Nobre detona Leila e acusa presidente de simular alegria com Palmeiras

Ex-presidente do Verdão publicou extensa carta aberta respondendo atual mandatária, que deu diversas declarações polêmicas em coletiva. Resposta teve acusações, ironia e citação de música de Chico Buarque contra a ditadura militar

Da Redação

Um dia depois da polêmica entrevista coletiva da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, o ex-mandatário do Verdão Paulo Nobre publicou extensa carta aberta nesta quinta-feira (12) para responder a dirigente e empresária.

Nobre fez duras críticas a Leila, apontou contradições e conflitos de interesse, pela condição de presidente e patrocinadora, criticou a postura da dirigente diante das torcidas organizadas e rebateu a tese de que, se não fosse o investimento da Crefisa, o Palmeiras teria voltado à Série B durante o mandato de Nobre.

“Ao ver sua infeliz entrevista coletiva, Senhora Presidente, vossa senhoria me fez chorar. De indignação, de nojo e de raiva, por ver o Palestra ser humilhado em rede nacional por uma dirigente sem noção que não tem ideia do que é ser palmeirense”, dispara Nobre.

“Sua arrogância e soberba culminaram na tentativa de reescrever os fatos, falando que só não fomos rebaixados em 2014 por ajuda de outro clube. Não me surpreende esta sua fala, já que a senhora não conhece mesmo quase nada das nossas dores e glórias, uma vez que descobriu que o Palmeiras existe há menos de dez anos”, continua.

“De tanto ser chamada de ‘dona’ Leila Pereira, a senhora deve ter achado, em seus devaneios, que é agora dona.. do Palmeiras. Algo que não é e, se Deus quiser, jamais será”, afirma, com ironia.

Alegria “simulada”

Em trecho em que coloca em dúvida o sentimento de palmeirense de Leila, Nobre diz ter sentido “vergonha alheia” por episódios envolvendo a presidente, e cita os vídeos em que a dirigente promove, nas palavras do ex-mandatário, “aparições histéricas, pulando e simulando uma alegria falsa em vitórias do Palmeiras”.

Em tom irônico, Nobre diz que o verdadeiro amor de Leila não é o Palmeiras, mas a Crefisa, que teve unidades pichadas com dizeres contra a dirigente e o diretor de Futebol do Verdão, Anderson Barros, após a eliminação na Libertadores.

“Curioso notar que não foi a dor do palmeirense com a eliminação da Libertadores em casa, há uma semana, que lhe fez vociferar. Foram pichações às lojas da sua empresa que te tiraram do costumeiro e cômodo sumiço em tempos de derrotas. O que mexeu com seus brios foi a ameaça à sua verdadeira e maior paixão, a Sociedade Anônima Crefisa”, afirmou.

“O seu dinheiro pode comprar muita coisa, mas a senhora nunca será uma de nós de verdade”, disse Nobre.

Ao rebater a tese de que o Verdão estaria na Série B caso não tivesse o patrocínio da Crefisa e da FAM, empresas de propriedade de Leila, Nobre afirma que o Palmeiras “não foi fundado em 2015”.

“Dizer que, antes da senhora e das suas empresas aqui chegarem, vivíamos apenas de sofrimento fala muito mais sobre sua ignorância rotineira do que sobre nossa trajetória”, declara.

“Conflito de interesses”

Nobre criticou também o que chamou de falta de “escrúpulo” por usufruir do apoio da mesma torcida organizada que combate atualmente, e falou em “memória seletiva” ao apontar conflito de interesses por ser presidente e patrocinadora.

“Em sua memória seletiva como dirigente/patrocinadora, que não consegue enxergar conflito de interesses por estar com dois chapéus ao mesmo tempo, a senhora se esqueceu de dizer que por quase oito anos usufruiu sem nenhum escrúpulo do apoio da uniformizada que que agora passou a atacar. Os iludiu com falsas promessas e não aceitou ser cobrada posteriormente”, disse.

Chico Buarque

No fim da carta, Nobre cita a música “Apesar de Você”, que Chico Buarque escreveu como crítica à ditadura militar.

“O que me consola hoje é saber que nada é para sempre e que, cedo ou tarde, voltaremos a ter um palmeirense de verdade neste cargo tão importante. Depois da senhora, e apesar da senhora, o Palmeiras continuará sendo o Palmeiras”.

Leia a carta de Paulo Nobre para Leila Pereira na íntegra:

Carta aberta à senhora Leila Pereira

Senhora Presidente,

Vossa Senhoria e todos os palmeirenses sabem que me recolhi ao papel de simples torcedor depois de renunciar ao cargo de conselheiro vitalício da Sociedade Esportiva Palmeiras, em 2018, para não ter que conviver mais com pessoas como a senhora e sua turma.

Em silêncio, nestes seis anos e meio desde que deixei o cargo de presidente, a maior honraria e o maior desafio da minha vida, verti lágrimas de alegria e sofrimento com os títulos conquistados e as duras derrotas em campo.

Mas ontem, ao ver sua infeliz entrevista coletiva, Senhora Presidente, vossa senhoria me fez chorar. De indignação, de nojo e de raiva, por ver o Palestra ser humilhado em rede nacional por uma dirigente sem noção que não tem ideia do que é ser palmeirense.

