Se é de fé que o Atlético-MG precisa, ele terá. Pedro Henrique, torcedor fanático do Galo, vai repetir crença de 2013 para que seu time possa erguer a taça da Libertadores pela segunda vez no próximo sábado, 30, diante do Botafogo, na Argentina.
Mas antes de ver seu time vencer a maior competição da América, Pedro precisou passar por perrengues no Paraguai, dignos de quem tem a fé no Galo como algo maior. Leia abaixo a saga de Pedro em Assunção contada pelo próprio:
"A culpa vai ser minha"
Quando o Galo foi para a Libertadores, eu falei: “olha, onde o Galo for, eu vou, até a final. Não quero saber, eu vou”. Eram tempos difíceis, mas aí o Galo foi passando de fase e eu repetindo: “Olha… Eu vou ter que ir nessa final, hein?”. Quando chegou na final, eu falei: “Nossa Senhora, e agora, o que eu faço?”
Comecei a olhar a passagem, tudo muito caro, difícil para ir.
São 11 anos. Naquele tempo as coisas eram um pouco mais difíceis do que hoje. O acesso já não era tão fácil. E cheguei a pensar em falar que não iria, estava muito caro, muito complicado. Mas eu falei: “Eu fiz essa promessa, eu não posso fazer isso com milhões de atleticanos, porque se eu não for, o Galo não vai ser campeão e a culpa vai ser minha, então eu tenho que ir".
Com muita dificuldade, consegui arrumar dois amigos para ir comigo. Conseguimos comprar as passagens, fomos, chegamos lá. Dois dias antes do jogo, era um clima muito amistoso, todo mundo tirando várias fotos com os torcedores do Olímpia.
Mas o dia do jogo foi mais complicado.
Para ir para o estádio, a gente já teve muita dificuldade. Saindo do hotel rumo ao o jogo, passou uma van de torcedores do Olímpia. Eles mexeram com a gente, pararam e saíram correndo atrás de nós. Tivemos que correr para conseguir entrar em um hotel.
Pegamos um táxi, conversamos com o motorista e pedimos: “Deixa a gente na torcida do Atlético?”.
“Tranquilo”, ele disse.
Quando chegou ao estádio, ele parou no meio da torcida do Olímpia e falou: “Pode descer”.
A gente reagiu: “não tem como, a gente não pode descer aqui”. Começamos a ficar preocupados, e ele: “Ah não, mas eu peguei o caminho errado, não tem como ir mais para frente e não tem como voltar, vocês têm que descer aqui’. Falamos: “Aqui a gente não desce!”.
Os torcedores do Olímpia cercaram o carro, começaram a balançar o táxi e xingar, ameaçando. No início foi dando aquele desespero, até que um dos torcedores do Olímpia foi na polícia e avisou o que estava acontecendo. Os policiais escoltaram a gente e conseguimos descer do carro.
Mas isso era do lado oposto ao da entrada do Galo. Tivemos que dar a volta no estádio com os policiais escoltando. Isso com todo mundo xingando, tacando bebida, garrafa de plástico, copo... O que tinha eles tacavam.
Ainda teve bafômetro para entrar! Por sorte, o meu irmão me ligou no dia e lembrou: “Não bebe porque tem bafômetro para entrar no estádio”.
Fizemos o teste e entramos. Tranquilos.
Ficamos bem posicionados, bem na frente. Eu tinha levado uma faixa com a frase assim: “Mãe, eu te amo, mas se o Galo for campeão, eu te penhoro para ir para Marrocos”. Saímos até na revista especial da Libertadores do Galo.
Isso já era por volta das 15h30 ou 16h, e o jogo era só às 21h30. Estava aquele calor, um sol muito forte. Quando a gente subiu para ir ao banheiro, vimos que não tinha uma divisão clara da torcida do Olímpia para a nossa. Então ir ao banheiro também ficou complicado. Falei para eles: “Nem toma água aqui, porque não dá para a gente ir ao banheiro”.
Ficamos lá, vimos o jogo e foi daqueles 2 a 0 bem, bem doloridos mesmo.
Para sair do estádio, outra peleja.
A polícia não deixava a gente sair. Ficamos lá até muito tarde. Quando liberaram já era mais de 1 hora da manhã. E para ir embora não tinha estrutura. Era um estádio bem precário, e ao redor, também.
Não tinha táxi, não tinha ônibus.
Se o Atlético tivesse ganhado esse jogo, Nossa Senhora!, eu acho que eu não tinha nem tinha conseguido voltar. Porque num certo momento, para ir embora, a gente já estava junto com a torcida do Olímpia. Mas como eles ganharam de 2 a 0, estavam muito confiantes. Já era festa. Eles estavam fazendo festa de campeão mesmo. Eles fizeram passeata na cidade com réplica de taça, comemorando o título, que já eram campeões. Aí deu uma aliviada.
E depois que passou, conseguimos empatar aqui e sermos campeões nos pênaltis. Aí eu falo, graças a Deus que o Galo não ganhou esse jogo lá.
Eu brinco com a minha mãe que, se dependesse dela, eu nunca tinha ido nem para a praia. Por ela eu não teria ido ao jogo. Mas quando eu decidi ir, meu pai falou: "Você vai mesmo? Você quer ir mesmo"? Eu falei: "Pai, é mais que querer, é promessa. Já disse: não posso decepcionar milhares de atleticanos, eu tenho que ir".