aos militares o fato de não ter sofrido o golpe de 8 de janeiro, declaração criticada por correligionários do presidente Lula, que argumentam uma possível participação das Forças Armadas nos ataques em Brasília. Na ocasião, o titular da Defesa também defendeu penas mais brandas a parte dos envolvidos na invasão.

O silêncio sobre o 31 de março é visto como constrangedor por alguns petistas, que consideram importante o resgate da memória e do que se sucedeu nos anos da ditadura militar.

Para lembrar das atrocidades, censura e violência do período, integrantes do PT participarão de dois atos públicos em repúdio ao golpe de 1964: uma manifestação na Avenida Paulista, no domingo, e um encontro na PUC-SP organizado pelo Grupo Prerrogativas na segunda-feira. A universidade, que foi invadida por policiais durante a ditadura, recebe o evento que também tem como um dos motes a oposição à anistia dos responsáveis pela depredação da sede dos Três Poderes.

Entre os presentes na PUC-SP, estarão Marco Aurélio Carvalho, organizador do evento e coordenador do Grupo Prerrogativas, e figuras da velha guarda do PT, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José Genoino, que foi assessor do ministério da Defesa.

Ao Estadão, o presidente estadual do PT paulista, deputado federal Kiko Celeguim, minimizou a decisão de Lula, dizendo que o governo tem a sua agenda e deve ter outras prioridades. "Nós, enquanto partido, estamos nos mobilizando para relembrar esses tempos nefastos da política nacional e repudiar qualquer tentativa de atraso ao estado democrático de direito. Por isso, vamos nos somar aos movimentos sociais e outros partidos no ato de domingo na Paulista", afirmou.

Sobre o silêncio do governo, Marco Aurélio, que coordena o evento na PUC-SP, contemporiza e reitera que não tem dúvida de que o governo tem um compromisso sincero e indiscutível com a defesa da democracia e das instituições. Ele cita a escolha do dia 8 de janeiro como a data da vitória da democracia e a criação do Observatório da Democracia pela Advocacia-Geral da União.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania disse, em nota, que a ministra Macaé Evaristo participará de uma reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais no dia 31.

"O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania baliza suas ações na defesa da democracia, compromisso sinalizado fortemente no mês de março, data que relembramos o Golpe Militar de 1964. A pasta demonstra, por meio de ações, seu compromisso com a democracia, verdade e memória da história política do Brasil", afirmou a assessoria de imprensa da pasta ao ser questionada sobre a programação para a data.

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