Time vegano aposta em ex-Corinthians e ex-Palmeiras: "Nosso objetivo é Série A até 2032"

Laguna, do Rio Grande do Norte, é SAF, só oferece comida vegana para os jogadores e contará com França e Bill no elenco

Por Allan Brito

França e Bill
França e Bill (Foto: Laguna/ Daniel Augusto Jr.)

O Rio Grande do Norte tem um time cheio de curiosidades: o Clube Laguna já nasceu como SAF (Sociedade Anônima do Futebol), é adepto do veganismo e tem a meta de chegar na Série A do Brasileirão até 2032. Neste ano, em busca do acesso no campeonato estadual, o time também chamará atenção por ter dois jogadores que já passaram por grandes clubes de São Paulo: o atacante Bill, ex-Corinthians e Santos, e o volante França, ex-Palmeiras, vão disputar a 2ª divisão potiguar pelo time de Tibau do Sul (RN).

O veganismo é um estilo de vida que exclui todas formas de exploração dos animais, dentro do possível, inclusive na alimentação. Então o Laguna só oferece comida vegana dentro do clube. Fora do trabalho, os jogadores podem comer o que quiserem. Gustavo Nabinger, um dos 3 sócios do clube, é vegano e explicou ao Band.com.br que não quer impor o veganismo: "A gente não quer obrigar nenhum jogador a ser vegano. A gente quer mostrar que é possível. A gente quer mostrar por que faz sentido. Mas a gente não obriga. Às vezes o cara está muito acostumado a consumir carne de origem animal e vai comer fora do clube. A gente não vai impedir. A única regra é que, do portão para dentro, não pode entrar nada de origem animal".

Ele conta que alguns jogadores já se renderam ao veganismo por causa da dieta do clube: "Mangabeira, que era nosso capitão, já tinha interesse e falou 'vou testar'. Ficou mais de três meses aqui 100% vegano. Tivemos o Gabrielzão, que nos primeiros meses não era vegano. Ele saiu emprestado para um clube de Rondônia, onde a pecuária é muito forte. Tinha churrasco com frequência no clube. Quando ele voltou, falou 'percebi que meu desempenho era melhor aqui'. Ainda que não fosse 100% vegano aqui, ele sentia que a recuperação dele e a disposição dele eram melhores. E falou que ia ficar vegano até o final do contrato".

Os mais desavisados podem achar a falta de carne vai enfraquecer os atletas. Mas existem diversos esportistas de alto rendimento que são veganos, como Marta (futebol), Lewis Hamilton (automobilismo), Kyrie Irving (basquete) e Novak Djokovic (tênis), entre outros.

Gustavo entende que o Laguna ajuda a acabar com tabus porque traz o veganismo para o centro do debate: "Quando tu debate sobre um assunto, o errado tem a oportunidade de mudar o pensamento. Então, quando a pessoa fala sobre o veganismo, que ‘sem carne, vai morrer de cansaço, não vai ter força’, é a oportunidade que a gente tem de provar: 'Hamilton é vegano. Olha o nível de exigência que tem a competição de Fórmula 1. O Djokovic é vegano. Olha o nível de exigência que tem o tênis. Ele é talvez o melhor tenista da história. Enfim, em qualquer assunto, quando tem o preconceito, você traz informação, a pessoa vai refletir sobre aquilo e tem uma oportunidade de mudar o pensamento dela".

Além da alimentação, o Laguna adota o veganismo em outras áreas, como nos produtos de limpeza e nos uniformes. Mas não é possível ser 100% vegano. O veganismo dita que é preciso seguir essa ideia “dentro do possível”, então o Laguna entende que é aceitável fazer algumas exceções. “A bola do campeonato eu não tenho como escolher. É da competição. Se tem origem animal de alguma forma, não tenho como evitar isso”, exemplifica Gustavo.

Resultados em campo

O Laguna foi fundado em 2022, quando estreou na 2ª divisão potiguar. Ficou em 2º lugar. Apenas um time subiu - naquele ano o campeão foi o tradicional Alecrim. "Com o time que montamos em 2022, se tivesse sido em qualquer outro ano, teríamos subido com tranquilidade. Foi bem equilibrado", comenta Gustavo.  

