José “Pelé” Landy-Jons, para muitos um dos maiores lutadores de Vale Tudo da história, com certeza uma lenda dos primórdios do MMA (Mix Marcial Arts) no Brasil, vai lutar com o Acelino Popó Freitas, Super Tetracampeão Mundial Unificado de Boxe, maior boxeador brasileiro em conquistas. O evento no dia 25 de setembro será na “casa” de Pelé, em Curitiba, na Arena da Baixada.
O Fight Music Show foi lançado em janeiro deste ano, em moldes internacionais que misturam shows musicais e apresentações de lutadores consagrados e personalidades. No lançamento, o evento exibiu a luta de Popó com o influenciador Whindersson Nunes.
No mundo do MMA, Pelé é muito conhecido, visto como o difusor do Vale Tudo de Curitiba, cidade brasileira que revelou outros grandes lutadores por meio do Muay Thai adaptado pela academia Chute Boxe, como Anderson Silva, Wanderley Silva, os irmãos Murilo “Ninja” e Maurício “Shogun” Rua, Cris “Cyborg”, Rafael Cordeiro, entre tantos outros.
Em entrevista ao Band Jornalismo, Pelé falou de histórias que compartilhou com esses grandes lutadores; seus treinadores, como Fábio Noguchi; adversários, como Jorge Patino “Macaco” e Johil de Oliveira; a rivalidade entre ele e Anderson Silva; o UFC (Ultimate Fighting Championship) e outros eventos, além dessa grande luta de apresentação que terá com Popó.
O evento é visto por muitos como “justiça” à história de Pelé, considerado o lutador que abriu caminho a uma geração de grandes lutadores de Curitiba fazendo história no mundo da luta.
Cubano
Terceira geração de uma família de lutadores, filho de um boxeador, Pelé nasceu em Cuba, em 1973, e veio ao Brasil com sua família por meio de um programa de repatriação da ONU (Organização das Nações Unidas), no início da década de 1980.
Já em Curitiba, se interessou primeiro pela capoeira, da academia Muzenza, até conhecer o Muay Thai da academia Chute Boxe. “Fiquei apaixonado pelo uniforme da Chute Boxe, que era preto com umas estrelas brancas. Meu pai era amigo de todo mundo, ele fazia sparring com todo mundo, era muito popular. Então, as academias sempre foram abertas para mim”, lembra.
“Eu jovem, 16 anos, a gente nem pensa em nada, né? Meu mestre era o Fábio Noguchi – ele é tremendo, um grão-mestre, ele me treinou duas semaninhas, direto e já me apresentei (para um campeonato). Só que quando eu me apresentei, eles vieram. A Chute Boxe era dividida em duas, tinha a de São Francisco, que era o Fábio Noguchi que dava aula, onde eu era aluno dele, e tinha a central do grão-mestre Rudimar (Fedrigo), com seus “tops”, que era Rafael Cordeio, (Sérgio) Cunha com sua joelhada mortal, o Rafael Cordeiro com todo aquele design do real Muay Thai (...)”, conta.
Grandes adversários
Daí em diante Pelé venceu outras lendas do esporte, como Matt Hughes, Pat Miletich, Evangelista Cyborg, Alexander Shlemenko e Jorge Patino. Também obteve duas vitórias sobre Anderson Silva nas regras do Muay Thai.
Ex-parceiros de treino, Anderson e Pelé cortaram relação desde o lançamento da biografia do ex-campeão do UFC, em 2012. No livro, Anderson afirma que Pelé deu um banho nele e em sua filha ao passar sobre uma poça d’água com uma caminhonete, versão negada pelo lutador de origem cubana.
“A relação com o Anderson hoje é de mútuo respeito, por uma crença, pelas artes marciais. Não é legal esse trash talking”, aponta.
“Eu fui o número 1. O número 1 de tudo, na verdade, fui eu. Eu que fiz a estrada, eu que fiz a ponte. Eu desenhei a cidade. Até ele mesmo, na época que eu tinha sido campeão mundial de kick boxe, houve o desafio dele. Não teria por que eu dar o desafio, mas como ele vinha do mestre Noguchi."
"Fui campeão mundial pela Iska (International Sport Karate Association) e eles falaram que ‘o que vale é Curitiba, é territorial (queriam uma luta local), ‘e tem esse menino aqui, o Anderson, que é o cara que está vindo esmerilhando, que está pedindo o direito de se apresentar. E aí fizemos esse combate”, lembra.
Ambos se enfrentaram duas vezes, com duas vitórias de Pelé.
Pelé foi o primeiro lutador a apresentar um jogo agressivo e irreverente, usava muito bem os joelhos e cotovelos, criando um estilo que foi copiado por muitos posteriormente. Os estilos de Pelé e Anderson são semelhantes.
“Hey” Pelé
Nas academias, dizem que ele criou o grito de guerra que motiva lutadores até hoje e, por isso, é também conhecido como “Hey Pelé”. “Heeey”, reproduz o campeão.
“É um estilo meio cubano, com o ‘Ouei’, do Muay Thai tradicional. É para dar ritmo na hora do combate eu ficava soltando. Hoje em dia vejo até o Macaco (Jorge Patino, adversário histórico de Pelé e hoje treinador da Chute Boxe em São Paulo) gritano ‘hey, hey’. Pô, além de tomar dois ‘pau’ meu, entra na minha academia, que eu que dei ritmo na escola do Vale Tudo e ainda vejo ele no corner gritando ‘hey’."
"Ele nem sabe que fui eu que inventei isso”, diz aos risos. “Mas é só uma brincadeira, viu, Jorge Patino? Você continue, porque você é bem enérgico e essa é a ideia mesmo. Dar ritmo para o seu lutador”, pondera.
Popó
Depois de ver seus sucessores ganhando o mundo em torneios cada vez mais sofisticados, como UFC, que sagrou Anderson, Wanderlei e Shogun campeões, Pelé almejava um grande evento que destacasse seu protagonismo no mundo da luta. A apresentação com Popó deve preencher essa pendência histórica.
“Vivendo o meu sonho. Tudo isso foi pedido, tudo isso foi desejado. Queria que viesse antes, mas o dono do tempo é só Deus. O Popó, eu sou fã dele”, comemora.
Pelé afirma que depois do evento, quando já terá 49 anos, ainda pretende participar de outras grandes lutas.