Time do amor: Canto adotado por Abel é samba e integra repertório vascaíno

Música que embalou virada do Palmeiras sobre o São Paulo é inspirada em samba campeão da Beija-Flor de 1978

Da Redação

O técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, encerrou a entrevista coletiva após a conquista do título do Paulistão, neste domingo (4), dizendo que o Verdão é “o time da virada, o time do amor”. A menção se deu pela forma como o Palmeiras faturou o caneco, com uma goleada de 4 a 0 sobre o São Paulo, após derrota no jogo de ida por 3 a 1.

“Eu não sabia que existia essa canção, 'o time da virada, o time do amor'. Eu agradeço a todas as pessoas que trabalharam para criar uma música, mas ela já existia na história do nosso clube. Agarrem-na, é disso que nós precisamos”, disse Abel, para quem a música “bateu dentro do treinador e nos jogadores”.

O cântico em questão, entoado pelos palmeirenses, é, na verdade, uma criação antiga, da década de 1970. Nasceu no Carnaval e ganhou as arquibancadas do Maracanã e São Januário. Trata-se do samba-enredo da Beija-Flor de Nilópolis daquele ano, “A criação do mundo na tradição Nagô”.

O enredo, de temática afro, foi assinado pelo aclamado carnavalesco Joãosinho Trinta.

Já o samba leva a assinatura do interprete Neguinho da Beija-Flor – começando na escola -, Gilson Dr. e Mazinho.

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Vascaínos adotam

A Beija-Flor conquistou o tricampeonato naquele ano e se consolidou como uma das grandes escolas de samba emergentes do Rio de Janeiro. No futebol, o samba entrou para o repertório da torcida do Vasco.

Acredita-se que a estreia do samba aconteceu em 9 de setembro de 1979, após uma vitória de virada do Vasco justamente sobre o Flamengo de Neguinho da Beija-Flor, por 4 a 2.

Outra versão é de que a primeira vez foi bem depois, em 29 de maio 1988, segundo o então presidente da Torcida Organizada do Vasco (TOV), Jorginho, contou ao Globoesporte.com em 2016. Na ocasião, o Vasco venceu o Fluminense por 2 a 1. De virada, claro.  

“O Vasco é o time da virada. O Vasco é o time do amor. Ererê, ierê, ierê ôôô, ôooo”, canta até hoje a torcida vascaína quando o time precisa de uma virada.

No samba, o trecho é “Iererê, ierê, ierê ôôô. Travam um duelo de amor. E surge a vida com seu esplendor”.

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Apesar de ser adotada pelos vascaínos, Neguinho da Beija-Flor sempre disse que se orgulha do fato do samba ser cantado há mais de 40 anos pelos rivais.

“É especial. Ficou para a história, foi o primeiro tricampeonato. Agradeço ao Vasco por ter imortalizado o samba. De 1978 para cá são 38 anos [a entrevista é de 2016], e o Vasco não deixou o samba morrer. Como bom flamenguista e fã de futebol, agradeço à torcida do Vasco pela imortalidade”, declarou Neguinho ao repórter Felipe Schmidt, do ge.com.

Ouça o samba e veja a letra de “A criação do mundo na tradição Nagô” – Beija-Flor, 1978:

“Baioou no ar

O ecoar de um canto de alegria

Três princesas africanas

Na sagrada Bahia

Iyá-Kalá, Iyá-Detá, Iyá-Nassô

Cantaram assim a tradição nagô

Olorun, senhor do infinito,

Ordena que Obatalá

Faça a criação do mundo

Ele partiu, desprezando Bará

E no caminho, adormecendo, se perdeu

Odudua

A divina senhora chegou

E ornada de grande oferenda ela transfigurou

Cinco galinhas d'Angola e fez a terra

Dos pombos brancos criou o luar

Um camaleão dourado

Transformou em fogo

Os caracóis do mar

Ela desceu, em cadeia de prata,

Em viagem iluminada,

Esperando Obatalá chegar

Ela é rainha,

Ele é rei e vem lutar

(Iererê)

Iererê, ierê, ierê ôôô

Travam um duelo de amor

E surge a vida com seu esplendor

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