Alemanha denuncia 27 suspeitos de planejar golpe de Estado

Membros do movimento extremista Reichsbürger são acusados de conspirar para derrubar instituições democráticas alemãs e tentar proclamar “príncipe” como novo chefe de Estado.

Por Deutsche Welle

O Ministério Público Federal da Alemanha acusou formalmente 27 extremistas de direita de planejar um golpe de Estado, anunciou o órgão nesta terça-feira (12/12).

O grupo, alvo de uma operação policial em dezembro do ano passado é acusado de tentar derrubar as instituições democráticas alemãs – se necessário com o uso de violência. Parte do plano incluía a invasão do Parlamento alemão (Bundestag), com o apoio de um pequeno grupo de ex-militares.

"Os membros do grupo rejeitam veementemente as instituições do Estado e a ordem constitucional democrática livre", diz a acusação.

De acordo com o Ministério Público Federal, os acusados eram associados ao movimento Reichsbürger (Cidadãos do Império Alemão, em tradução literal), que rejeita Constituição alemã do pós-guerra e pede a queda do governo.

"Desde agosto de 2021, o pequeno grupo preparava, com um braço armado, a invasão da Câmara Baixa do Parlamento alemão (Bundestag) em Berlim, com o objetivo de prender os deputados e derrubar o sistema", sublinhou o Ministério Público Federal alemão.

"Príncipe" líder do grupo

Um dos acusados é o suposto líder do grupo, "príncipe" Heinrich 13º Reuss, descendente de uma linhagem aristocrata do estado da Turíngia e que seria proclamado o novo chefe de Estado, caso o golpe tivesse sido bem-sucedido. Ao assumir o cargo, ele negociaria um tratado de paz com as potências aliadas que venceram a Segunda Guerra Mundial. As investigações mostram que Reuss teria tentado se reunir com representantes do governo russo para obter apoio ao golpe.

Entre os acusados também está Birgit Malsack-Winkemann, juíza e ex-deputada do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que exerceu mandato no Bundestag de 2017 a 2021 e teria dado a conspiradores acesso a edifícios parlamentares.

Outro membro identificado é Rüdiger von P., um ex-comandante de paraquedistas de 69 anos.

Segundo os promotores, o complô previa que Heinrich 13º assumisse a liderança do Estado alemão caso o golpe fosse bem-sucedido, enquanto Rüdiger seria nomeado o chefe do braço militar.

Entre 1993 e 1996, Rüdiger von P. foi comandante do batalhão de pára-quedistas 251, que posteriormente ajudou a formar o KSK. Ele teria sido expulso do exército devido à venda não autorizada de armas dos estoques do antigo exército da Alemanha Oriental.

Segundo informações da imprensa alemã, Rüdiger costuma passar parte do seu tempo no Brasil. Há empresas registradas em seu nome em Santa Catarina e ele parece ter atuado como representante comercial de companhias de energia no Brasil.

Recrutamento de policiais

As autoridades também afirmam que o grupo extremista também teria tentado recrutar soldados e policiais e elaborado listas de inimigos. Os acusados estavam cientes de que os planos poderiam resultar em mortes, mas estavam dispostos a arcar com as consequências.

A BBC noticiou que, para participar do grupo golpista, os membros teriam sido obrigados a assinar uma declaração de sigilo – quem não cumprisse as regras seria executado por alta traição. Ainda de acordo com a BBC, os conspiradores teriam tido acesso a cerca de 380 armas de fogo e 148 mil cartuchos de munição.

Nos últimos anos, o número crescente de membros do Reichsbürger tem alarmado as autoridades de segurança alemãs. O Gabinete para a Proteção da Constituição estima que o grupo tivesse cerca de 23 mil seguidores no ano passado – em 2021, eram 21 mil. Cerca de 2,3 mil membros são considerados orientados para a violência.

No dia 7 de dezembro do ano passado, o Ministério Público Federal prendeu 25 mulheres e homens em vários estados federais, Áustria e Itália. Desde então, o círculo de suspeitos cresce constantemente, à medida que a investigação avança.

le (dpa, Lusa, ots)

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