Zagallo morre aos 92 anos no Rio de Janeiro

Uma das maiores lendas do futebol, o “Velho Lobo” foi campeão em quatro Copas e fez história

Redação

O tetracampeão mundial Mário Jorge Lobo Zagallo morreu aos 92 anos no Rio de Janeiro. A informação oficial foi feita por meio das redes oficiais do tetracampeão. A informação foi confirmada pela assessoria dele no início da madrugada deste sábado (6). O “Velho Lobo” estava internado no Hospital Copa D'Or, na capital fluminense, desde o fim de 2023 e teve falência múltipla de órgãos. 

A última aparição de Zagallo foi no dia 1º de setembro do ano passado, quando ele recebeu alta hospitalar. Zagallo tratava, naquela época, uma infecção urinária e ficou 22 dias internado.

Infância e começo no futebol

Zagallo nasceu na cidade de Atalaia, em Alagoas, no dia 9 de agosto de 1931, mas só ficou no estado alagoano por 8 meses. Sua família se mudou para o Rio de Janeiro por causa do trabalho e, na então capital do Brasil, ele cresceu e construiu sua vida.

Desde os tempos de escola, Zagallo mostrava que era diferente e poderia brilhar no futebol. Apesar disso, seu pai, Aroldo, fez com que o filho entrasse para o curso de Contabilidade, para ajudá-lo na fábrica de tecidos da família. Mas seu irmão, Fernando, convenceu o pai a deixar o irmão seguir o sonho no futebol.

Sócio do América-RJ, clube do seu coração, Zagallo iniciou a carreira no próprio clube, disputando as divisões amadoras. 

Se tornou atleta profissional aos 17 anos, com a camisa do América, em 1948. Pela equipe conquistou o seu primeiro título, o Torneio Início de 1949.

Zagallo era ala esquerdo, mas se destacava pela sua habilidade técnica e velocidade, sendo considerado um jogador à frente de seu tempo por conseguir desempenhar um bom papel defensivo e ofensivo.

Zagallo no Flamengo

Por ter se destacado no América-RJ, Zagallo foi contratado pelo Flamengo em 1950 e conquistou o tricampeonato carioca (1953, 1954 e 1955). Em 205 jogos (128 vitórias, 38 empates e 39 derrotas) marcou 29 gols no Rubro-Negro. 

Pelo clube, ele chegou na Seleção Brasileira e disputou a Copa do Mundo de 1958, conquistando o primeiro mundial do Brasil, na Suécia. 

Logo após, Zagallo deixou o Flamengo, a contragosto, segundo uma entrevista dada para o livro "Mário Jorge Lobo Zagallo: Entre o Sagrado e o Profano, uma história de vida".

Proposta do Palmeiras, escolha pelo Botafogo e idolatria

Com a saída do Flamengo, Zagallo recebeu diversas propostas. Entre elas, da Portuguesa-SP e do Palmeiras. Ainda de acordo com depoimento dado pelo Velho Lobo no livro ele não aceitou se mudar por causa de sua esposa. Alcina, que era professora, perderia as aulas se o casal fosse para São Paulo. 

 "Eu não queria sair do Flamengo. O Fleitas Solich (técnico) e o diretor Fadel vieram até minha casa e conversaram comigo. Me lembro até hoje das palavras que disse: 'Eu não estou querendo sair, eu já tinha proposto a vocês que eu daria o meu passe em troca de um emprego na Caixa Econômica', que era a minha garantia de futuro. 'Eu estou jogando, mas estou pensando sempre em frente e até hoje vocês não me ouviram'. Aí veio a Portuguesa-SP me oferecendo 3 milhões, o Palmeiras oferecendo 5 milhões, e eu acabei aceitando ir para o Botafogo por 3 milhões. Por quê? Porque o Botafogo era um time bom, além disso minha mulher era professora e ela ia perder todas as aulas dela se eu fosse para São Paulo", disse.   

A decisão se mostrou acertada nos anos seguintes. Pelo clube da estrela solitária, Zagallo foi bicampeão carioca (1961 e 62), além de conquistar o Torneio Rio-São Paulo duas vezes, em 1962 e 64.

