Poças de sangue e pessoas mortas ao lado de crianças. Essa foi a cena encontrada pela defensora pública do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, Maria Julia Miranda, na favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, após a operação da Polícia Civil nesta quinta-feira.
"Primeiro o choque inicial foi a quantidade de sangue nos becos da favela. Era muita poça de sangue. A segunda casa que nós visitamos era a casa de uma família, um casal e uma criança de 8 anos. Nessa casa um rapaz foi executado no quarto da menina de 8 anos. Essa família viu a execução, inclusive a menina de 8 anos. Tinha uma poça de sangue nesse quarto, a cama dessa criança lotada de sangue, inclusive a coberta que ela usa, estava lá, nessa poça de sangue. Essa menina está completamente traumatizada"
A ação, que terminou com a morte de 25 pessoas na comunidade, é considerada pela comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio a maior chacina em uma operação policial no estado. A ONU criticou a ação policial e pediu uma investigação independente da chacina mais letal do RJ.
Segundo a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB no Rio, Nadine Borges, são vários os relatos de agressão física, fechamento de serviços públicos como escolas e unidades de saúde, suspensão da vacinação, clima de terror generalizado e familiares procurando parentes desaparecidos.
O Disque-Denuncia afirma que recebeu 16 informações sobre a operação. A primeira foi às 8h, relatando intenso tiroteio na região, e que traficantes estariam invadindo casas de moradores para se esconder. Durante o dia, as denúncias que chegavam, em sua maioria, mencionavam a fuga de criminosos do Jacarezinho para as comunidades vizinhas e da mesma facção criminosa, o Comando Vermelho.
De acordo com a deputada estadual Renata Souza, as bancadas federal e estadual do PSOL que vão entrar com representação no Supremo Tribunal Federal para pedir esclarecimentos sobre a operação.
Segundo a Policia Civil, a investigação começou após denúncias sobre o aliciamento de crianças pelo tráfico. Quando questionados sobre acompanhamento dessas crianças, os representantes da Defensoria Pública afirmaram que há uma coordenadoria especializada na defesa de crianças e adolescentes, e que qualquer pessoa que precise de atendimento nessa área pode entrar em contato.
Em nota, o Governo do Estado, lamentou as mortes na operação e afirmou que a ação foi pautada e orientada por um longo e detalhado trabalho de inteligência e investigação, que demorou dez meses para ser concluído.