
Ao anunciar a libertação de um americano-israelense e a devolução dos restos mortais de quatro outros, também de dupla nacionalidade, o Hamas deixou o primeiro-ministro Benjamim Netanyahu enfurecido e com um difícil dilema.
Se recusar a oferta do Hamas, ele poderá abrir uma crise séria com o presidente Donald Trump. Os cinco são os últimos americanos e israelenses em Gaza. Uma análise no jornal Haaretz desta sexta-feira prevê até mesmo o colapso das negociações de cessar-fogo em Doha, no Catar.
A oferta do Hamas é uma resposta ao diálogo inédito em cerca de 30 anos com o negociador Adam Boehler, enviado da Casa Branca para tratar das questões de reféns. Ele teve vários encontros diretos com o líder do Hamas Khalil al-Hayya. Diante das reações de Israel, o secretário de Estado Marco Rubio declarou que as reuniões “não deram frutos”.
O anúncio do Hamas desta sexta-feira é um “fruto” amargo para o primeiro-ministro Netanyahu. Sua primeira reação foi chamar de volta a equipe israelense às negociações no Catar. Depois, ele convocou ministros para uma consulta ao meio-dia. Ao encerrá-la uma nova reunião foi marcada para sábado à noite.
Desde as primeiras negociações sobre reféns, Israel adotou o princípio de não tratar preferencialmente os que tivessem dupla nacionalidade. Exceção foram três russos-israelenses, soltos em novembro de 2023, depois de negociações diretas entre a Rússia e o Hamas.
A última proposta do enviado de Trump ao Oriente Médio, Steve Witkoff, já aceita por Israel, prevê a libertação de cinco reféns vivos e de um número não específico de mortos, no início de um novo cessar-fogo de 50 dias, e o restante na véspera de vigorar uma paz duradoura marcando o final da guerra. Em Gaza estão 24 reféns vivos e 35 outros mortos.
Netanyahu declarou que, “enquanto Israel tenha aceitado a proposta de Witkoff, o Hamas se mantém firme em rejeitá-la, sem mover um milímetro”. Ele acrescentou: “Isso é manipulação, é guerra psicológica”. O Hamas, por outro lado, acusa Israel de não respeitar o acordo de cessar-fogo, pelo qual seus soldados deveriam ter recuado do Corredor Filadélfia, na fronteira com o Egito.
Witkoff partiu da guerra em Gaza para a guerra na Ucrânia, deixando os negociadores no Catar. Depois de um encontro com o presidente Vladimir Putin ele embarcou para Washington, onde fará um relatório presencial ao presidente Trump. A Casa Branca não reagiu, ainda, a oferta do Hamas de libertar o soldado americano-israelense Edan Alexander, no cativeiro há 17 meses. Os quatro mortos não foram identificados. E não se sabe ainda se se trata de uma troca com prisioneiros palestinos, ou um gesto de boa vontade, um golpe contra Netanyahu, agora diante de uma difícil escolha.