No jornal Völkischer Beobachter (Observador Popular), os nazistas publicavam as chamadas listas de expatriados. Os nomes de Thomas Mann, sua mulher e seus filhos mais novos constavam da lista de número 7. Dos mais velhos – Erika e Klaus – a cidadania alemã já havia sido retirada.
Para Thomas Mann, a situação não causava surpresa: "Certamente eu desafiei a cólera dos detentores do poder. Não apenas nos últimos anos, através da minha distância e da expressão de meu horror a eles. Muito antes disso, eu enfrentei esse desafio porque precisava; pois, antes da burguesia alemã desesperada de hoje, eu já havia percebido há muito quem e o que subia ao poder".
Thomas Mann sabia exatamente do que falava, por ter ele próprio apoiado por muito tempo ideias conservadoras, nacionalistas e antiparlamentares, tendo passado a defender posições democráticas somente durante a República de Weimar (1919–1933).
Em 1930, Thomas Mann fez em Berlim um discurso, apelando "à razão alemã" e também para que a burguesia e as forças socialistas rejeitassem o fanatismo fascista. Suas palavras foram interrompidas por tumultos organizados pela polícia nazista e o escritor foi obrigado a abandonar o recinto pela porta dos fundos.
Decisão de não voltar ao país
A tomada de poder por Adolf Hitler surpreendeu Mann durante uma viagem de palestras pela Holanda, Bélgica e França. Ele decidiu então não retornar mais à Alemanha. Ali começava seu exílio duradouro. "Não sonhei e não cantaram em meu berço que eu acabaria passando meus melhores dias como emigrante, banido de casa e condenado a um indispensável protesto político. Nasci mais para ser representante do que para ser mártir", confessou.
Por muito tempo ainda, Mann continuou tentando, através de seu silêncio, evitar uma ruptura definitiva com o país e a quebra do contato com o público alemão. Apenas em 1936 ele tomou uma posição clara em relação ao regime. A gota d'água foi um texto publicado pelo diário suíço Neue Zürcher Zeitung que tentava imprimir a Mann traços antissemitas.
Silenciar perante o mal irreparável?
Somente então Mann quebrou definitivamente seu silêncio: "Um escritor alemão, acostumado à responsabilidade através da língua, deve agora silenciar? Silenciar absolutamente perante o mal irreparável, que no meu país foi e é praticado em corpos, almas e espíritos, no direito e na verdade, na humanidade e na pessoa? Não foi possível. E assim vieram as manifestações de minha parte contra o programa nazista. Minhas posições contrárias a ele ficaram inevitavelmente claras, tendo levado ao absurdo e ridículo ato de meu expatriamento".
Após ter perdido a nacionalidade alemã em 2 de dezembro de 1936, Mann permaneceu por algum tempo na Suíça, emigrando mais tarde para os Estados Unidos. O Ministério de Esclarecimento Popular e Propaganda do regime nazista anunciava em janeiro de 1937: "Thomas Mann deve ser apagado da memória de todos os alemães, por não ser digno de carregar o nome de alemão".
Indignado, o escritor declarou a respeito dos nazistas: "Acusam-me de ter insultado a Alemanha ao ter-me declarado contra ela? Eles têm a incrível ousadia de querer se confundir com a Alemanha. Talvez não esteja longe o dia em que o povo alemão vá preferir qualquer coisa menos ser confundido com eles".
Autor: Rachel Gessat