O técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, encerrou a entrevista coletiva após a conquista do título do Paulistão, neste domingo (4), dizendo que o Verdão é “o time da virada, o time do amor”. A menção se deu pela forma como o Palmeiras faturou o caneco, com uma goleada de 4 a 0 sobre o São Paulo, após derrota no jogo de ida por 3 a 1.
“Eu não sabia que existia essa canção, 'o time da virada, o time do amor'. Eu agradeço a todas as pessoas que trabalharam para criar uma música, mas ela já existia na história do nosso clube. Agarrem-na, é disso que nós precisamos”, disse Abel, para quem a música “bateu dentro do treinador e nos jogadores”.
O cântico em questão, entoado pelos palmeirenses, é, na verdade, uma criação antiga, da década de 1970. Nasceu no Carnaval e ganhou as arquibancadas do Maracanã e São Januário. Trata-se do samba-enredo da Beija-Flor de Nilópolis daquele ano, “A criação do mundo na tradição Nagô”.
O enredo, de temática afro, foi assinado pelo aclamado carnavalesco Joãosinho Trinta.
Já o samba leva a assinatura do interprete Neguinho da Beija-Flor – começando na escola -, Gilson Dr. e Mazinho.
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Vascaínos adotam
A Beija-Flor conquistou o tricampeonato naquele ano e se consolidou como uma das grandes escolas de samba emergentes do Rio de Janeiro. No futebol, o samba entrou para o repertório da torcida do Vasco.
Acredita-se que a estreia do samba aconteceu em 9 de setembro de 1979, após uma vitória de virada do Vasco justamente sobre o Flamengo de Neguinho da Beija-Flor, por 4 a 2.
Outra versão é de que a primeira vez foi bem depois, em 29 de maio 1988, segundo o então presidente da Torcida Organizada do Vasco (TOV), Jorginho, contou ao Globoesporte.com em 2016. Na ocasião, o Vasco venceu o Fluminense por 2 a 1. De virada, claro.
“O Vasco é o time da virada. O Vasco é o time do amor. Ererê, ierê, ierê ôôô, ôooo”, canta até hoje a torcida vascaína quando o time precisa de uma virada.
No samba, o trecho é “Iererê, ierê, ierê ôôô. Travam um duelo de amor. E surge a vida com seu esplendor”.
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Apesar de ser adotada pelos vascaínos, Neguinho da Beija-Flor sempre disse que se orgulha do fato do samba ser cantado há mais de 40 anos pelos rivais.
“É especial. Ficou para a história, foi o primeiro tricampeonato. Agradeço ao Vasco por ter imortalizado o samba. De 1978 para cá são 38 anos [a entrevista é de 2016], e o Vasco não deixou o samba morrer. Como bom flamenguista e fã de futebol, agradeço à torcida do Vasco pela imortalidade”, declarou Neguinho ao repórter Felipe Schmidt, do ge.com.
Ouça o samba e veja a letra de “A criação do mundo na tradição Nagô” – Beija-Flor, 1978:
“Baioou no ar
O ecoar de um canto de alegria
Três princesas africanas
Na sagrada Bahia
Iyá-Kalá, Iyá-Detá, Iyá-Nassô
Cantaram assim a tradição nagô
Olorun, senhor do infinito,
Ordena que Obatalá
Faça a criação do mundo
Ele partiu, desprezando Bará
E no caminho, adormecendo, se perdeu
Odudua
A divina senhora chegou
E ornada de grande oferenda ela transfigurou
Cinco galinhas d'Angola e fez a terra
Dos pombos brancos criou o luar
Um camaleão dourado
Transformou em fogo
Os caracóis do mar
Ela desceu, em cadeia de prata,
Em viagem iluminada,
Esperando Obatalá chegar
Ela é rainha,
Ele é rei e vem lutar
(Iererê)
Iererê, ierê, ierê ôôô
Travam um duelo de amor
E surge a vida com seu esplendor