Quase dois anos após as explosões que danificaram os gasodutos submersos Nord Stream, que abasteciam a Alemanha e a Europa Ocidental com gás russo, a Procuradoria-Geral alemã emitiu uma ordem de prisão contra um ucraniano por suspeita de envolvimento na sabotagem – a primeira no caso.
Segundo noticiado pela imprensa alemã nesta quarta-feira (14/08), o homem, Volodimir Z., fugiu da Polônia e estaria agora na Ucrânia. À agência de notícias dpa, as autoridades polonesas confirmaram o recebimento do mandado de prisão, mas informaram que o suspeito cruzou a fronteira com a Ucrânia no início de julho.
As autoridades polonesas afirmam que a fuga do suspeito foi possível porque a Alemanha não havia incluído o nome dele na lista de procurados em todo o espaço Schengen. Já os relatos na imprensa alemã dão conta de que as autoridades polonesas teriam sido contatadas ainda em junho, quando os investigadores alemães já estavam de posse de um mandado de prisão válido para o espaço Schengen.
"Volodimir Z. cruzou a fronteira antes que pudesse ser preso, e o serviço polonês de proteção de fronteiras não tinha informações nem base para prendê-lo, já que ele não estava listado como procurado", afirmou uma porta-voz da Procuradoria-Geral da Polônia.
Volodimir Z. e outros dois suspeitos – um homem e uma mulher, também ucranianos, mas ainda sem mandado de prisão – seriam mergulhadores e teriam instalado os explosivos no gasoduto. As informações teriam partido de um "serviço secreto estrangeiro". A Procuradoria alemã não se pronunciou sobre o caso.
Governo alemão mantém apoio à Ucrânia
As investigações da Procuradoria alemã sobre a sabotagem não abalam o apoio do país à Ucrânia, ressaltou um porta-voz do governo a jornalistas em Berlim. Independente de seu desfecho, isso não muda o fato de que a "Rússia trava uma guerra de agressão contra a Ucrânia que contraria o direito internacional".
Segundo o porta-voz, as investigações são conduzidas "de acordo com a lei", não importando contra quem nem o resultado, e o governo trata como prioridade o esclarecimento do caso.
Ele não quis comentar possíveis atritos com as autoridades polonesas em torno da investigação do episódio – o país se opôs à construção do gasoduto Nord Stream 2, um projeto polêmico que começou a ser gestado ainda em 2015.
Ainda não se sabe se a sabotagem foi levada a cabo com apoio do governo polonês ou ucraniano. O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, sempre negou qualquer envolvimento no caso.
Sabotagem veio após eclosão da guerra na Ucrânia
Os gasodutos Nord Stream já eram pivô de tensões políticas antes mesmo de serem danificados. No passado, os gasodutos foram muito criticados pelos Estados Unidos e outros países que alertavam para a dependência do gás russo como risco à segurança energética da Europa. O projeto dos gasodutos, construídos entre 2005 e 2021 no fundo do Mar Báltico, no entanto, avançou com apoio decisivo da Alemanha.
A Europa, altamente dependente do gás de Moscou, impôs sanções à Rússia após o país invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022. Em resposta, o presidente russo, Vladimir Putin, suspendeu o envio de gás para vários países europeus.
Em 26 de setembro de 2022, as tubulações de Nord Stream 1 e 2 no Mar Báltico sofreram uma série de explosões inexplicadas. Quatro vazamentos foram descobertos na sequência.
Ucrânia, Rússia e Estados Unidos foram apontados como responsáveis pela sabotagem – todos negaram qualquer papel no episódio.
Autoridades suecas, alemãs e dinamarquesas afirmaram posteriormente ter encontrado vestígios de explosivos em um veleiro que teria sido usado para provocar as explosões.
Na Alemanha, a investigação focou nesse veleiro. Conforme noticiado pela imprensa alemã, ele teria sido alugado por uma empresa sediada na Polônia e associada a dois ucranianos. A embarcação teria partido da cidade portuária de Rostock, no litoral leste do país, com cinco homens e uma mulher a bordo.
O barco chegou a ser parado por autoridades polonesas, que à época concluíram que a viagem teria fins "meramente turísticos". "Não encontramos nenhuma pista de envolvimento deste iate nos eventos", afirmou no ano passado um alto funcionário do governo polonês à emissora alemã ARD.
Segundo o portal Tagesschau, investigadores alemães pediram diversas vezes à Polônia que entregasse imagens de câmeras de segurança do porto de Colberga. Da última vez, ouviram que elas já teriam sido apagadas há muito tempo, em concordância com a lei.
Suécia e Dinamarca posteriormente arquivaram as investigações.
Desde 2011, Nord Stream 1 transportava boa parte do gás importado pela Europa. Porém, no momento do acidente, o gasoduto estava fora de operação: rusgas diplomáticas entre a Rússia e a União Europeia por causa da guerra na Ucrânia levaram Vladimir Putin a fechar as torneiras de gás. As explosões também danificaram Nord Stream 2, mas essa infraestrutura aguardava à época um processo de licenciamento para entrar em operação, o que acabou não acontecendo devido à invasão russa da Ucrânia.
ra (dpa, AFP, DW, ots)