Foi um dos principais nomes em um dos times históricos da equipe alvinegra, ao lado de Garrincha, Didi e Nilton Santos. Até que decidiu se aposentar dos gramados, em 1965.

Zagallo treinador

Meses após se aposentar como jogador, Zagallo decidiu dar início a sua carreira de treinador e passou a comandar a equipe juvenil do Botafogo em 1966.

No ano seguinte, passou a comandar o time principal do Botafogo e foi bicampeão carioca, nos anos de 1967 e 1968 e campeão da Taça Brasil, atualmente considerado o Campeonato Brasileiro, também em 68.

Em 1969, deixou a equipe carioca para ser treinador da Seleção Brasileira e comandar o Brasil na conquista do tricampeonato de 1970, no México.

Volta ao Rio de Janeiro para treinar o Fluminense e o Flamengo 

Após conquistar mais uma Copa do Mundo, dessa vez como treinador, Zagallo voltou ao Rio de Janeiro para treinar o Fluminense e mais uma vez conquistar o Campeonato Carioca, em 1971.

No ano seguinte, trocou o Tricolor das Laranjeiras pelo Flamengo, sendo campeão carioca no mesmo ano.

Foi no Rubro-Negro, inclusive, que Zagallo conquistou seu último título como treinador. Foi em 2001, na extinta Copa dos Campeões. No mesmo ano, foi campeão carioca.

Zagallo ainda treinou o Vasco, em 1980, tendo comandado todos os grandes do Rio, mas sem o mesmo sucesso.

 Seleção Brasileira e o maior campeão do mundo

Zagallo é, até hoje, o recordista em conquistas da Copa do Mundo, sendo tetracampeão mundial. As primeiras duas conquistas foram como jogador, em 1958 e 1962, sendo um dos destaques do Brasil nos dois títulos.

Em 1970, já como treinador, comandou o Brasil ao tricampeonato, com uma Seleção que é considerada por muitos uma das melhores de todos os tempos e a última Copa de Pelé.

Na Copa do Mundo de 1994, fez parte da comissão do treinador Carlos Alberto Parreira, como auxiliar técnico, para ajudar o Brasil a quebrar um tabu de 23 anos sem conquistar um título mundial.

Zagallo ainda comandou a Seleção Brasileira em mais duas Copas, as de 1974 e 1998, sendo vice-campeão na última.

Seu último título com a amarelinha foi a Copa América de 2004, novamente como auxiliar de Parreira.

Ao todo foram 35 jogos pela Seleção Brasileira, sendo 29 vitórias, 4 empates e 2 derrotas. Já como treinador foram 135 jogos, com 99 vitórias, 26 empates e 10 derrotas.

Número 13

Comumente associado ao azar, o número treze sempre teve uma grande ligação com Zagallo, que supersticioso, sempre considerou o número como da sorte e o número o “perseguiu” durante toda a carreira. 

A origem da ligação de Zagallo com o número 13 se deve à sua esposa, devota de Santo Antônio, celebrado no dia 13 de junho, e o seu casamento ter sido realizado no dia 13 de janeiro de 1955.

Aparições do número 13 na trajetória de Zagallo:

  • 1958 e 1994 são anos cuja soma dos últimos dois dígitos (5+8 e 9+4) dá treze.
  • A edição da Copa do Mundo em 62 foi no Chile (5 letras): 6 + 2 + 5 = 13.
  • A edição da Copa do Mundo em 70 foi no México (6 letras): 7 + 0 + 6 = 13.
  • O Mundial de 1958 foi realizado no Reino da Suécia: 13 letras.
  • A semifinal da Copa de 58 foi a 13ª vitória do Brasil em Copas
  • Em 1962, Zagallo completava 13 anos de carreira como jogador profissional.
  • Em 1979, no décimo terceiro ano como treinador, foi campeão saudita com o Al-Hilal.
  • Em 1962 e 1994, a Seleção disputou a semifinal em 13 de junho e 13 de julho, respectivamente.
  • O nome de Roberto Baggio, que perdeu o pênalti que decretou o tetra em 94, possui 13 letras.
  • A palavra “tetracampeões” possui 13 letras.
  • Fez sua primeira partida pelo Botafogo no dia 13 de julho de 1958: 2 a 1 sobre o Fluminense.
  • Seu 13º jogo pela Seleção foi sua maior vitória com o Brasil: 7 a 0 no Chile, em 1959.
  • A estreia na vitoriosa Copa América de 1997 foi em 13 de junho: 5 a 0 contra a Costa Rica.
  • Em 97 conquistou a Copa das Confederações FIFA na “Arábia Saudita”: 13 letras.
  • Em 1967, estreou como treinador do Botafogo e conquistou o Campeonato Carioca: 13 letras
  • Em 1967, estreou como treinador do time principal do Glorioso e conquistou o Campeonato Carioca: 6 + 7 = 13.
  • Em 2004, o Brasil conquistou a Copa América sobre a Argentina. “Brasil campeão”: 13 letras. “Argentina vice”: 13 letras.

