Cerca de 30% das mulheres no Brasil já foram ameaçadas de morte por seus atuais ou ex-parceiros, mostra a pesquisa “Percepções da População Brasileira sobre o Feminicídio”, do Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva. O número representa 25,6 milhões de brasileiras.
O levantamento também revelou que 16% – ou 13,7 milhões de mulheres – já foram vítimas de tentativa de feminicídio, que é caracterizado quanto o assassinato ocorre pela condição de gênero da vítima.
A pesquisa também traz outras percepções da população em geral sobre o tema, como o local de maior risco de assassinato para as mulheres. Cerca de 90% acreditam que o principal seja dentro da própria casa.
De acordo com a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo, as mulheres vivem “um pesadelo cotidiano” dentro de seus lares. Ela também afirma que a ameaça de morte traz danos psicológicos “fortíssimos”, além de resultar no assassinato de fato.
“As estatísticas mostram que o momento que a mulher busca sair de uma relação violenta é também o que ela mais corre risco da tentativa de feminicídio, que vem depois da ameaça”, explicou Jacira. “Entre a ameaça e o assassinato não há uma grande distância. É um ambiente muito difícil e desafiador para que as mulheres possam sair.”
Outra informação da pesquisa mostra que 96% dos entrevistados acreditam que a frequência dos casos de feminicídio aumentou durante os últimos cinco anos. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública corroboram essa percepção, principalmente durante a pandemia de covid-19. Nos dois primeiros meses da crise sanitária – março e abril do ano passado –, o número de feminicídios cresceu 22% em relação ao mesmo período de 2019.
E agora?
Para além das informações reveladas pelo levantamento, um dos principais pontos ressaltados pelo Instituto Patrícia Galvão são as possíveis alternativas para que este cenário preocupante seja alterado no Brasil.
Na análise de Jacira Melo, o sentimento de impunidade entre os homens é o principal motivo para que ocorram as ameaças de morte, as tentativas de feminicídio e os assassinatos. “Quem pratica a violência doméstica sabe que é crime, mas continua porque sabe que pode sair ileso.”
E, ainda segundo Jacira, a impunidade também é motivada por falhas na atuação da segurança pública. “Precisamos de políticas que garantam acolhimento das vítimas e a responsabilização dos agressores. É um campo da segurança pública pouco treinado para acolher as mulheres que sofrem violência doméstica ou ameaça”, afirmou.
A pesquisa do Instituto Galvão foi realizada entre os meses de setembro e outubro deste ano com 1.503 entrevistados homens e mulheres, de 18 anos ou mais, em todos os estados do Brasil. A margem de erro, de acordo com o instituto, é de 2,5 pontos percentuais.
Feminicídio no Brasil
Percepção da população sobre o crime no país
- 30% das mulheres adultas já sofreram ameaça de morte de parceiros ou ex-parceiros
- 23% De apenas um parceiro
- 7% De mais de um
A porcentagem representa proporcionalmente 25,7 milhões de brasileiras
Destes 30% das mulheres adultas já sofreram ameaça de morte:
- 57% terminaram o relacionamento
- 34% denunciaram à polícia
- 23% contaram para a família ou amigos
- 12% não fizeram nada ou não levaram a sério
16% das mulheres já sofreram ao menos uma tentativa de feminicídio
O número representa 13,7 milhões de brasileiras
Outras percepções
- 90% da população considera que o local de maior risco de assassinato para as mulheres é dentro de casa
- 96% da população acredita que a frequência dos casos de feminicídio aumentou nos últimos cinco anos
- 93% dos brasileiros concordam que a ameaça de morte é uma forma de violência psicológica tão ou mais grave que a violência física.
- 49% acreditam que a mulher corre mais risco de sofrer feminicídio quando ela decide terminar a relação
- 57% dos brasileiros conhecem alguma vítima de ameaças de feminicídio
- O número representa 91,2 milhões de pessoas
- 41% da população conhece um homem que já ameaçou de morte a atual ou ex-parceira A porcentagem representa 65,6 milhões de pessoas
- 37% dos brasileiros conhecem ao menos uma mulher que sofreu tentativa ou foi vítima de feminicídio
O número representa 59,2 milhões de pessoas
Fonte: Pesquisa “Percepções da população brasileira sobre o feminicídio”, do Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva com apoio do Fundo Canadá