Em 2023, o Laguna terminou em 4º lugar. "Ano passado a gente montou um time muito técnico, com caras que tinham uma formação muito boa na base. Não deu liga, infelizmente. É uma competição que não adianta o cara ser técnico se não botar o pé para competir. Estamos aprendendo".

Agora o Laguna tenta subir para a elite porque tem uma meta estipulada desde o começo: “Nosso objetivo é chegar na Série A do Brasileiro até 2032. Tem bons exemplos aí. O Amazonas chegou na série B em 4 anos. O Maringá chegou na série C em 4 anos, no projeto atual. Tem casos mostrando que é possível. A gente está construindo a base, estamos fazendo a fundação".

Comunidade extra-campo

Quando criou o time, Gustavo tinha uma preocupação importante: engajar a comunidade local em prol do projeto. É um diferencial, pois muitos clube-empresas não possuem esse cuidado.  O Laguna tem apenas 2 anos, mas Gustavo entende que tem conseguido avançar nessa ideia. E chama atenção para o potencial do veganismo atrair uma grande torcida.

O Brasil tem 26,4 milhões de pessoas que se declaram veganas ou vegetarianas. Qual clube tem o potencial de ser pelo menos o segundo time dessa população? Nós. É uma identificação natural que pode acontecer e converter isso em recurso

Atualmente o Laguna sobrevive com investimentos de recursos próprios dos donos, mas Gustavo planeja ir ao mercado em busca de mais investimentos na SAF e também projeta um plano de sócio-torcedor que envolva os veganos e vegetarianos: “A gente é uma potência, ainda adormecida, em termo de geração de receita. Se 1% desse público (26,4 milhões), faz um plano de sócio-torcedor a R$ 6 de média, estamos falando de 264 mil pessoas. Seria o maior plano de sócio-torcedor do Brasil”.

Novidades para 2024

Contratar veteranos não é uma novidade para o Laguna. Gustavo destaca que, em outras temporadas, o time já tinha apostado em outros jogadores de grande rodagem, mas dessa vez as contratações de França e Bill chamaram mais atenção.

O volante foi revelado pelo Noroeste e jogou pelo Palmeiras em 2014. Depois começou a rodar por clubes do Sul ao Norte e enfrentou algumas polêmicas por indisciplina. Mas de acordo com Gustavo, França está bem diferente agora, aos 33 anos.

"Ele tinha um extra-campo um pouco complicado e, nos últimos cinco anos, virou a chave. Virou evangélico, casou, tem família e tudo. Tudo aquilo que ele errou, no início da carreira, ele trouxe de experiência para aconselhar os jogadores. A gente trouxe para agregar na parte técnica e no extra-campo".

Bill se destacou pelo Bragantino em 2009 e foi contratado pelo Corinthians. Fez poucos jogos, mas depois teve boa fase no Coritiba e jogou em outros times grandes, como Santos e Botafogo. De 2017 a 2024 ele jogou na Tailândia. E agora, aos 40 anos, foi "encontrado" pelo Laguna.

"O Bill também é um cara super família. Do extra-campo não tem o que falar. Ele estava há 8 anos na Tailândia. Voltou e não sei dizer por que ele acabou não se empregando aqui. Talvez as pessoas não lembrassem ou não soubessem que ele estava disponível. Ele não tem empresário. Talvez pelo salário. Ele trabalhou com alguns amigos meus da Tailândia, então foi muito fácil tirar informação e entrar em contato com ele. Ele adorou o projeto e falou 'eu me sinto super bem, me cuido bastante e quero continuar jogando'".

De acordo com o Gustavo, o Laguna está entre as principais folhas salariais do campeonato desde que foi fundado. Mas o nível da competição tem evoluído. Em 2024, a segunda divisão do Campeonato Potiguar terá outras SAFs: o Rio Grande e o Quinho Futebol Clube. Parnamirim e Univap também estão na briga por um acesso com o Laguna. O campeonato começa neste sábado (21), mas a estreia do Laguna será no domingo (22), contra o Rio Grande, às 15 horas.

Tópicos relacionados

Mais notícias

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.