O líder de um movimento radical da extrema direita da Áustria foi proibido de entrar no território alemão, após uma ação movida por autoridades da cidade alemã de Potsdam.
A decisão divulgada nesta terça-feira (19/03) veio pouco mais de dois meses após a revelação de que o austríaco Martin Sellner participou de um encontro em Potsdam com a participação, entre outros, de membros do partido de ultradireita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD), no qual foi discutida a deportação em massa de milhões de imigrantes e de "cidadãos não assimilados", o que incluiria alemães naturalizados de origem migratória.
O encontro, revelado por uma reportagem do site de jornalismo investigativo Correctiv publicada em 10 de janeiro, gerou uma onda de protestos em toda a Alemanha contra a AfD e a extrema direita.
Durante a reunião, os participantes discutiram a chamada "remigração", ou seja: o retorno, forçado ou por outros meios, de "migrantes" ao seu lugar de origem – independente de eles terem cidadania alemã ou não e de terem ou não nascido e vivido a vida inteira na Alemanha.
"Conceito identitário de remigração"
A reportagem informou que Martin Sellner, que lidera o Movimento Identitário Áustria (IBÖ), apresentou aos presentes um plano para expulsar da Alemanha para o norte de África até dois milhões de requerentes de asilo e imigrantes, incluindo aqueles com cidadania alemã que não se integraram no país.
Ele também teria sugerido que, quando a AfD chegasse ao poder, o maior "problema" para o partido seria a expulsão de "cidadãos não assimilados".
Sellner, à época da reportagem, confirmou a presença no encontro. "Apresentei ali o meu livro e o conceito identitário de remigração", ressaltou, usando uma expressão que normalmente a extrema direita usa para falar em deportação de imigrantes para seu país de origem. A palavra também já foi usada em algumas ocasiões por membros da própria AfD.
Potsdam reage
Uma porta-voz da cidade de Potsdam explicou que as autoridades locais invocaram a chamada Lei de Liberdade de Movimentação da União Europeia (UE) para decretar a perda do direito de livre movimentação de Sellner no território da República Federativa da Alemanha.
"Devemos mostrar que o Estado não é impotente e utiliza meios legítimos. As manifestações e os protestos [contra a extrema direita] foram um sinal importante. Estamos deixando claro que a democracia é resiliente. As instituições devem proteger os direitos fundamentais", afirmou em nota o prefeito de Potsdam, Mike Schubert.
As autoridades estaduais são geralmente as responsáveis por permitir ou recusar a entrada de pessoas em seu território. À Polícia Federal cabe aplicar a proibição em nível nacional nos postos de fronteira. Uma pessoa sujeita a uma proibição pode ser imediatamente deportada. Entrar no país em desobediência a essa decisão é considerado um ato criminoso.
Sellner critica "excessos"
Na rede social X, Sellner confirmou o banimento, segundo ele por três anos, e disse que irá apelar da decisão. Ele descreveu a proibição de entrada como uma "arma nuclear", dizendo ser "completamente excessiva", além de, a seu ver, uma violação da ordem democrática.
Segundo afirmou, a lei estaria sendo "interpretada de maneira completamente distorcida". Sellner, que está na Áustria, disse que não tem planos de viajar à Alemanha. Suas próximas aparições no país foram canceladas. Ele disse que se reserva o direito de adotar outras medidas caso as ações na Justiça fracassem.
AfD pressionada
A ampla condenação ao encontro em Potsdam levou a AfD a desligar do partido um assessor da colíder da legenda no Bundestag (Parlamento alemão), Alice Weidel. O funcionário Robert Hartwig participou da reunião na qual Sellner apresentou seu plano para realizar deportações em massa de imigrantes.
Hartwig era considerado braço direito de Weidel, e exerceu mandato como parlamentar do Bundestag de 2017 a 2021, pela AfD. O partido ultradireitista tem uma parcela de suas estruturas sob observação da inteligência alemã por suspeita fundamentada de afronta à Constituição e à ordem democrática.
rc/bl (DPA, EPD)