A controversa munição de urânio que EUA prometeram à Ucrânia

Especialistas alertam para riscos de longo prazo para a saúde da população e para o meio ambiente do país. Veja as respostas às principais questões sobre o tema.

Por Deutsche Welle

Em janeiro, os Estados Unidos prometeram à Ucrânia 31 tanques de batalha Abrams. Agora o Pentágono também quer fornecer munições adequadas e de maior impacto. Está planejado um novo pacote de armas para a Ucrânia no valor de 175 milhões de dólares – que também inclui munições de calibre 120 milímetros com urânio empobrecido.

O que é munição de urânio?

A munição de urânio consiste, em grande parte, de urânio empobrecido, que na verdade é produzido como resíduo radioativo durante o enriquecimento de urânio. Neste processo, o urânio natural é separado em duas partes. O urânio enriquecido tem uma proporção maior de U-235 e é usado, por exemplo, em usinas nucleares ou na produção de armas nucleares, também é produzida uma grande proporção de urânio empobrecido, que contém uma parte muito menor desse isótopo radioativo.

No entanto, este urânio tem uma densidade extremamente elevada. Na produção de munição, ele é misturado a outros metais, como titânio ou molibdênio, e envolvido por uma fina camada protetora feita de outro metal, para proteger contra corrosão.

A fraca radioatividade do urânio contido na munição não tem uso militar adicional, mas os projéteis têm um poder de penetração particularmente alto. Seu modo de ação é particularmente traiçoeiro: as balas são tão duras que podem penetrar na superfície externa de um tanque, e a munição é projetada de tal forma que uma ponta permanece quando é deformada por um impacto.

O restante do projétil derrete e libera pó quente de urânio, que se inflama espontaneamente ao entrar em contato com o oxigênio do interior do veículo, queimando viva a tripulação do tanque inimigo. Se o veículo ainda estiver transportando munição ou combustível, também poderá ocorrer uma explosão em seu interior.

Quem possui esse tipo de munição?

Durante a Segunda Guerra Mundial, as Forças Armadas da Alemanha nazista realizou testes com projéteis de urânio. Como o material era escasso e caro, não foi utilizado na guerra. Hoje, sabe-se que 21 países têm esta munição nos seus arsenais, incluindo os EUA, a Rússia, a Turquia e a Arábia Saudita.

No entanto, até agora apenas Washington admitiu ter utilizado esta munição – em operações militares no Iraque, na ex-Iugoslávia, no Afeganistão e na Síria. Só durante a Guerra do Iraque em 2003, centenas de toneladas de munição de urânio foram disparadas.

Diferentemente das armas biológicas, dos agentes de guerra química, das minas antipessoais ou das bombas de fragmentação, as munições de urânio não são proibidas. Não existe nenhum acordo internacional que proíba explicitamente a utilização de urânio empobrecido. No entanto, os especialistas alertam para as possíveis consequências a longo prazo do urânio libertado em grandes quantidades.

Há risco de radiação na área da guerra?

O urânio empobrecido dificilmente pode irradiar diretamente as pessoas nas suas imediações: a sua radioatividade é cerca de 40% mais fraca do que a do urânio natural e a radiação geralmente não consegue penetrar na pele e nas roupas.

A uma distância de um metro, um quilograma de urânio empobrecido produz uma dose anual de radiação que corresponde a cerca de um terço da exposição natural à radiação. No entanto, mesmo essa radiação a curta distância e durante um longo período de tempo pode danificar o material genético e causar câncer.

Ainda mais perigoso é que as pessoas podem ingerir o pó de urânio através do trato respiratório, alimentos ou feridas. Como outros metais pesados, o urânio é quimicamente tóxico e pode causar sérios danos aos órgãos internos.

Quão graves pode ser a consequências a longo prazo?

A questão do perigo a longo prazo para pessoas e natureza é controversa entre os especialistas. No Iraque, segundo um relatório dos Médicos Internacionais para a Prevenção da Guerra Nuclear (IPPNW), houve um aumento significativo de casos de deformidades, câncer e outros danos consequentes nas regiões onde munições de urânio foram utilizadas em grande escala.

No entanto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), não existe nenhum risco radiológico específico para a população civil por causa das munições de urânio. Um parecer encomendado pela Comissão Europeia em 2010 também não vê "nenhuma evidência de riscos ambientais e para a saúde" decorrentes do urânio empobrecido.

Também não está claro até que ponto o solo e os lençóis freáticos podem ser contaminados por esses projéteis. O urânio é altamente suscetível à corrosão; já dentro de apenas cinco a dez anos, as bombas que não explodiram podem enferrujar no solo e libertar urânio nas águas subterrâneas. No entanto, até agora, vários estudos em áreas afetadas só conseguiram detectar um aumento mínimo da concentração de urânio nos lençóis freáticos.

Atualmente não existem estudos confiáveis de longo prazo. Mas eles seriam necessários – o isótopo urânio U-238, encontrado principalmente em munições, tem meia-vida de 4,5 bilhões de anos.

Reação da Rússia

O Kremlin condenou veementemente esse planejado fornecimento pelos EUA de munições de urânio à Ucrâno. A embaixada russa em Washington fala de um "sinal claro de desumanidade" O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alertou para um aumento nas taxas de câncer e outras doenças na Ucrânia, dizendo que a responsabilidade por isso "cabe inteiramente à liderança dos Estados Unidos".

Mas os americanos não são os primeiros a fornecer munições com urânio à Ucrânia. Em março, o Reino Unido prometeu à Ucrânia que forneceria munições de urânio para os tanques de batalha Challenger 2 que foram prometidos. Também naquela época Moscou reagiu com irritação e ameaçou com consequências.

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