O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, classificou neste domingo (08/10) os ataques do grupo Hamas a Israel, que deixaram centenas de mortos, como "atos bárbaros". A indignação do governo alemão, que mantém relações próximas com Israel, também deve ter outros desdobramentos. A ministra da Cooperação e Desenvolvimento do governo Scholz, Svenja Schulze, afirmou também neste domingo que a Alemanha pretende reexaminar a ajuda financeira de centenas de milhões de euros que o país fornece aos palestinos todos os anos.
No sábado, dia do ataque do Hamas, Scholz já havia condenado as chacinas de civis israelenses pelos terroristas. Neste domingo, em novas declarações, o chanceler federal afirmou que Israel tem o direito "de proteger seus cidadãos e perseguir os agressores". Scholz também afirmou que falou com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e que assegurou que a Alemanha está "firme e inabalavelmente ao lado de Israel". "A segurança de Israel é de interesse nacional da Alemanha. Isso é especialmente verdadeiro em momentos difíceis como este. E nós agiremos de acordo".
Scholz afirmou ainda que não aceitará "que os ataques hediondos contra Israel sejam celebrados" nas ruas da Alemanha. "O sofrimento, a destruição e a morte de tantas pessoas não podem ser motivo de alegria". No sábado, a polícia de Berlim dispersou uma concentração de pessoas com bandeiras palestinas que estavam celebrando os ataques a Israel e distribuindo doces em uma rua da capital alemã, num bairro que conta com uma grande comunidade muçulmana.
Em reação ao episódio em Berlim, o deputado Dirk Wiese, do Partido Social-Democrata (SPD), a mesma legenda de Scholz, pediu medidas duras contra os apoiadores do Hamas na Alemanha.
"Qualquer solidariedade aqui na Alemanha com organizações terroristas como o Hamas ou o Hezbollah deve receber uma resposta dura e consistente usando todos os meios legais à nossa disposição, em particular a expulsão [da Alemanha] de acordo com a Seção 54, Parágrafo 1, No. 2 da Lei de Residência", disse Wiese ao jornal Rheinische Post.
O governo alemão também reforçou a segurança em torno dos edifícios da comunidade judaica e da emabaixada israelense em Berkun, informou a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser. Ela também afirmou que autoridades de segurança da Alemanha monitoram "muito de perto possíveis simpatizantes do Hamas na esfera islâmica" do país.
Governo alemão vai reexaminar auxílio financeiro aos palestinos
Paralelamente às declarações de Scholz, a ministra alemã da Cooperação e Desenvolvimento, Svenja Schulze, afirmou também que o ataque vai levar o governo a reexaminar toda a ajuda financeira que a Alemanha canaliza para os territórios palestinos. Em 2020, a Alemanha, por exemplo, enviou 193 milhões de euros (R$ 1 bilhão) para gastos em ajuda humanitária e desenvolvimento ecônomico para áreas palestinas. Em 2023, os compromissos atuais assumidos pela Alemanha com os palestinos somam 250 milhões de euros.
Segundo a social-democrata Schulze, a Alemanha sempre tomou cuidados para assegurar que os valores não fossem desviados para outros fins e que o dinheiro fosse gasto apenas para fins pacíficos. "Mas esses ataques a Israel marcam uma terrível ruptura", disse ela. "Agora vamos reexaminar todo o nosso compromisso com os territórios palestinos."
Ainda segundo Schulze, a Alemanha pretende discutir com Israel como os projetos de desenvolvimento na região podem vir a ser melhor atendidos e coordenados com parceiros internacionais.
Já o Ministro Federal das Finanças, o liberal Christian Lindner, pediu que a coalizão de governo tome uma decisão rápida sobre a ajuda financeira aos palestinos. "O terror é chocante. Não devemos reagir a ele apenas com palavras", disse Lindner, ao jornal Bild am Sonntag.
Oposição conservadora pede corte total
No entanto, alguns políticos alemães pedem medidas mais drásticas. Membros da oposição conservadora ao governo de coalizão de centro-esquerda-liberal pediram um corte total da ajuda. "Toda a Europa, todos os 27 países, deve dizer agora: precisamos de um novo começo e não financiar mais terroristas", disse o deputado alemão Armin Laschet, que na última eleição federal se apresentou como candidato a chanceler pela conservadora União Democrata-Cristã (CDU), acabando derrotado por Olaf Scholz.
O deputado conservador Alexander Dobrindt, também pediu o fim da ajuda alemã aos palestinos, enfatizando: "Estamos firmemente ao lado de Israel".
A Sociedade Germano-Israelense, por sua vez, pediu ao governo alemão que estabeleça condições claras para os pagamentos aos palestinos. "O terrorismo e o antissemitismo não podem ser financiados com o dinheiro dos impostos alemães", disse o presidente da Sociedade Germano-Israelense (DIG), Volker Beck. Ele, no entanto, não defendeu a interrupção da ajuda financeira, mas sim condições e controles mais rígidos. "Isso requer decisões claras do comitê de orçamento e do Parlamento para o orçamento federal de 2024."
Por outro lado, outros políticos alemães advertiram contra qualquer corte na ajuda fornecida aos palestinos. O deputado Gregor Gysi, um importante membro do partido de oposição A Esquerda, argumentou contra o corte, afirmando que o Hamas, e não todos os palestinos, foi responsável pelo ataque. "As organizações palestinas podem e devem ser apoiadas, mas o Hamas não pode", disse ele à revista Der Spiegel.
jps (ots)