A política brasileira está agitada com os fatos recentes que vieram à tona sobre a chamada “Abin paralela”, suposta estrutura montada sob o governo de Jair Bolsonaro (PL) para espionar, ilegalmente, adversários do então presidente. Na última quinta-feira (11), a Polícia Federal (PF) cumpriu cinco mandados de prisão preventiva por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Entre os presos da quarta fase da Operação Última Milha está o influencer e empresário paranaense Richards Dyer Pozzer. Segundo as investigações, ele era responsável por divulgar conteúdos das vítimas de espionagem, obtidos a partir da estrutura da Agência Brasileira de Investigação (Abin), nas redes sociais, além de repassar relatórios a Bolsonaro.
Para a PF, servidores da Abin responsáveis pela espionagem ilegal, ou seja, sem autorização judicial, alimentavam o perfil de Pozzer, identificado como “@richards_pozzer”. O objetivo era usar os dados dos alvos para fazer “exposed” de quem combatia a desinformação.
Militar alimentava “perfil de maluco”
No relatório da PF, há diálogos que indicam a participação de Pozzer no suposto esquema criminoso. Em uma das mensagens, o militar Giancarlo Gomes Rodrigues classificou o influencer como “maluco” e disse que alimentava o perfil dele na rede X (ex-Twitter), cujas postagens marcavam o vereador Carlos Bolsonaro, apontado como “CB” na conversa.
Segue o perfil do maluco que eu estou alimentando... @richards_pozzer, mas usa uma conta fake, não segue com a sua não... tudo que estou passando ele publica... acabou de publicar mais uma... E está marcando o CB em todas (mensagem de Giancarlo Gomes)
“Linha direta” com Bolsonaro
Na decisão, Moraes ressaltou que o próprio Pozzer confirmou, em conversa com Giancarlo, que tinha acesso ao Palácio do Planalto por meio dos servidores Mateus de Carvalho Sposito e Daniel Ribeiro Lemos.
Inclusive, Richards Dyer Pozzer teria declarado que tinha uma ‘linha direta’ com o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, para encaminhar dossiês (trecho da decisão de Moraes)
O perfil “@richards_pozzer”, citado no relatório da PF, não está mais disponível no X. A rede social destaca que a conta na não existe. Outros perfis que seriam do influencer, “@dyer_pozzer” e “@Pozzer_RP”, são classificados como “suspensos” por descumprimento de regras da plataforma.
Polêmica com Glória Groove
Entre as polêmicas envolvidas, em 2021, Pozzer apontou a cantora Glória Groove como a administradora da conta “@jairmearrependi”, perfil que faz postagens com crítica a Bolsonaro. Por outro lado, o influencer não apresentou provas nem evidências da acusação. A drag queen usou as redes sociais para negar os ataques. Na sequência, o bolsonarista pediu desculpas à artista.
“Queria pedir desculpas à @gloriagroove pela ilação feita através do perfil Kraken. Nossas motivações movidas pelo amor ao Brasil, muitas vezes, acabam nos cegando e induzindo ao erro. Sou uma pessoa aberta ao diálogo e à tolerância às pessoas LGBT”, escreveu Pozzer.
Na mira da CPI da Covid
Pozzer também foi alvo na “CPI da Covid”, uma investigação parlamentar por supostas omissões do governo federal no combate à pandemia. Num pedido de quebra de sigilo bancário, encaminhado à presidência da comissão no Senado, o senador Humberto Costa (PT) argumentou que o influencer disseminava “desinformação que contribuiu para o agravamento da crise sanitária e o aumento da mortalidade”.
Posicionamento da defesa
Um posicionamento da defesa de Pozzer encaminhado à Band nega a ligação do cliente com a prática criminosa e destaca que ele apenas tinha o costume de fiscalizar dados de pessoas públicas e entidades, com base em informações obtidas de forma legal.
“Não há nada além do exercício democrático na realização de pesquisas em portal da transparência de pessoas que devem estar sujeitas à moralidade e probidade administrativa. [Pozzer é] um verdadeiro preso político pelo exercício democrático”, pontuou o advogado Jefferson Chiquini.
Autoridades monitoradas
No que diz respeito à “Abin paralela”, o esquema monitorou jornalistas e autoridades e servidores do Judiciário, Legislativo e Executivo. Além de Pozzer, outro influencer, dois servidores públicos e um militar foram presos pela PF.