O título de Gabriel Casagrande na temporada 2024 escreveu um capítulo importante na história da Stock Car. A partir de 2025, o público da principal categoria do automobilismo brasileiro verá os pilotos a bordo de SUVs, e não mais dos históricos sedãs.
A mudança foi anunciada no fim de 2023 e reflete o novo cenário do mercado automotivo do Brasil. Segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos), os SUVs representavam 42% dos novos veículos colocados no mercado naquele ano. Em 2010, eram apenas 7%.
Na origem, com o apoio da Chevrolet, a Stock Car surgiu como alternativa à antiga Divisão 1 no topo da pirâmide do automobilismo nacional. Com ela, veio também o Chevrolet Opala, que reinou absoluto entre 1979 e 1993.
A temporada 2025, para quem se acostumou a ver os sedãs na Stock Car, mar o fim de uma era. Afinal, foi a bordo de modelos como o Opala, o Omega e o Vectra que foram vividas algumas das maiores emoções do automobilismo nacional.
“Boa parte das minhas corridas no automobilismo foi com veículos sedã. Na Stock Car, por exemplo, foram cinco títulos, sendo os quatro brasileiros e um internacional, em Portugal, no Estoril, quando levei as duas provas do Grão-Pará. Foram momentos inesquecíveis e só posso sentir muitas saudades desse tipo de carro”, afirmou Paulo Gomes, campeão da primeira temporada da Stock Car (1979) e dono de outros três títulos (1983, 1984 e 1995).
“As minhas grandes memórias são os Opalões, carros muito mais difíceis de pilotar em relação aos atuais porque eram dotados de câmbio manual. Fazíamos o punta-taco, técnica necessária quando se pilota carros com câmbio manual. Não tínhamos direção hidráulica, então precisávamos bombar o pedal de freio com o pé esquerdo. Era uma pilotagem muito mais raiz”, declarou também Ingo Hoffmann, maior vencedor da história da categoria, com 12 títulos e 77 vitórias.
Os rivais do Opalão
A história dos carros da Stock Car corre lado a lado com a evolução da indústria automotiva no Brasil.
A categoria começou a correr em 1979 com o Chevrolet Opala, que ganhou novas versões nas pistas em 1987 e 1990. Apoiadora de primeira hora, a Chevrolet promoveu novos carros na categoria: o Omega (1994 a 1999), o Vectra (2000 a 2003 e 2009 a 2011) e o Astra (2004 a 2008).
Em 2000, com a entrada do Chevrolet Vectra, a Stock Car deixou de usar carros de rua adaptados e adotou um projeto próprio, baseado em chassi tubular específico para competição, fabricado pela JL, empresa de Zeca Giaffone – que, por sua vez, havia sido campeão da categoria em 1987.
A partir de 2005, a Stock Car passou a ser uma categoria multimarcas, e a Mitsubishi introduziu o modelo Lancer como rival do Chevrolet Astra. Outras montadoras seguiram o caminho: vieram o Volkswagen Bora em 2006 e o Peugeot 307 Sedan em 2007. A marca alemã deixou o grid no fim de 2007, enquanto a francesa seguiu até o fim de 2016.
A Chevrolet seguiu firme, com os modelos Sonic (2012 a 2015) e Cruze (2016 a 2024). Neste intervalo, ganhou a companhia do Toyota Corola (2020 a 2024). A partir de 2025, com a entrada dos SUVs, as montadoras estarão nas pistas da Stock Car com os modelos Chevrolet Tracker e Toyota Corolla Cross. De quebra, a temporada marca a volta da Mitsubishi, que terá o Eclipse Cross na Pro Series.
Confira a linha do tempo dos veículos da Stock Car:
- 1979 a 1993: Chevrolet Opala
- 1994 a 1999: Chevrolet Omega
- 2000 a 2003: Chevrolet Vectra
- 2004: Chevrolet Astra
- 2005: Chevrolet Astra e Mitsubishi Lancer
- 2006: Chevrolet Astra, Mitsubishi Lancer e Volkswagen Bora
- 2007: Chevrolet Astra, Mitsubishi Lancer, Volkswagen Bora e Peugeot 307 Sedan
- 2008: Chevrolet Astra, Mitsubishi Lancer e Peugeot 307 Sedan
- 2009 a 2010: Chevrolet Vectra e Peugeot 307 Sedan
- 2011: Chevrolet Vectra e Peugeot 408 Sedan
- 2012 a 2015: Chevrolet Sonic e Peugeot 408 Sedan
- 2016: Chevrolet Cruze e Peugeot 408 Sedan
- 2017 a 2019: Chevrolet Cruze
- 2020 a 2024: Chevrolet Cruze e Toyota Corolla
- 2025: Chevrolet Tracker, Toyota Corolla Cross e Mitsubishi Eclipse Cross
Entusiasmo
No início, os próprios pilotos admitiram que estranharam a chegada dos SUVs. Mas, em pouco tempo, a novidade ganhou adeptos, e chega bastante celebrada ao fim de 2024.
“Particularmente adorei a adoção dos SUVs. São carros que têm muito apelo para o público em geral e, particularmente, gosto muito desses veículos”, destacou Ingo Hoffmann.
“Espero que essa nova era SUV nos traga grandes disputas. Os carros da categoria toda serão fabricados pela mesma empresa, bem como os motores. Acho que isso vai trazer uma grande segurança para os pilotos, que vão poder mostrar novamente sua capacidade, agora com outro tipo de carro”, acrescentou Paulo Gomes.
Entre os pilotos do grid atual, a novidade também é bem-vinda.
“Inovar sempre é muito importante para a Stock Car e para o automobilismo de forma geral. Nós vemos nas ruas a febre dos SUVs, então acho que a população gosta bastante desse tipo de carro. Será uma grande transição, mas acho que será muito positivo para a Stock Car. Talvez no início as pessoas possam estranhar um pouco. Mas, certamente, esse é o caminho e o futuro da categoria”, analisa Ricardo Maurício, da Eurofarma RC.
“O mundo todo tem seguido o caminho de trazer mais tecnologia ao carro, e não é diferente com a Stock Car. O modelo atual está um pouco defasado no aspecto tecnológico, então vamos conseguir estar mais próximo do fã com essa nova geração que está chegando”, acrescentou Gaetano di Mauro, da Cavaleiro Sports.