Ontem, o Palmeiras sofreu um enorme ataque de quem tem o dever, moral e de ofício, de defendê-lo. Não sei se a senhora alcança isso. Provavelmente não!

Sua arrogância e soberba culminaram na tentativa de reescrever os fatos, falando que só não fomos rebaixados em 2014 por ajuda de outro clube.

Não me surpreende esta sua fala, já que a senhora não conhece mesmo quase nada das nossas dores e glórias, uma vez que descobriu que o Palmeiras existe há menos de dez anos.

Em vários outros momentos de sua ainda inexpressiva gestão como presidente, o sentimento que a senhora gerou em mim e na família palmeirenses foi apenas o de vergonha alheia.

Como por exemplo quando simulou estar ensinando jogadores a bater pênaltis ou quando serviu água ao elenco, como aeromoça, no seu caríssimo avião. Isso para não falar de suas aparições histéricas, pulando e simulando uma alegria falsa em vitórias do Palmeiras.

Em outras oportunidades, a senhora apenas gerou desconfiança sobre sua capacidade de liderar, com seu habitual silêncio nas eliminações de competições importantes ou quando proibiu todo o elenco de dar entrevistas sem nenhum motivo plausível.

Mas ontem a senhora passou de todos os limites, senhora Presidente. E tenho certeza de que o sentimento que gerou, em mim e em milhões de pessoas, foi de asco e revolta mesmo.

O Palmeiras não foi fundado em 2015. Dizer que, antes da senhora e das suas empresas aqui chegarem, vivíamos apenas de sofrimento fala muito mais sobre sua ignorância rotineira do que sobre nossa trajetória.

Ao contrário do que a senhora quer fazer crer, a história de luta e conquistas desta família não começou quando as suas empresas passaram a ser patrocinadora da paixão de milhões de pessoas, coletividade da qual a senhora não faz parte. O seu dinheiro pode comprar muita coisa, mas a senhora nunca será uma de nós de verdade.

Me permita, senhora presidente, contar um pouco da história do clube que vossa senhoria preside. Sem a Crefisa na camisa, já éramos o maior campeão do Brasil. Havíamos pintado a América de verde e branco. Nos vingamos do Maracanazzo e nos tornamos o primeiro campeão mundial de clubes, em 1951. Representamos a Seleção brasileira em 1965, entre tantos outros feitos que a senhora demonstra desconhecer. Sofremos várias vezes, sim. Mas sempre demos a volta por cima com altivez. E sua petulante praga de que voltaremos à segunda divisão quando a senhora pegar suas bolsas caríssimas e sair do cargo de presidente, ah essa praga não vai pegar!

Apesar de não conhecer quase nada da nossa história, a senhora já deve ter ouvido que explicar a emoção de ser palmeirense a um palmeirense é totalmente desnecessário. E explicar essa emoção para a senhora, que não nasceu Palestra, é simplesmente impossível. O orgulho de SER PALMEIRENSE SEMPRE E EM QUALQUER SITUAÇÃO precede a emoção de ser campeão! Difícil para senhora entender, não é?!

Tenha o mínimo de decoro e decência, senhora presidente. Respeite a Sociedade Esportiva que lhe tirou do anonimato. Honre e respeite o privilégio de ter em suas mãos o poder de representar este clube centenário, que é a razão de viver de milhões de pessoas.

Veja trechos da entrevista coletiva de Leila Pereira

De tanto ser chamada de “dona” Leila Pereira, a senhora deve ter achado, em seus devaneios, que é agora dona.. do Palmeiras. Algo que não é e, se Deus quiser, jamais será.

Em sua memória seletiva como dirigente/patrocinadora, que não consegue enxergar conflito de interesses por estar com dois chapéus ao mesmo tempo, a senhora se esqueceu de dizer que por quase oito anos usufruiu sem nenhum escrúpulo do apoio da uniformizada que que agora passou a atacar. Os iludiu com falsas promessas e não aceitou ser cobrada posteriormente.

Curioso notar que não foi a dor do palmeirense com a eliminação da Libertadores em casa, há uma semana, que lhe fez vociferar. Foram pichações às lojas da sua empresa que te tiraram do costumeiro e cômodo sumiço em tempos de derrotas. O que mexeu com seus brios foi a ameaça à sua verdadeira e maior paixão, a Sociedade Anônima Crefisa.

Senhora presidente, vossa excelência é muito vivida e deve saber que, mesmo sendo muito rica, não conseguirá comprar a admiração dos palmeirenses. Isso se conquista. Dinheiro, mesmo em enorme quantidade, também não compra berço. Não compra educação. Não compra postura. Não compra idolatria. E, principalmente, não comprará o nosso respeito.

Como me aposentei da política do clube e não tenho nenhum objetivo que não seja desejar o melhor para o meu time de coração, seguirei aqui torcendo para que sua gestão enfim encontre um rumo e devolva a alegria e o orgulho aos palmeirenses.

O que me consola hoje é saber que nada é para sempre e que, cedo ou tarde, voltaremos a ter um palmeirense de verdade neste cargo tão importante. Depois da senhora, e apesar da senhora, o Palmeiras continuará sendo o Palmeiras.

“Hoje você é quem manda

“Falou, ‘tá falado

Não tem discussão, não

A minha gente hoje anda falando de lado

E olhando pro chão, viu”

Apesar de você, amanhã há de ser outro dia’

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