Trabalho fora do futebol

Em 2005, Zagallo foi um dos três jurados do reality show esportivo Joga 10, transmitido pela Band. Além de Zagallo, o programa contava com a participação dos ex-jogadores Dunga e Bebeto.

No programa, crianças que nunca tiveram oportunidades no mundo do futebol eram avaliadas pelos três campeões do mundo e o vencedor ganharia um estágio de 15 dias na categoria sub-15 do Corinthians.

Mais de 40 mil crianças se inscreveram para participar do reality show e 43 passaram para a segunda fase, até que 22 garotos foram selecionados para o período de testes no programa.

O vencedor do reality foi Luan Andrade Santana, que atualmente defende o Gama, de Brasília.

Casamentos e filhos

Zagallo foi casado com Alcina de Castro Zagallo por 57 anos. Os dois se conheceram quando o Velho Lobo ainda estava começando a carreira, no Flamengo, e se casaram no dia 13 de janeiro de 1955.

No início do relacionamento, Zagallo escondeu sua profissão da família de Alcina, devido a má fama que os jogadores tinham na época.

Alcina sempre foi a confidente de Zagallo e soube do corte de Romário, às vésperas da Copa de 98, em primeira mão, dando uma bronca no marido pela decisão.

O casal teve quatro filhos, o primeiro foi Paulo Jorge de Castro Zagallo, nascido em 1958, e seguiu a carreira do pai, sendo treinador de equipes como o Botafogo, Goiás, América-RJ e outros.

Além de Paulo, Zagallo e Alcina tiveram Maria Emilia de Castro Zagallo, Mário César Zagallo e Maria Cristina de Castro Zagallo.

Títulos e honrarias de Zagallo:

Como jogador:

Flamengo:

  • Campeonato Carioca: 1953, 1954 e 1955
  • Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo: 1955

Botafogo:

  • Campeonato Carioca: 1961 e 1962
  • Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo: 1961
  • Rio-São Paulo: 1962 e 1964

Seleção Brasileira:

  • Copa do Mundo FIFA: 1958 e 1962
  • Taça Oswaldo Cruz: 1958, 1961 e 1962
  • Taça Bernardo O’Higgins: 1959 e 1961
  • Taça do Atlântico: 1960

Como treinador:

Flamengo:

  • Campeonato Carioca: 1972 e 2001
  • Copa dos Campeões: 2001

Botafogo:

  • Campeonato Carioca: 1967 e 1968
  • Campeonato Brasileiro: 1968

Fluminense:

  • Campeonato Carioca: 1971

Al-Hilal:

  • Campeonato Saudita: 1979

Seleção Saudita:

  • Copa da Ásia: 1984

Seleção Brasileira:

  • Copa do Mundo FIFA: 1970 e 1994 (como auxiliar técnico)
  • Taça Independência: 1972
  • Copa Umbro: 1995
  • Jogos Olímpicos: Medalha de Bronze em 1996
  • Copa América: 1997 e 2004 (como auxiliar técnico)
  • Copa das Confederações: 1997 e 2005 (como auxiliar técnico)

Prêmios Individuais:

  • Melhor Treinador do Mundo da IFFHS em 1997
  • 9º Melhor Treinador de Todos os Tempos da Wold Soccer em 2013
  • 27º Melhor Treinador de Todos os Tempos da FourFourTwo em 2020

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