Ações para recuperar corais são ampliadas no Nordeste brasileiro

Projeto Coralizar, que já recuperou mais de 2,5 mil corais, chega a Tamandaré, no sul de Pernambuco e planeja expansão para outras praias

Por Evandro Almeida Jr

Ações para recuperar corais são ampliadas no Nordeste brasileiro WWF-BRASIL
Ações para recuperar corais são ampliadas no Nordeste brasileiro
WWF-BRASIL

Tamandaré é o novo local escolhido pela Biofábrica de Corais no Projeto Coralizar para ajudar na recuperação de corais. A ampliação desse projeto, criado em 2019, vem em um ano em que ondas de calor são esperadas e corais já esbranquiçados podem vir a morrer. 

O projeto já ajudou a salvar mais de 2.500 corais das espécies Mussismilia harttii e Millepora alcicornis em Porto de Galinhas, no litoral Sul de Pernambuco, na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, a maior área marinha protegida do país que se estende também por quase metade do litoral de Alagoas. 

Os recifes de corais são indispensáveis para a manutenção de toda a vida marinha. Estima-se que 25% das espécies dos oceanos sejam dependentes de recifes de corais em alguma fase de seu ciclo de vida. Além disso, pesquisadores destacam que os recifes de corais auxiliam no equilíbrio do clima em todo o mundo e funcionam como barreiras naturais na proteção de regiões costeiras, onde vivem mais de 60% da população brasileira.

Tamandaré é um dos municípios mais afetados pelo branqueamento de corais nos últimos tempos. Apesar de não haver dados precisos sobre a quantidade perdida, moradores relatam que a redução é perceptível. Com o trabalho de restauração, a expectativa é de ampliação da cobertura de corais na região, beneficiando diretamente a biodiversidade local e aumentando as possibilidades de turismo sustentável com a prática de mergulhos. 

Escolhida por ser endêmica do Brasil e ameaçada de extinção, a Mussismilia harttii é fundamental para ações de restauração, porque contribui para a conservação dos recifes como um todo. Já a Millepora alcicornis, apesar de não constar como ameaçada na lista vermelha cresce mais rápido, facilitando os resultados no cultivo. 

Nas ondas de calor de 2019 e 2020, ambas as espécies sofreram sérios danos, com altos índices de branqueamento. “Precisamos ter um entendimento que os corais estão sob ameaça, e precisamos propor ferramentas efetivas para promover a sua resiliência”, explica Rudã Fernandes, coordenador técnico da Biofábrica de Corais.

De acordo com Ana Lídia Gaspar, diretora executiva do Instituto Recifes Costeiros, o fato de o laboratório ser próximo da área de estudo e recuperação dos animais é uma das grandes vantagens da ação em Tamandaré. “Estamos ansiosos em poder ter essas medidas de taxas de recuperação, de sobrevivência, desses fragmentos que estavam ali, condenados, e que a gente pôde recuperar e restaurar nossos recifes. Nosso objetivo é crescer”, diz a diretora.

Como funciona o laboratório? 

A recuperação de corais começa com a coleta dos animais que se desprenderam das colônias e que seriam soterrados e mortos. Esse desprendimento ocorre por diversos fatores como o enfraquecimento do próprio animal, ações mecânicas — como movimentos das marés —, ou ações humanas, como pisoteamento e choque com embarcações ou remos. Depois, já em laboratório, os animais são fragmentados em partes menores, medidos, pesados e instalados em mesas de cultivo antes de serem colados nos berçários e devolvidos ao mar. Os “berçários”, como chamam os pesquisadores, são estruturas especialmente desenvolvidas para acomodar os corais recolhidos do fundo do mar, permitindo que eles possam se recuperar e cresce novamente. “São fundamentais para o planejamento e desenvolvimento de técnicas de restauração de corais em larga escala e de forma sustentável”, afirma Vinícius Nora, analista de conservação do WWF-Brasil.

Participação popular e cuidado 

O envolvimento das comunidades locais é também fundamental. Por isso, em Tamandaré, a transmissão de conhecimento para o manejo de corais tem sido direcionada aos moradores, em especial pelos agentes do Instituto Recifes Costeiros, que também são pescadores e ex-pescadores. “As atividades de capacitação são teóricas e práticas e já resultaram nos primeiros berçários de corais implementados”, diz Rudã Fernandes.

O pescador João Virgínio, agente de campo do Instituto Recifes Costeiros, diz que o projeto vai ajudar a recuperar a paisagem e que se sente feliz por fazer parte disso. “Isso é muito importante para mim: ao invés de ver o coral ali, caído e morto, e não poder fazer nada, hoje eu sei como é que se faz. Então, é importante para mim e para minha família poder participar”, frisa.

O manejo dos animais, apesar do uso de ferramentas como furadeiras e alicates, precisa ser delicado, preciso e rápido. É uma luta contra o tempo para deixá-los fora da água o mínimo possível. “É um trabalho que dá uma satisfação. E agora a gente está devolvendo para o mar o que foi destruído. Estamos na reconstrução para aumentar a população de corais”, diz o pescador Paulo Fernando, agente de campo do Instituto Recifes Costeiros.

A médio e longo prazo, a perspectiva é de ampliar as regiões de atuação. Rudã acrescenta que quer continuar fomentando a integração da conservação com atividades econômicas locais. “Que mais pessoas dependam e percebam nos corais, fator fundamental para conseguirem manter seus estilos de vida.”

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