Quais são os impactos do Acordo Mercosul-União Europeia para o Brasil

Após anos de negociação, o acordo é celebrado por muitos, mas a resistência de setores como o agronegócio francês ainda levantam debates

Por Gabrielle Pedro

Quais são os impactos do Acordo Mercosul-União Europeia para o Brasil
Mercosul
Reprodução

Após décadas de negociações e diversas barreiras, o Mercosul e a União Europeia firmaram nesta sexta-feira (6) um acordo comercial, que busca fortalecer as relações econômicas entre os dois blocos. Representando aproximadamente 25% do PIB mundial, o pacto visa reduzir tarifas, ampliar o comércio de produtos agrícolas e manufaturados e promover maior integração econômica. A assinatura ocorreu em Montevidéu, no Uruguai.

O acordo é celebrado por muitos como uma oportunidade para estimular o crescimento econômico e atrair investimentos, especialmente em infraestrutura e sustentabilidade. No entanto, a resistência de setores como o agronegócio francês e questões ambientais ainda levantam debates e ajustes necessários antes da plena implementação, prevista para os próximos anos.

Para entender melhor o que esse acordo muda para os brasileiros, na prática, o Band.com.br ouviu três especialistas em política internacional.

Agronegócio 

Rabih Nasser, professor de direito internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que o agronegócio brasileiro será um dos grandes beneficiados. "O Brasil vai conseguir uma abertura muito importante para seus produtos agrícolas, com a retirada de tarifas. Isso vai permitir que produtos como carne, soja e açúcar cheguem ao mercado europeu a preços mais competitivos." Ele destaca que, no contexto global, essa abertura tem o potencial de consolidar o Brasil como um dos principais players do setor agropecuário.

Outro ponto mencionado por Nasser é o impacto no setor energético, que se alinha ao interesse estratégico europeu. "O Brasil é um parceiro estratégico da Europa no fornecimento de petróleo, e o hidrogênio verde é uma grande aposta para o futuro. Isso abre caminhos para que o Brasil expanda sua presença no mercado energético internacional."

Desafios para o Brasil

Para Alexandre Uehara, coordenador do curso de Relações Internacionais da ESPM, o acordo também representa desafios, especialmente para a indústria brasileira. Ele aponta que a competitividade dos produtos europeus pode colocar em xeque a sobrevivência de algumas indústrias nacionais. "Se por um lado o setor agropecuário tende a ser beneficiado, por outro, a indústria brasileira terá que lidar com a entrada de produtos europeus, que têm maior valor agregado e competitividade."

Uehara ressalta a importância de investimentos internos em inovação e infraestrutura para que a indústria brasileira se torne mais competitiva em relação aos produtos europeus. "Sem investimentos estruturais e uma política industrial consistente, a indústria brasileira pode perder espaço no mercado doméstico e no exterior."

Compromissos ambientais

Uma questão central do acordo é a sustentabilidade, ponto que Alexandre Uehara reforça como indispensável para o Brasil aproveitar plenamente o pacto. "A questão ambiental será um tema central. O Brasil precisa melhorar sua imagem nesse sentido, não só para implementar o acordo, mas para se posicionar melhor no comércio internacional."

Moisés Marques, professor de Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), concorda que as questões ambientais estão no centro das exigências da União Europeia. Ele destaca que os compromissos ambientais serão imprescindíveis para a implementação. "A implementação do acordo está vinculada a compromissos ambientais claros. O Brasil precisará demonstrar que está combatendo o desmatamento e promovendo práticas sustentáveis."

Benefícios para o Brasil

Para Marques, o acordo reflete uma movimentação estratégica da União Europeia em busca de diversificação comercial e redução de dependências externas. "A Europa tem interesse em diminuir sua dependência de potências como Estados Unidos e China. O Mercosul, e particularmente o Brasil, aparece como uma alternativa estratégica nesse cenário."

Ele aponta que o Brasil tem uma posição privilegiada, mas precisa consolidar essa vantagem estratégica com políticas consistentes. "O Brasil precisa aproveitar o acordo para fortalecer sua presença internacional e atrair investimentos que impulsionem setores estratégicos."

Impactos a longo prazo

Os especialistas convergem em que os impactos do acordo serão sentidos a longo prazo, com benefícios surgindo de forma gradual. "Esses acordos não têm efeito imediato; eles são como sementes que precisam ser cultivadas com políticas públicas consistentes e visão estratégica", afirma Marques.

Uehara complementa, reforçando que a capacidade de adaptação será determinante para o sucesso do Brasil nesse novo cenário. "Será preciso investir em infraestrutura, inovação e sustentabilidade para que o Brasil aproveite todo o potencial desse acordo."

Nasser conclui que, além do impacto econômico, o acordo tem o potencial de redesenhar as relações geopolíticas entre o Brasil e o restante do mundo. "Esse tipo de pacto é também um movimento estratégico, que pode posicionar o Brasil de forma mais relevante nas cadeias globais de valor."

O acordo entre União Europeia e Mercosul é um marco nas relações comerciais entre os dois blocos e traz tanto oportunidades quanto desafios. No caso do Brasil, ele oferece a chance de fortalecer o agronegócio, expandir a presença no setor energético e reposicionar-se geopoliticamente. Contudo, o sucesso dependerá de políticas públicas sólidas, investimento em infraestrutura e uma postura proativa na questão ambiental. A implementação exigirá esforços coordenados entre governo, setor privado e sociedade para que o Brasil aproveite plenamente o potencial desse acordo histórico.

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