Eram 8h30 quando Alfred Herrhausen embarcou em seu carro rumo ao escritório. Às 8h33 seu veículo blindado, escoltado por guarda-costas, foi alvo de um atentado a bomba. Alfred Herrhausen, 59 anos de idade, casado, dois filhos, era o presidente do mais importante banco alemão, o Deutsche Bank, na época com um balanço da ordem de 300 bilhões de marcos, 1,2 mil filiais e 250 mil acionistas.
Durante muito tempo os investigadores tatearam no escuro, sem qualquer pista dos criminosos, até que a Fração do Exército Vermelho (RAF, na sigla em alemão), que nos anos 1970 praticou uma série de atentados na então Alemanha Ocidental, enviou uma carta assumindo a autoria do ato terrorista.
"No dia 30 de novembro nós executamos o chefe do Deutsche Bank, Alfred Herrhausen. Através da história do Deutsche Bank alastram-se as manchas de sangue de duas guerras mundiais e muito dinheiro confiscado. Quem dava continuidade a este processo era Herrhausen, que estava no topo do poder da economia alemã. Ele era o mais poderoso líder financeiro da Europa," dizia a carta da RAF.
Só dois anos após o episódio é que surgiram as primeiras pistas concretas dos prováveis autores do crime. Siegfried Nonne, um viciado em drogas e antigo informante do serviço secreto do estado de Hessen, confessou sua participação no atentado, revelando ao procurador-geral, Alexander von Stahl, o nome dos mandantes, que seriam membros da Fração do Exército Vermelho.
"Agora sabemos com certeza que Andrea Klump e Cristoph Seidler participaram do atentado e conhecemos também o primeiro nome e a descrição física de outros dois envolvidos, Stefan e Peter", revelou Stahl.
Banqueiro poderoso
Pouco depois da confissão, Nonne desmentiu seu depoimento. Para piorar a situação, o suspeito Christoph Seidler apresentou-se à Justiça e foi solto no mesmo dia por insuficiência de provas. Mas quem, além da RAF, teria interesse em matar o banqueiro?
Alfred Herrhausen frequentou uma escola de elite e era um exímio jogador de hóquei. No campo profissional, era tido como poderoso e audacioso. Três dias antes de sua morte, ele comprou o banco de investimentos britânico Morgan Grenfeld por 2,7 bilhões de marcos.
No mundo bancário internacional, Herrhausen não colecionava simpatias. Sua defesa notória de um perdão das dívidas externas aos países mais pobres do Terceiro Mundo não era bem vista no meio financeiro.
Sua conduta não gerava novas amizades. Mas teria o alemão um inimigo mortal no setor bancário internacional? Os boatos corriam aos quatro ventos, alimentados principalmente pelo estilo administrativo de Herrhausen.
Nenhum outro banco internacional tinha tanta garantia em seus empréstimos financeiros aos países em desenvolvimento quanto o Deutsche Bank. Em outras palavras, o banco alemão seria capaz de suportar o perdão de parte da dívida externa, defendida por Herrhausen, sem sofrer abalos financeiros. Alguns bancos americanos, por exemplo, teriam ido à falência se tivessem adotado a estratégia.
Desde o fracassado atentado contra o secretário-adjunto do Ministério das Finanças em Bonn, Hans Tietmeyer, no outono de 1987, a RAF não se manifestava. Na ocasião, o serviço secreto alemão-ocidental classificou o comportamento de "calmaria antes da tempestade". Por conseguinte, não teve dúvidas quanto à veracidade da carta da RAF assumindo a autoria do atentado contra Herrhausen.
Autor: Gerda Gericke (ms)