Em meio à crise política devido ao avanço da extrema direita na França com as eleições parlamentares, jogadores da seleção francesa tem usado a Eurocopa como vitrine para se posicionar contra o partido “Reagrupamento Nacional”, liderado pela candidata à presidência do país nas eleições de 2022, Marine Le Pen.
Presidente da França desde 2017, Emmanuel Macron dissolveu o parlamento francês no dia 9 de junho. Com isso, Macron convocou novas eleições para os dias 30 de junho e 7 de julho, após o seu partido, "Renascimento", ser superado pela oposição de extrema direita nas eleições parlamentares europeias, motivando reações também dos jogadores franceses.
“A situação é muito, muito grave”, disse o centroavante Marcus Thuram, de 26 anos, durante coletiva antes da estreia da França na Eurocopa. “Temos que dizer a todos para irem votar e que lutem diariamente para evitar uma vitória do RN [sigla do partido de extrema direita ‘Reagrupamento Nacional’]”, completou o jogador da Internazionale.
Outro a se manifestar contra o “Reagrupamento Nacional” foi a grande estrela do elenco francês, Kylian Mbappé.
O atacante, que vai defender o Real Madrid a partir da próxima temporada, chegou a afirmar que o avanço da extrema direita “é triste” e que é preciso “lutar para que o Reagrupamento Nacional não passe”.
“Compartilho dos mesmos valores que Marcus. Espero que minha voz seja transmitida para o máximo possível de pessoas. Precisamos nos identificar com valores de tolerância, respeito e diversidade. Que façamos a escolha certa e tenhamos orgulho de vestir esta camisa no dia 7 de julho [data do segundo turno das eleições]”, disse Mbappé também em coletiva de imprensa pela Seleção Francesa.
Mas essa não é a primeira vez que jogadores da seleção francesa se manifestam politicamente. Um dos maiores nomes do futebol francês, Zinedine Zidane, filho de pais argelinos, se recusava a cantar o hino do país.
Michel Platini, Ribery, Karembeu e Karim Benzema, que também tem origem argelina, que até 1962 era uma das colônias francesas, também não cantavam o hino.
Isso porque o hino francês - A Marselhesa - é um hino de guerra, que servia de estímulo aos soldados que combatiam na fronteira do país e falava sobre o sangue de estrangeiros ser “impuro”, muitas vezes acusado de ser xenófobo.
“Às armas, cidadãos / formai vossos batalhões / marchemos, marchemos / que um sangue impuro / banhe nosso solo”, diz trecho do hino, que foi adotado pela extrema direita na sua luta contra imigrantes.
Um dos focos do partido Reagrupamento Nacional (RN) é o controle imigratório, que facilitaria a deportação de imigrantes, principalmente de países africanos.
Segundo o INSEE (Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos da França), em 2022, pouco mais de 10% da população francesa era formada por imigrantes. Em 1946, esse número era 5%, em 1975 chegou a 7,4% e em 2010 era de 8,5%.
No elenco convocado para a disputa da Eurocopa, 17 dos 25 jogadores possuem origens de outros países, sendo a maioria descendentes de africanos.
Com a vitória do partido Reagrupamento Nacional (RN), no primeiro turno das eleições parlamentares francesas [33% dos votos contra 28% da Nova Frente Popular, bloco de partidos de esquerda], jogadores do elenco francês devem voltar a se posicionar para tentar uma virada no segundo turno, que acontece no dia 7 de julho.
Apesar do posicionamento dos jogadores da seleção francesa, o presidente da Federação Francesa de Futebol, Philippe Diallo, preferiu destacar que a seleção é "neutra" no debate político e que "pertence ao povo francês", mas que os atletas possuem "liberdade de expressão".
O treinador Didier Deschamps também comentou sobre as manifestações de seus atletas e disse que além de jogadores de futebol, eles são cidadãos.
"Eles são jogadores de futebol, mas sobretudo cidadãos. Não tenho nenhum conselho a dar aos meus jogadores. Eles têm suas opiniões e sua própria sensibilidade", disse o treinador em entrevista à rádio francesa FranceInfo.