O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não mediu palavras. No sábado passado (17), ele disse que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) marcharão para a cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza – mesmo que os negociadores consigam chegar a um acordo que permita ao Hamas libertar todos os reféns israelenses restantes. "Mesmo que consigamos isso, entraremos em Rafah", disse Netanyahu em discurso televisionado. "Nós vamos fazer isso."
De acordo com Israel, 130 reféns ainda são mantidos pelo grupo terrorista Hamas.
Estima-se que 1,4 milhão de pessoas estejam em Rafah. Muitas delas fugiram, algumas várias vezes, de outros lugares da Faixa de Gaza para encontrar refúgio dos ataques israelenses.
As IDF iniciaram operações em grande escala em Gaza em resposta ao ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, no qual terroristas do Hamas mataram cerca de 1.200 pessoas e fizeram cerca de 240 reféns.
Até o momento, mais de 29 mil palestinos morreram em ataques israelenses na Faixa de Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas. Em Rafah, a situação humanitária é desastrosa, com muitas pessoas vivendo nas ruas ou em tendas, sob baixas temperaturas, com pouco acesso a alimentos e água potável.
O plano de Israel de atacar Rafah provocou reações de preocupação em todo o mundo, incluindo aliados de Israel.
Estados Unidos
O governo dos Estados Unidos, o mais forte aliado de Israel, declarou no domingo que vetaria uma resolução da ONU, cujo esboço pede um cessar-fogo humanitário imediato e acesso humanitário irrestrito a Gaza, e rejeita o deslocamento forçado de palestinos.
Mas até mesmo o presidente dos EUA, Joe Biden, parece estar alarmado diante do plano de uma ofensiva terrestre em Rafah. Na quinta-feira, ele disse a Netanyahu, numa ligação telefônica, que Israel não deveria prosseguir com a incursão militar em Rafah sem um plano credível e executável para proteger os civis palestinos, segundo a Casa Branca.
Netanyahu disse apenas que Israel está "elaborando um plano detalhado" para onde os mais de 1 milhão de civis palestinos, que receberam ordens de se retirar de outras partes de Gaza e não podem sair do enclave, poderiam ir para estarem seguros. "As áreas que liberamos ao norte de Rafah são [seguras]. Há muitas áreas lá", disse.
Alemanha
O governo alemão reiteradamente destacou, no atual conflito, o direito de Israel de se defender, mas a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, alertou contra uma ofensiva terrestre em Rafah.
"Uma ofensiva do Exército israelense em Rafah seria uma catástrofe humanitária pré-anunciada", escreveu Baerbock na plataforma de mídia social X. "As pessoas em Gaza não podem simplesmente desaparecer no ar".
O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, disse em entrevista ao jornal Süddeutsche Zeitung estar "muito preocupado" com as consequências da planejada ofensiva terrestre em Rafah. Na Conferência de Segurança de Munique, no sábado, ele reiterou o que tem sido a linha da Alemanha desde o início do conflito: "Israel tem o direito de defender o próprio país."
Arábia Saudita
Antes do 7 de Outubro, Arábia Saudita e Israel estavam a caminho de normalizar suas relações por meio dos Acordos de Abraão. Mas esses esforços foram interrompidos com a ofensiva de Israel em Gaza. E Riad deixou bem claro que se opõe fortemente a um ataque a Rafah.
"O Reino da Arábia Saudita adverte para as gravíssimas repercussões de invadir e atacar a cidade de Rafah, na Faixa de Gaza, que é o último recurso para centenas de milhares de civis forçados a fugir pela brutal agressão israelense", diz uma declaração de 10 de fevereiro da Agência de Imprensa Saudita, a agência de notícias oficial do governo. "O reino afirma sua categórica rejeição e forte condenação da deportação forçada deles, e renova sua exigência por um cessar-fogo imediato."
África do Sul
A África do Sul levou Israel à Corte Internacional de Justiça (CIJ), acusando o país de genocídio do povo palestino. Na sexta-feira, o pedido da África do Sul ao tribunal para instituir medidas para proteger Rafah, especificamente, foi rejeitado pelos juízes da CIJ.
O tribunal enfatizou, no entanto, que Israel deve "cumprir integralmente suas obrigações segundo a Convenção sobre Genocídio (...), incluindo garantir a segurança e a proteção dos palestinos na Faixa de Gaza" e que continua vinculado à sua decisão de janeiro. Naquele mês, a CIJ havia respondido à solicitação da África do Sul de medidas provisórias ordenando que Israel fizesse todo o possível para prevenir mortes, a destruição e quaisquer atos de genocídio em Gaza.
Israel: "Não perderemos a guerra"
Israel, porém, rejeita as críticas internacionais, dizendo que atacar Rafah é um passo necessário para atingir seu objetivo de destruir o Hamas.
"Aqueles que querem nos impedir de operar em Rafah estão basicamente nos dizendo: 'Percam a guerra'", disse Netanyahu. "É verdade que há muita oposição no exterior, mas este é exatamente o momento em que precisamos dizer que não vamos fazer metade ou um terço do trabalho."
Autor: Carla Bleiker